quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Por que os economistas erraram em prever o tombo da economia brasileira em 2015? Visto lá de janeiro, o ano parecia passar longe de um cenário tão recessivo como o atual

O real desvalorizou frente ao dólar cerca de 50% durante 2015.  EFE
A economia brasileira deve fechar 2015 com um crescimento de 0,55% e uma inflação de 6,6%, bem próxima ao teto da meta. Já o dólar terminará o ano sem ultrapassar a barreira dos três reais. Não, você não leu errado. Essas eram as estimativas de dezenas de instituições financeiras levantadas pelo Banco Central e divulgadas no primeiro boletim do tipo, o semanal Focus, de 2015, com as previsões para o ano. Pena que faltou combinar a expectativa com a realidade. Visto lá de janeiro, o ano de 2015 parecia passar longe de um cenário tão recessivo como o de hoje, porém a poucos dias do fim do ano já é mais fácil acertar a pontaria. Tanto o Banco Central como os analistas de mercado coincidem que o tombo da economia brasileira será grande: um recuo do PIB de, no mínimo, 3,6% e a uma inflação encerrando 2015 acima dos 10%.


A bola de cristal dos economistas do mercado financeiro, no entanto, costuma mesmo falhar. Nos últimos cinco anos, as previsões colhidas com um ano de antecedência se revelaram bastante mais otimistas do que o resultado real. Com exceção do ano 2010, todas as estimativas do crescimento do país foram superestimadas. Em 2012, por exemplo, os economistas falavam em um avanço de 3,3% da atividade econômica, mas ele acabou sendo bem menor: um pífio crescimento de 0,9%, que revelou uma diferença de 2,4 pontos percentuais entre a expectativa e a realidade. O mesmo aconteceu nas projeções do câmbio. Acertar a pontaria do valor do dólar foi difícil. Em 2013, por exemplo, a estimativa era de que a moeda norte-americana fechasse cotada a 2,08 reais, mas ela foi a 2,34.
Dessa vez, a bola de cristal parece ter se esfumaçado ainda mais. As previsões para 2015 se revelaram particularmente mais erradas na opinião do economista Luis Eduardo Assis, ex-diretor de política monetária do Banco Central. “Acho que houve uma subestimação dos efeitos da Operação Lava Jato, uma dificuldade de antever os desdobramentos da crise política e uma espécie de superestimava da capacidade do ministro Joaquim Levy de fazer um ajuste fiscal. Tudo isso gerou um otimismo que acabou não prevalecendo. As incertezas fizeram o dólar subir muito mais e o câmbio pressionou a inflação”, explica.
Por que é tão difícil ter um bom palpite sobre o futuro econômico do país? A resposta é simples para Assis. “Não há uma metodologia que assegure esses valores e o que os economistas fazem sempre é arriscar e muitos tendem a seguir os palpites da maioria”. Dos indicadores, a inflação seja talvez a mais fácil de prever para o próximo ano, sugere Assis. “Neste ano, tivemos um choque de câmbio e de energia elétrica na faixa de 50% o que pressionou o IPCA. Dificilmente, vamos ter uma nova desvalorização cambial, com um dólar a 6 reais por exemplo. Nem um novo aumento na conta de luz vai ser anunciado. Por isso, acredito que as previsões estão certas quanto à queda da inflação em 2016, mas falar em um valor exato é impossível”, explica.
O economista chefe do banco Santander, Mauricio Molan, acredita que os erros das previsões são comuns devido aos fatores surpresas ao longo do ano. “Em 2015 o erro veio particularmente da diferença entre a teoria e a prática”, diz. No fim do ano passado, a meta de superávit primário (economia para pagamento da dívida pública) era de 66,3 bilhões de reais e acabou sendo cortada pela metade, agora em dezembro, quando o Planalto fechou uma proposta 30,5 bilhões de reais. No papel, segundo o economista, Joaquim Levy entrou no Ministério da Fazenda para fazer um ajuste agressivo, colocar a dívida do país em uma trajetória estável e preparar o terreno para 2016 de retomada de crescimento. “Mas as dificuldades enfrentada por Levy, a recessão mais profunda e a crise política instaurada que gerou uma falta de coalizão frustraram as expectativas deste ano. O próprio ajuste de câmbio foi decorrência desse impasse político”, explica.
A divergência, maior que a habitual, entre as previsões entre o início e o fim do ano se deu em grande parte pela perda de credibilidade no rumo da economia brasileira e a queda de popularidade da presidenta Dilma Rousseff, opina Fernando Sampaio, economista da LCA. “O investidor perdeu a confiança, sabíamos que seria um ano ruim, mas acabou sendo catastrófico”, diz. Sampaio também avalia que os desdobramentos da Lava Jato pesaram na queda do PIB. “Ela travou o setor de construção e todos os principais players também ficaram travados, emperrando o crédito também. A operação foi um ingrediente a mais de um processo maior que é a crise política”, explica.
Se não bastasse a maré de más notícias ao logo do ano, a cereja do bolo chegou no apagar das luzes de 2015 com a notícia do rebaixamento da nota do Brasil pela agência Fitch. Ela foi a segunda das três grandes agências de risco a tirar o grau de investimento do Brasil, o que pode significar uma provável saída de recursos investidos no Brasil, já que alguns fundos de investimento exige o selo de pelo menos duas agências para manter suas aplicações. Poucos dias depois após o rebaixamento, Joaquim Levy, deixou o cargo de Ministro da Fazenda e no seu lugar assumiu Nelson Barbosa, criando ainda mais incerteza sobre o cenário econômico.
Para 2016, as últimas projeções revelam que a economia brasileira ainda manterá uma trajetória bem negativa. O Banco Central, que costuma ter uma previsão mais otimista fala em uma queda de 1,9% da atividade econômica, enquanto os analistas de mercado financeiro desenham um tombo bem maior de 2,8% a 3% do PIB. Já os preços devem ceder um pouco e a inflação deve baixar para 6,2%, segundo o BC. O câmbio deve se manter acima dos quatros reais.
No entanto, o que a história nos mostra é que todos esses valores são mera especulação. Se fazer previsões para o próximo mês, em meio as incertezas da crise política econômica e brasileira, já é tarefa árdua para os economistas, imagine para todo o ano. “Temos projeções muito mais pessimistas que as dos últimos tempos para 2016. Talvez, os economistas errem todos outra vez e o próximo ano seja melhor que o esperado”, diz Assis. Tomara.

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