quarta-feira, 29 de julho de 2015

Ex-dirigente da Eletronuclear recebeu R$ 4,5 milhões em propina Othon Pinheiro foi preso e é suspeito de receber dinheiro da empreiteira Andrade Gutierrez, que executa obras na usina de Angra 3. %u201CCorrupção é endêmica e está em estado de mestástase%u201D, diz procurador

O Ministério Público e a Polícia Federal suspeitam que o ex-presidente da estatal Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva recebeu R$ 4,5 milhões das empreiteiras Andrade Gutierrez (AG) e Engevix, que executam obras na usina de Angra 3, em Angra dos Reis (RJ). Nesta sexta-feira (28/7), a PF prendeu o ex-dirigente o presidente global da AG Energia Flávio David Barra, além de conduzir cinco representantes de outras empreiteiras para prestar depoimento, na 16ª fase da Operação Lava-Jato, batizada de Radioatividade.

Os subornos foram pagos entre 2009 e 2014. O procurador da força-tarefa do caso Atahyde Ribeiro Costa destacou que a criminalidade descoberta se alastrou para além da Petrobras. “A corrupção no Brasil, infelizmente, é endêmica e está em estado de metástase”, reforçou ele, em entrevista coletiva em Curitiba (PR). O delegado regional de Combate ao Crime Organizado da PF no Paraná, Igor Romário de Paula, disse que os presos devem chegar a Curitiba até o início da noite.

O procurador disse que a Andrade obteve um contrato em Angra 3 e conseguiu um aditivo de R$ 1,4 bilhão em 2009 graças ao pagamento de propinas. O dinheiro era pago pela AG e pela Engevix, que também tem obras na usina, por meio de quatro empresas intermediárias, até chegar à Aratec, de propriedade de Othon Pinheiro.

Os pagamentos continuaram até recentemente. A força-tarefa obteve uma nota fiscal da Aratec para receber dinheiro da Engevix em 12 de dezembro do ano passado. Para a PF e o Ministério, as empresas são de fachada, por não terem quadro de pessoal para prestarem qualquer tipo de serviço e por utilizarem suas contas bancárias apenas como canal de passagem em operações de lavagem de dinheiro.

Em setembro do ano passado, o consórcio Angramon fechou contrato com a usina. O consórcio é formado pelas empresas Andrade Gutierrez, Construtora Norberto Odebrecht (CNO), UTC Engenharia, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, EBE (do grupo MPE Montagens) e Techint. A Engevix não faz parte do consórcio, mas também fechou negócios por meio de subornos, segundo Athayde Ribeiro. Em depoimento prestado em delação premiada, o então presidente da Camargo Dalton Avancini, disse que havia reuniões em que se discutiu o pagamento de propina a Othon Pinheiro: o negociador na AG seria Flávio Barra.

De acordo com o procurador, as acusações do delator foram confirmadas por outras provas descobertas pela PF e pelo Ministério Público. Os investigadores pediram a prisão preventiva de Othon e Barra, mas o juiz Sérgio Moro entendeu que os indícios não eram tão fortes e decretou apenas a detenção temporária, por cinco dias. Com base nos mandados de busca – em que se vasculharam computadores de executivos de várias empreiteiras em busca de emails – a PF e o MPF devem pedir a conversão da medida em prisão preventiva nos próximos dias.

A PF conduziu forçadamente para depor os executivos Cloves Renato Nuna Peixoto, aposentado da AG, Fábio Adriani Gandolfo, da Odebrecht, Petrônio Brás Júnior, da Queiroz Galvão, Renato Ribeiro Abreu, da MPE Montagens , e Ricardo Ouripes Marques, da Techint. Todos eles participaram de reunião para combinar o pagamento de suborno a Othon Pinheiro, segundo o Ministério Público.

Pré-qualificação
Athayde Ribeiro disse que houve um ajuste para que só determinadas empresas fossem admitidas na fase de pré-qualificação da obra em Angra 3. Havia dois consórcios, que depois se fundiram no consórcio Angramon. “Houve direcionamento na licitação para que essas empresas concorressem sozinhas”, afirmou ele. “Os ganhadores já sabiam que ganhariam de antemão a licitação.”

Em nota, a Andrade Gutierrez afirmou que sempre esteve à disposição da Justiça e que seus advogados ainda analisam o caso. A Eletronuclear afirmou ao Correio que a empresa estatal que a controla – a Eletrobrás – é que comentaria o caso. A Eletrobrás solicitou pedido de esclarecimentos por escrito ao jornal, mas ainda não respondeu a nenhuma pergunta da reportagem.

Íntegra da nota da Andrade Gutierrez
“A Andrade Gutierrez está acompanhando a 16ª fase da Operação Lava Jato e destaca que sempre esteve à disposição da Justiça. Seus advogados estão analisando os termos desta ação da Polícia Federal para se pronunciar.”

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