Ancara, Turquia - A Turquia sofreu nesta segunda-feira um atentado suicida que matou pelo menos 31 pessoas na cidade de Suruc, perto da fronteira com a Síria, e que foi atribuído pelas autoridades turcas ao grupo jihadista Estado Islâmico (EI). O total de vítimas ainda é provisório. De acordo com o governador de Suruc, Abdullah Ciftçi, cerca de 20 feridos se encontram em estado crítico.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, condenou o atentado e denunciou um "ato de terrorismo". "Mergulhamos no luto em razão de um ato de terrorismo que fez 28 mortos e um grande número de feridos. Eu amaldiçoo e condeno os autores desta violência em nome de meu povo", declarou Erdogan durante uma visita oficial ao território norte do Chipre, ocupado pela Turquia desde 1974.
A explosão, muito forte, ocorreu no início da tarde no jardim do centro cultural da cidade e visava um grupo de cerca de 300 jovens militantes de esquerda e pró-curdos, em sua maioria estudantes. Segundo um membro do principal partido pró-curdo da Turquia, Alp Altinors, questionado pela AFP, esses jovens planejavam participar da reconstrução da cidade de Kobane, do outro lado da fronteira, completamente destruída durante a batalha entre o EI e os curdos.
A Turquia tem forte motivos para acreditar que o grupo jihadista Estado Islâmico está por trás do atentado em Suruc, uma vez que o grupo radical controla há mais de um ano vastos territórios no Iraque e na Síria, inclusive perto da fronteira turca.
Pouco tempo depois desta primeira explosão, um outro ataque com carro-bomba atingiu uma barreira de segurança das milícias curdas no sul de Kobane, do outro lado da fronteira, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). "Um suicida explodiu seu veículo em um posto de controle no sul da Kobane. Dois combatentes curdos morreram na explosão". declarou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor desta ONG que conta com uma ampla rede de informantes no território sírio. Este ataque quase simultâneo "reforça as suspeitas" sobre o EI, de acordo com a fonte turca.
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Operações contra os jihadistas
O atentado suicida ocorre há poucas semanas do reforço pelas autoridades turcas de sua presença militar na fronteira com a Síria, após a vitória das milícias curdas na batalha pelo controle de uma outra cidade fronteiriça, Tall Abyad. De acordo com analistas, esta decisão do governo islâmico-conservador turco é destinada tanto para combater o grupo EI, mas também para bloquear o avanço no norte da Síria das forças curdas, que são próximas ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que conduz desde 1984 uma rebelião contra Ancara.
Os países ocidentais criticam regularmente o governo de Ancara por sua neutralidade ou complacência vis-à-vis as organizações radicais em guerra contra o regime do presidente sírio Bashar al-Assad, incluindo o EI. A Turquia sempre negou as acusações, mas tem se recusado a participar da coalizão militar antijihadista liderada pelos Estados Unidos. Mas, após as críticas de seus aliados, passou a aumentar a segurança nos aeroportos e nas suas fronteiras para impedir o trânsito pelo seu território de recrutas estrangeiros do EI em rota para a Síria. Também realizou nas últimas semanas várias operações policiais para desmantelar as redes de jihadistas que passam por seu território.
O ataque de Suruc ocorre num momento em que as associações turcas da esquerda estavam prestes a anunciar a sua intenção de atravessar a fronteira para chegar ao Kobane. Este grupo reside no centro cultural de Suruc alvo do ataque. A cidade de Suruc recebe milhares de refugiados curdos da Síria que deixaram a região de Kobane durante a ofensiva lançada pelo EI em setembro.
Este ataque e os violentos combates que se seguiram causaram o êxodo de cerca de 200 mil pessoas para a vizinha Turquia. Segundo as autoridades locais turcas, apenas cerca de 35 mil sírios retornaram para casa desde o fim da batalha. No final de junho, o EI realizou um ataque surpresa em Kobane, marcando seu retorno ao centro da cidade por três atentados suicidas. Os combates resultaram na morte de mais de 120 civis. Depois de alguns dias, as milícias curdas retomaram o controle total da cidade
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