sexta-feira, 31 de julho de 2015

Devassa na Odebrecht preocupa países onde a empresa tem obras Na Colômbia, vice-presidente diz que condenação da empreiteira por suborno limitaria sua participação em novas licitações. Peru enviará delegação de promotores ao Brasil Cúpula da Odebrecht e Andrade Gutierrez nas mãos de Moro

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Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht. / EFE
A detenção em 19 de junho de Marcelo Odebrecht, presidente damaior construtora da América Latina, durante a Operação Lava Jato, que investiga os esquemas de corrupção na Petrobras, não foi um golpe apenas para o Brasil. Vários países da região, entre os quais a Colômbia, Venezuela, Peru e Panamá, acompanham com inquietação o desdobramento dos processos e avaliam as consequências que teria uma condenação da Odebrecht. Seus tentáculos se estendem pelas obras mais importantes da América do Sul.
O primeiro a reagir, naquela sexta-feira de junho, foi o vice-presidente da Colômbia. Germán Vargas Llera, que garantiu que “qualquer condenação internacional em matéria de suborno” inviabilizaria as licitações e a execução das obras da construtora no país durante 20 anos. O assunto não é frívolo. A Odebrecht, a sétima construtora da Colômbia, com receita de cerca de 150 milhões de dólares (505 milhões de reais) está realizando cinco obras, duas delas das mais importantes em andamento no país: a navegabilidade do rio Magdalena, entre Barranquilla e Puerto Salgar, que abarcaria 908 quilômetros do rio, e a construção de um setor da Rota do Sol, que já avançou 40%. Para ambos os projetos o orçamento é de 6,1 bilhões de pesos (pouco mais de 7,4 bilhões de reais).
Além disso, a construtora poderá ter problemas em três licitações que está disputando: a construção do Transmilênio Boyacá, a adequação de uma estrada entre Bogotá e Girardot e a recuperação do rio Bogotá. Os três projetos devem superar mais de 2,7 bilhões de dólares (9 bilhões de reais). Segundo a Odebrecht, as autoridades colombianas aplicarão a presunção da inocência e diz, por meio da assessoria de imprensa, que a Secretaria de Transparência da Presidência assegurou que não haveria razão para investigar a companhia no seu país.
A relação entre García e a Odebrechet está marcada pelo Cristo do Pacífico, uma réplica do Corcovado do Rio de Janeiro, avaliada em 830.000 dólares ,que foi doada pela Associação Odebrecht. Na empresa dizem que a doação foi ao país, não ao presidente, e argumentam que ela feita por meio de um ato público e com conhecimento das autoridades.Enquanto no Equador começaram as auditorias nos contratos da Odebrecht, na semana passada o procurador-geral do Peru, Pablo Sánchez, informou que uma delegação de promotores do país iria até o Brasil realizar uma série de investigações e coletar dados sobre possíveis concessões ilícitas. Um dos focos seria um suposto pagamento de subornos de diretores da Odebrecht para que fosse inflado o custo de uma estrada que une aAmazônia brasileira com os portos do Pacífico peruano, construída entre 2005 e 2011, durante os Governos de Alejandro Toledo e Alan García. A empreiteira argumenta que as suspeitas de suborno ocorreram em um trecho que não é de responsabilidade dela.
A Odebrecht desenvolve há 35 anos múltiplos projetos no Peru, onde tem 15.000 funcionários 99% deles, peruanos. Segundo dados da construtora, os projetos dos quais participou propiciaram, nos últimos 10 anos, 13,25 bilhões em investimento privado e concessões pelo equivalente a 1,82 bilhão de dólares de investimento público.
No caso da Venezuela, a relação com a Odebrecht vem de longe. Desde que iniciou obras no Estado de Zulia, há 23 anos, a empresa, que hoje afirma contar com 12.000 empregados no país, vem crescendo, informa Ewald Scharfenberg. O chavismo confiou seus mais importantes projetos de infraestrutura à Odebrecht, em parte pela influência do Brasil como fiador político de Caracas na região, mas também porque o ex-presidente Hugo Chávez sempre desconfiou dos empresários venezuelanos e preferiu favorecer os estrangeiros. Com frequência, o falecido presidente mencionava os brasileiros como empresários-modelo de um desenvolvimento nacional autônomo.
Segundo indicou a ONG Transparência Venezuela em maio, a Odebrecht é responsável no momento pelos seguintes projetos: a ponte Nigale, ou segunda ponte sobre o lago Maracaibo; a linha 5 do metrô de Caracas; a ponte do Mercosul, ou terceira ponte sobre o rio Orinoco; o metrô entre Caracas e Guatira e o metrô Caracas-Los Toques. Todos os projetos estão em andamento e têm em comum o atraso nas metas e sobrepreços com relação aos cálculos iniciais. As obras que estão sendo feitas tinham orçamentos num total somado de 5 bilhões de dólares.
Onde os interesses da Odebrecht parecem estar a salvo é no Panamá. Na sexta-feira, a construtora brasileira firmou o contrato pelo qual vai liderar o consórcio encarregado de construir a segunda linha de metrô da capital panamenha, pelo valor de 1,85 bilhão de dólares. A licitação foi outorgada em 20 de maio e, ao lado da empresa brasileira, participará a espanhola Fomento, Contratas y Construcciones (FCC).

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