Polícia francesa detém suspeito em Saint-Denis, ao norte de Paris (Foto: AP Photo/Peter Dejong)
Ao menos dois jihadistas morreram nesta quarta-feira durante uma operação contra o islamismo radical na localidade de Saint-Denis, na região metropolitana de Paris, segundo confirmaram Ministério de Interior. Um dos mortos é uma mulher que levava um cinto com explosivos e se detonou. A operação, que tinha o objetivo de localizar os jihadistas relacionados com os atentados da última sexta em Paris, foi finalizada às 12h (9h em Brasília), depois de sete horas. Pelo menos sete pessoas foram detidas. Cinco agentes e um transeunte ficaram feridos.
Agentes especiais haviam ido ao local em busca de Abdelhamid Abaaoud, considerado um dos organizadores dos atentados de sexta-feira passada, que mataram 129 pessoas. Abaaoud, 28 anos, belga de origem marroquina, havia passado vários meses com os jihadistas na Síria. Ele vivia em Molenbeek, o bairro de Bruxelas de onde saíram alguns dos participantes diretos da matança, e, segundo a polícia, teve relação com outros ataques jihadistas ocorridos na França —inclusive o de janeiro contra a revista Charlie Hebdo.
Abaaoud não está entre os detidos, mas, segundo a Polícia, o homem e a mulher mortos ainda não foram identificados. O promotor de Paris, François Molins, assegurou ainda que era "impossível" comunicar a identidade dos sete detidos para preservar a confidencialidade das investigações. "Por sia organização e determinação, esse comando podia passar à ação”, afirmou Molins nesta quarta à noite.
Agentes de forças especiais francesas haviam ido a Saint-Denis à procura de suspeitos alojados em um apartamento situado entre as ruas République e Corbillon. Quatro pessoas estavam dentro do imóvel: uma mulher, que se detonou com um cinturão de explosivos, e pelo menos três homens.
60 detidos e 118 confinados
GABRIELA CAÑAS, PARIS
Graças ao estado de emergência decretado após os ataques da última sexta-feira, 60 pessoas foram detidas e 118 estão confinadas (isto é, em prisão domiciliar preventiva ou sob vigilância). Em apenas quatro dias, os agentes das forças de segurança francesa fizeram 414 registros e apreenderam 75 armas de fogo.
O confinamento permite que as autoridades mantenham sob vigilância ou controle os suspeitos de terrorismo ou de colaboração com o terrorismo. Podem ficar imobilizados em suas próprias casas ou em um lugar que as autoridades decidam. Trata-se de uma medida excepcional que só pode ser aplicada quando o país se encontra em estado de emergência, o qual o Governo Hollande quer prolongar até fevereiro do ano que vem.
A mobilização nas ruas da capital francesa é enorme, principalmente nos transportes públicos. Segundo os dados do Governo, 58.000 policiais e 50.000 gendarmes [forças militares] foram mobilizados pela Promotoria de Paris.
Enquanto isso, continua em vigor a proibição de se manifestar nas vias públicas. A medida foi imposta no sábado e seguirá em vigor até quinta-feira.
Um dos terroristas que estavam dentro do apartamento morreu no meio do tiroteio e das explosões, segundo confirmou depois o ministro de Interior, Bernard Cazeneuve, e o promotor Molins —ambos levados até o local das operações. O cadáver do suposto jihadista foi descoberto quando os agentes entraram no apartamento. Alguns detidos também ficaram feridos e um deles foi encaminhado para o hospital.
No total, sete pessoas foram detidas na operação, segundo o Ministério Público parisiense. Três delas estavam dentro do apartamento. No lado de fora, as forças de segurança também prenderam um homem e uma mulher. No final da manhã (hora local), a polícia interrogou outros dois suspeitos. Um deles é a pessoa que alugou o apartamento aos terroristas e outro um amigo desta. O Ministério de Interior acredita que pelo menos dois terroristas que participaram dos ataques de sexta estão foragidos.
A operação policial, da qual participaram franco-atiradores das forças especiais, começou de madrugada. Às 4h20 (1h20 em Brasília) foram ouvidas as primeiras detonações ou explosões nos arredores da rua République, perto da praça Jean-Jaurès. Vários supostos jihadistas trocaram tiros com as forças de segurança. Às 7h30, as detonações e explosões continuavam sendo ouvidas. No meio da amanhã, os policiais ainda revistavam o apartamento dos supostos terroristas. Procuravam explosivos e acreditavam que algum jihadista permanecia escondido na área.
As autoridades haviam pedido aos moradores que não saíssem de suas casas. Os colégios do bairro permanecem fechados, e dezenas de militares com coletes à prova de balas foram enviados ao local para organizar um cordão de isolamento. Pelo menos dois voos intercontinentais da Air France procedentes dos Estados Unidosforam desviados para outros aeroportos. Seu destino era o aeroporto Charles de Gaulle, muito perto de Saint-Denis. O presidente François Hollande, o primeiro-ministro Manuel Valls e o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, estão no Palácio do Eliseu acompanhando a operação.
“A terra tremia”, disse à emissora France Info um morador que vive perto do apartamento ocupado pelos supostos jihadistas, e que escutou as fortes explosões ao longo da manhã. “Houve muitos disparos e uma explosão. A polícia gritava: ‘Saiam das janelas’”, contou outro.
Uma moradora que vive no mesmo prédio relatou que, pouco depois das 4h, ouviu uma primeira explosão. “O prédio inteiro se mexia”, disse ela. A mulher se atirou ao chão com seu bebê, até ser retirada do local pela polícia. Outro morador comentou que havia uma contínua substituição de moradores no apartamento atacado.
Saint-Denis, um município nos arredores de Paris com população majoritariamente imigrante, foi onde três kamikazes se explodiram simultaneamente na sexta-feira, em frente ao Stade de France, enquanto outros grupos de jihadistas assassinavam dezenas de pessoas no centro de Paris. Três morreram após detonar cinturões explosivos na casa de shows Bataclan, e um sétimo se matou dentro de um restaurante no bulevar Voltaire.
A operação policial desta quarta-feira também acontece muito perto do emblemático estádio de futebol, a cerca de 1,5 quilômetro. O prefeito de Saint-Denis, Didier Paillard, havia marcado para as 18h desta quarta-feira (hora local) uma manifestação junto ao estádio, com a presença da prefeita de Paris, Anne Hidalgo.
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