segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Relator levará ao Senado proposta que autoriza até 35 cassinos no país Blairo Maggi apresenta nesta quarta parecer sobre legalização de jogos. Proposta prevê um cassino por estado – alguns poderão ter até três.

O senador Blairo Maggi (PR-MT) apresentará nesta quarta-feira (25) no Senado um novo relatório sobre o projeto que legaliza o funcionamento de cassinos, o jogo do bicho e os bingos (presenciais e online).
O texto, ao qual o G1 teve acesso, prevê até 35 cassinos no país, com no mínimo um por unidade da federação – pela proposta, alguns estados poderão ter até três, conforme critérios populacionais e econômicos.
Maggi é o relator sobre o assunto na Comissão Especial do Desenvolvimento Nacional, que analisa as propostas da chamada Agenda Brasil – conjunto de proposições reunidas pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com o objetivo de estimular a economia.
Por mais proibidos que sejam, os jogos acontecem hoje. Tem cassinos clandestinos, e acaba sempre tendo, por mais que haja fiscalização."
Senador Blairo Maggi (PR-MT), relator do projeto de legalização de jogos no Senado
Na pauta da comissão, está prevista a votação do texto nesta quarta. Porém, a expectativa do relator é que os parlamentares façam um pedido de vista coletivo a fim de analisar o relatório. Se isso acontecer, a votação ficaria para a semana seguinte.
A matéria tramita no Senado em uma única comissão, em caráter terminativo – isso significa que, se aprovada pelo colegiado, vai diretamente para a Câmara, sem necessidade de análise no plenário do Senado.
O relator argumenta que os jogos são explorados hoje no país, embora proibidos. Segundo ele, o Brasil é um dos poucos países que não têm essas atividades liberadas.
“Por mais proibidos que sejam, os jogos acontecem hoje. Tem cassinos clandestinos, e acaba sempre tendo, por mais que haja fiscalização”, disse Blairo Maggi.
Para ele, as pessoas são "esclarecidas", e a autorização da exploração não vai gerar uma "corrida" da população às casas de jogos. “É mais uma atividade”, disse.
Cassinos
Um dos pontos mais polêmicos do relatório é o que autoriza o funcionamento de cassinos. Isso porque alguns defendem que a instalação de cassinos poderia ser autorizada em regiões com turismo menos favorecido, de forma a estimular a atividade nesses locais.
O texto a ser apresentado por Blairo Maggi, entretanto, autoriza a construção de cassinos em todo o país – com limite por estado.
O governo não tem restrição a esse projeto. E tem interesse nessa arrecadação de R$ 20 bilhões."
Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado
O relatório prevê o credenciamento pelo Executivo de até 35 cassinos no país. Cada estado e o Distrito Federal poderiam ter pelo menos um. Alguns estados poderão ter dois ou três, "conforme critérios populacionais e econômicos", a serem regulamentados.
O senador explicou que preferiu permitir que cada Estado avalie se é interessante a autorização para construção de um cassino em seu território e deixar que a iniciativa privada avalie os locais atrativos.
“Penso que os estados têm que ter oportunidade de pensar no assunto. Alguns estados não vão querer mexer com isso – ou por falta de público ou porque empresas vão preferir não pulverizar [a construção de cassinos]”, disse.
De acordo com o texto, esses cassinos só poderão funcionar em complexos de lazer dotados de hotel, local para reuniões e eventos, restaurantes, bares e centros de compras. Segundo a proposta, o cassino poderá ocupar até 10% da área total construída do complexo.
O credenciamento para explorar cassinos se dará pelo período de 30 anos, de acordo com o texto de Blairo Maggi. O projeto original, do senador Ciro Nogueira (PP-PI), previa  autorização por 20 anos.
Para selecionar o empreendimento que poderá receber autorização, o governo deve usar como critério de seleção o valor do investimento para implantação do complexo de lazer, a contratação de mão-de-obra local, o número de empregos a serem criados, entre outros fatores.
No caso das cidades com menos de 250 mil habitantes, poderá ser credenciada, no máximo, uma casa de bingo. Além disso, o relatório prevê que cada casa de bingo poderá ter até 50 máquinas de videobingo.Bingos
O texto autoriza a existência de uma casa de bingo a cada 250 mil habitantes do município.
Jogo do bicho
O credenciamento para exploração do jogo do bicho será concedido à empresa que comprovar que tem reserva de recursos suficiente para garantir o pagamento das obrigações que a lei prevê, com exceção da premiação.
A exploração poderá ocorrer dentro do limite do município em que ocorrer o credenciamento.
Arrecadação
O projeto original, apresentado pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI) em 2014, cita estudos que dizem que o Brasil deixa de arrecadar em torno de R$ 15 bilhões sem a legalização das modalidades de jogo contidas no projeto.
A expectativa do governo, hoje, é de uma arrecadação anual de até R$ 20 bilhões, caso o projeto seja aprovado pelo Congresso, de acordo com dados da liderança do governo no Senado.
O líder do governo na casa, senador Delcídio do Amaral (PT-MS), disse ao G1 que a arrecadação extra interessa ao governo e que não há restrições em relação ao projeto.
“O governo não tem restrição a esse projeto. E tem interesse nessa arrecadação de R$ 20 bilhões”, disse.
O senador ponderou, entretanto, que o tema deve gerar discussões e precisa ser analisado com cautela. “O projeto é polêmico e tem que ser discutido com cuidado”, completou.
O projeto cria uma Contribuição Social, que terá alíquota de 10% sobre a receita bruta da exploração de jogos em estabelecimentos físicos e de 20% no caso dos jogos online. O texto prevê que a arrecadação deve ser integralmente destinada à seguridade social.
O relatório também determina que entre 50% e 70% do total de recursos arrecadados com jogos do bicho e de bingo devem ser destinados à premiação, incluídos nesse percentual a parcela do Imposto de Renda e outros eventuais tributos que incidam sobre o valor do prêmio distribuído.
Tramitação
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) criticou o fato de o projeto ser apreciado somente pela comissão, sem necessidade de passar pelo plenário da Casa e, portanto, de ser avaliado por todos os parlamentares.
Segundo o senador, uma comissão temática não pode analisar um projeto em caráter terminativo.
“Teria que ir para o plenário, primeiro. Acho que é uma flexibilização exagerada”, disse. “Não tenho certeza sobre o projeto. Tem de ser mais discutido, votado por mais parlamentares”, declarou.
De acordo com a Secretaria-Geral da Mesa do Senado, entretanto, “a Constituição autoriza expressamente que os projetos sejam apreciados terminativamente pelas comissões, e o regimento não faz qualquer limitação à aprovação dessa forma por comissões especiais”.
Para levar a matéria ao plenário, pelo menos nove senadores têm de recorrer da aprovação terminativa pela comissão.
Câmara
Ao mesmo tempo em que tramita no Senado, o assunto é discutido numa comissão especial na Câmara dos Deputados. Em 28 de outubro, foi instalada a comissão especial do marco regulatório dos jogos no Brasil na Câmara.
Isso ocorreu depois de o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) ter apresentado neste ano um requerimento ao plenário da Casa para a criação de comissão especial para discutir um projeto apresentado em 1991 pelo então deputado Renato Vianna (PMDB-SC).
O texto diz que o "jogo do bicho" deve ser descriminalizado, de forma que possa ser regulamentado e tributado, e que os benefícios sejam "canalizados" para obras de interesse social.
Segundo levantamento do jornal "O Globo", a comissão dará aval para a legalização dos jogos. Dos 27 deputados titulares na comissão, "O Globo" ouviu 25, dos quais 23 se declararam favoráveis à liberação.
De acordo com a secretaria da comissão, ainda não há previsão para apresentação do relatório sobre o projeto.
O colegiado tem um prazo de 40 sessões para apresentar o relatório que, depois, deve ser aprovado pelo plenário da Câmara, antes de seguir para análise do Senado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário