Pelo segundo ano consecutivo caíram as vendas combinadas das 500 maiores empresas da América Latina por volume de negócios: 4,5% a menos em 2014 em relação a 2013. Um cenário de dois anos seguidos de perda de vendas não ocorria na região desde o período 2001-2002. Dos 2,63 bilhões de dólares (8,23 bilhões de reais) em vendas em 2012 a região passou a cerca de 2,6 bilhões de dólares há dois anos, e a 2,48 bilhões no último registro. Em paralelo, e de forma mais alarmante para os cofres da América Latina, os lucros líquidos anuais dessas empresas caíram bem mais ainda: 41%. A perda de poder das moedas locais em relação ao dólar e a queda do preço do petróleo e das demais matérias-primas provocaram essa situação.
O Brasil é o país com maior presença no conjunto das 500 gigantes comerciais. Entre elas estão 203 empresas brasileiras, 119 mexicanas, 65 chilenas, 44 argentinas, 30 peruanas e 24 colombianas (outros seis países também estão representados). Entre essas seis economias que lideram a região também não há muitos motivos para inveja. Todas, sem exceção, viram quedas tanto nas vendas quanto nos lucros líquidos anuais em 2014. De 100% no caso dos lucros mexicanos a 50% no caso brasileiro, economias golpeadas pela crise do petróleo. Nem sequer o Chile e o Peru, aparentemente mais saudáveis, se salvaram da calculadora.
São os gigantes da América Latina. As 500 empresas mais poderosas por volume de vendas. O motor da economia da região. Mas um motor travado que nos dois últimos anos não só não conseguiu fazer com que a locomotiva avançasse como costumava fazer, mas que também foi incapaz de deter seu declínio. Um total de 4,5% a menos de vendas em 2014 em relação a 2013, e quase 41% a menos de lucro líquido retratam um panorama preocupante para esses colossos empresariais, segundo o ranking AE 500, elaborado pelo grupo de estudos AméricaEconomía Intelligence. A situação não é nova, mas o declínio do exercício anterior se acentua.
A queda de dois anos seguidos só tem comparação, desde o início desses registros (1991), com o ocorrido em 2001 e 2002, quando as vendas diminuíram 2,9% e 2,8% respectivamente, uma redução mais sustentada e menor que a atual. Os números positivos regressaram então até 2008, quando houve um declínio de 3,7%. Mas foi só um tropeço momentâneo para voltarem a se reerguer e chegar a picos como o de 2010, com um aumento das vendas de 16,7%
A depreciação das moedas regionais em relação ao dólar, a queda dos preços do petróleo e o fim da etapa gloriosa das commodities e o fluxo de milhões insuflados pelo talão de cheques da China são os principais motivos para esse novo cenário econômico.O declínio atual em dois exercícios consecutivos marca uma tendência, e não um episódio conjuntural, segundo explica Andrés Almeida, diretor da AméricaEconomía Intelligence: “Esta é uma nova época, menos próspera. Acabou-se o superciclo. Os lucros e as vendas não vão subir até os níveis que as empresas tiveram dos anos noventa até agora. Nessa época houve um crescimento explosivo das matérias-primas, e a situação atual aponta para um movimento de baixa que depois vai estabilizar-se, mas sem o ciclo incrível de antes. É uma nova etapa para a economia da América Latina. Os tempos de antes já não voltarão como antes”.
Caem as vendas, mas caem ainda mais os lucros líquidos anuais das empresas, até 40,98% na última avaliação, uma redução drástica se levarmos em conta que a referência anterior era uma perda de 3,9%. Segundo o estudo de AméricaEconomía, as 500 maiores empresas deixaram de vender 141 bilhões em 2014 e de ganhar 47 bilhões em relação a 2013. “Nos anos anteriores os lucros foram muito altos, um ciclo incrível”, afirma Almeida; “a queda de 41% é enorme. As vendas caem, mas não com tanta força. O declínio nos lucros é muito significativo”.
As petroleiras como símbolo do declínio econômico
Como símbolo do declínio das vendas e dos lucros estão os relatórios econômicos das grandes petroleiras na região, o setor mais castigado.
A brasileira Petrobras, envolvida em um monumental escândalo de corrupção, perdeu 8,12 bilhões de dólares em 2014. A queda representa 180% a menos nos lucros da empresa estatal.
A mexicana Pemex, que a partir de hoje se abre à iniciativa privada, sofreu uma queda de 17,97 bilhões de dólares em seus lucros.
A PDVSA, Petróleos de Venezuela, escapou por pouco dos problemas no ano passado. Foi a única entre as três grandes que conseguiu números positivos, 12,4 bilhões, embora isso tenha representado um lucro 3,4% menor.
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