Líderes regionais do PSOE recusam-se a negociar com Podemos e partidos regionais se insistirem nas causas independentistas. Sánchez afirma que é ele quem manda no partido, mas está fragilizado.
Os socialistas espanhóis não têm reservas em recusar rotundamente uma grande coligação com o Partido Popular (PP), mas estão divididos sobre como se entenderem com os partidos mais pequenos à sua esquerda quando, previsivelmente, o chefe de Governo em funções lhes passar para as mãos a responsabilidade de chegar a uma maioria no Parlamento e viabilizar um novo Governo.
Ainda resta tempo a Mariano Rajoy para tentar uma maioria parlamentar sua. Reúne-se na segunda-feira com o Podemos, de Pablo Iglesias, e com o Cidadãos, de Albert Rivera. Juntos, os dois partidos poderiam renovar o poder parlamentar ao PP. Mas ninguém espera que Iglesias e Rajoy cheguem a acordo. Daí que os olhos se voltem já para o PSOE, a segunda força mais votada nas legislativas.
Os socialistas insistem em dizer que a iniciativa para construir Governo está ainda com o PP. Mas, por detrás do discurso institucional, o partido faz já contas e abre divisões internas. O seu secretário-geral, Pedro Sánchez, disputa publicamente a liberdade para conduzir sem freios as negociações que se avizinham. Garantiu esta semana que é ele quem marca “a política da organização” e disse-se disponível para “abrir pontes de diálogo” que façam justiça à “pluralidade expressa pelos cidadãos”.
Para o fazer, terá de se entender com o Podemos, que apoia a realização de um referendo para a independência da Catalunha. Terá também de estender as mãos aos pequenos partidos do País Basco e da Catalunha e encontrar uma “solução regional” de governo. Mas os órgãos locais dos socialistas não querem que o seu líder avance para a mesa de negociações sem que se imponham antes linhas vermelhas nas questões independentistas.
“Não ao Podemos, não”, repetiu Susana Díaz, a líder do PSOE na Andaluzia que já no início da semana avisou Sánchez que não tem poderes plenos para decidir o rumo do partido, pondo a descoberto uma crise orgânica nos socialistas. Numa entrevista emitida esta sexta-feira, Díaz garantiu o seu “não” a Rajoy, mas disse que não apoia negociações com o partido de Iglesias sem condições prévias. “Se põem sobre a mesa a unidade da Espanha, é porque não querem um acordo.” São “questões impossíveis”, garantiu.
Díaz é líder da federação socialista mais votada no país e, para além disso, não está só. Tem consigo a maioria dos “barões regionais” – palavras do El País –, como os presidentes das Astúrias, Estremadura e Castilla-La Mancha. A liderança de Sánchez conseguiu um balão de oxigénio ao atingir os 90 deputados no Parlamento – mais do que antecipavam as sondagens –, o que apaziguou parte da contestação interna. Mas o líder socialista terá agora uma luta com os órgãos regionais no comité federal do partido, agendado para segunda-feira. E a sua liderança está fragilizada.
Os líderes regionais do PSOE estão a preparar uma resolução política para o comité. É algo “absolutamente excepcional”, segundo escreve o El País. Os estatutos do partido indicam que cabe às duas centenas de delegados do partido aprovarem as propostas de resolução. Mas, na prática, sempre foi a direcção do partido a decidi-las. “O facto de os barões estarem a trabalhar nestes dias numa resolução à margem da [proposta] executiva faz com que seja evidente a tensão no PSOE”, lê-se no diário espanhol.
Sánchez tem uma última oportunidade para se entender com os líderes regionais do partido no domingo, num encontro informal que antecede o comité. Sobre a mesa estará mais do que a possível aliança com o Podemos. É possível que Pablo Iglesias e o seu partido ponham de lado a questão independentista e dêem prioridade às políticas sociais, o que, em teoria, facilitaria o diálogo. Mas, mesmo numa aliança parlamentar, os deputados do PSOE e Podemos não chegam aos 176 assentos da maioria. É preciso um acordo com os partidos mais pequenos, o que faz com que no PSOE se acredite que “não é possível que Sánchez consiga uma maioria coerente”, como dizem fontes do partido ao El País.
Discurso do Rei
A incerteza governativa em Espanha despertou o interesse pela mensagem de Natal do rei. O discurso de Felipe VI centrou-se na “unidade”, embora sublinhasse também a “pluralidade política expressa pelas urnas”, à qual deverá corresponder “uma forma de exercer a política baseada no diálogo”. O monarca falou a partir do mais solene Palácio Real, e não no Palácio de Zarzuela, como é habitual.
A incerteza governativa em Espanha despertou o interesse pela mensagem de Natal do rei. O discurso de Felipe VI centrou-se na “unidade”, embora sublinhasse também a “pluralidade política expressa pelas urnas”, à qual deverá corresponder “uma forma de exercer a política baseada no diálogo”. O monarca falou a partir do mais solene Palácio Real, e não no Palácio de Zarzuela, como é habitual.
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