Uma casa de um bairro periférico de Assunção, a capital do Paraguai
JORGE ADORNO/REUTERS
ONU alertou para as consequências das mudanças no clima que este fenómeno provoca: dezenas de milhões de pessoas em todo o planeta vão enfrentar a fome e a doença.
São as piores cheias em 50 anos as que estão a devastar vastas regiões do Uruguai, Argentina, Brasil e Paraguai. A causa deste desastre natural é a chuva, que cai torrencialmente há vários dias, e na origem desta está o El Niño, Há povoações inteiras submersas devido à subida dos rios e 150 mil pessoas já estão desalojadas. Outros danos estão por apurar, mas um é certo — as colheitas perderam-se e serão muitos mais os que vão precisar de ajuda alimentar, para não passarem fome.
O Paraguai já declarou o estado de emergência em oito regiões inundadas. A capital, Assunção, é banhada pelo rio Paraguai e as suas águas estão a 30 centímetros de transbordar, segundo apurou a BBC.
Na Argentina esperava-se que o Presidente Mauricio Macri fizesse o mesmo — este domingo, sobrevoou Concordia, viu que um quarto da cidade está debaixo de água, e convocou o Gabinete de Crise, diz o jornal Clarín.
No Brasil — a Presidente Dilma Rousseff também visitou as áreas mais afectadas — a previsão metereológica diz que os próximos dias já serão secos, mas no Paraguai, Argentina e Uruguai a chuva deve continuar a cair, adensando a catástrofe.
"Nunca houve uma cheia como esta", disse ao Clarín o presidente da câmara de Concordia, Enrique Cresto. "O rio ainda vai subir mais 40 centímetros".
"[As cheias] estão directamente relacionadas com o fenómeno El Niño que intensificou a frequência e a intensidade da chuva", explicou, em comunicado, o gabinete de emergências do Paraguai.
O El Niño é um fenómeno climático que, de dois em dois anos, aquece as águas do Pacífico — estendendo este efeito para Sul e para Norte do continente americano. Ao aquecer as águas, diz a explicação da BBC, provoca alterações no padrão dos ventos e o clima muda drasticamente. O El Niño tem consequências em todo o globo. Em algumas zonas, chove torrencialmente, noutras ocorrem outros fenómenos como tempestades ou furacões, como a que se formou em Outubro ao largo do Golfo do México e que foi classificado com o mais forte alguma vez registado no Ocidente — ao chegar a terra perdeu força, não provocando a destruição que se temia.
Em Novembro, um relatório da agência das Nações Unidas para o clima, Organização Mundial de Metereologia (OMM), dizia que 2015 foi um ano em que o planeta sofreu, de uma forma muito intensa, os efeitos do El Niño, que poderá causar danos até à Primavera de 2016. Os efeitos do El Niño, sublinhava o relatório, podem ser os mais graves dos últimos 15 anos. A agência alertava para os efeitos a médio prazo das cheias, secas, tempestades e outros fenómenos meterológicos provocados por ele, que podem provocar calamidades nos países mais vulneráveis na América Latina, África e Ásia. Acresce a estas mudanças a eclosão de surtos de doenças — dengue, cólera, malária — e os fogos florestais.
"As secas severas e cheias devastadoras que vão ocorrer nas regiões tropicais e sub-tropicais terão a marca do El Niño, que é o mais forte dos últimos 15 anos", disse o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud.
Este especialista explicou, quando o relatório foi apresentado, que o fenómeno está também a afectar as temperaturas, fazendo-as subir (este ano foram registados alguns recordes). "O planeta mudou dramaticamente por causa das mudanças no clima e estamos em território desconhecido", disse Jarraud. "O El Niñoestá a acelerar o processo pois interage com as alterações no climaprovocadas pela acção humana, o que provoca mudanças nunca vistas".
Um dos pontos mais sensíveis do relatório diz respeito às consequências a curto e médio prazo dos efeitos do El Niño. A mais dramática é a possibilidade de algumas regiões do planeta enfrentarem a fome, devido à destruição das colheitas com as cheias e as secas, assim como à falta de água para os animais. Em Novembro, a ONU emitiu um alerta para a situação de catástrofe humanitária na Etiópia onde a seca, atribuída ao El Niño, deixou 8,2 milhões de pessoas sem alimentos — o número duplicou em seis meses. O alerta dizia que outras populações do sudeste africano enfrentavam (ou vão enfrentar) um cenário idêntico. Na África do Sul há cidades que já racionam a água (Joanesburgo, por exemplo) e há gado a morrer de sede.
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