terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Líder pró-curdo pode responder em tribunal por defender autonomia

Primeiro-ministro turco diz que líder do Partido Democrático do Povo insultou o país ao defender "a resistência legítima contra as políticas que degradam a questão curda".
Selahattin Demirtas é acusado de ser um "peão" dos rebeldes do PKK BERTIL ERICSON/AFP
Um dos líderes do Partido Democrático do Povo (HDP) vai ser alvo de um inquérito pelo Ministério Público da Turquia por ter defendido a criação de um Estado autónomo para os curdos. As declarações de Selahattin Demirtas, proferidas durante um congresso, no domingo, levaram o primeiro-ministro turco a acusá-lo de ser um "peão" dos rebeldes curdos do PKK.
"A resistência vai terminar com uma vitória, e toda a gente irá respeitar a vontade do povo. A partir de agora, os curdos vão comandar o seu destino na sua própria região. Por estes dias, quando começa a emergir um momento histórico, o nosso povo irá decidir se prefere viver numa ditadura ou em liberdade, sob a tirania de um homem ou em autonomia", disse Selahattin Demirtas, segundo o jornal turco Hurryet, perante vários grupos pró-curdos que se reuniram no domingo na província de Diyarbakir, no Sudeste da Turquia.
Na sequência dessas declarações, o primeiro-ministro da Turquia, Ahmet Davutoglu, afastou o HDP do processo de revisão constitucional em curso e acusou Demirtas de ter proferido comentários "insultuosos".
Na declaração final do encontro das formações pró-curdas, citada pela agência Reuters, afirma-se que a "resistência legítima é essencialmente uma exigência e uma luta pela auto-governação e pela democracia local", contrariando a política oficial de Ancara de se opor à autodeterminação do povo curdo.
"Se eles pensam que eu vou tolerar os seus insultos, estão enganados. Ou assumem uma postura séria, e encontrarão a nossa porta aberta, ou vamos pô-los na ordem", ameaçou o primeiro-ministro da Turquia, afastando o HDP das negociações com vista a uma revisão constitucional.
O Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), do primeiro-ministro Davutoglu e do Presidente Recep Tayyip Erdogan, venceu as eleições antecipadas realizadas em Novembro mas não obteve deputados suficientes para alterar sozinho a Constituição. O objectivo do AKP é virar o país para um sistema político presidencialista, mas conta com a resistência dos outros três partidos com assento parlamentar – o CHP, de centro-esquerda; o MHP, da extrema-direita; e o HDP, da esquerda e pró-curdo.
Os curdos têm visto crescer a sua influência junto dos Estados Unidos e da Rússia devido ao papel dos curdos sírios nos combates contra o autoproclamado Estado Islâmico. No sábado, grupos de curdos sírios e de árabes capturaram uma barragem aos extremistas islâmicos, e o apoio público de Moscovo tem sido mais notório depois de Selahattin Demirtas ter condenado o abate de um caça russo por aviões turcos, em Novembro – uma declaração que o primeiro-ministro da Turquia classificou como "traiçoeira".
O conflito armado entre o Governo da Turquia e os separatistas do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) começou em meados da década de 1980 e terminou em 2013 com a assinatura de um acordo de paz, que travava em larga medida a guerra pela independência curda no Sudeste. O conflito reacendeu-se no Verão passado e as duas partes acusam-se mutuamente de terem sido responsáveis pelo reinício da violência – os curdos dizem que o Governo turco instigou os combates para vencer as eleições antecipadas realizadas de Novembro e o primeiro-ministro acusa o HDP de ser um "peão" dos rebeldes do PKK e de "lucrar" com os combates.

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