O Senado era considerado uma ilha de tranquilidade para o PT, ao contrário da Câmara, onde a base governista é bastante frágil. Até ofuracão Delcídio. A prisão do líder do Governo na Casa inaugurou as detenções da Lava Jato no âmbito da Procuradoria Geral da República, de onde o procurador-geral Rodrigo Janot comanda as ações. Desde adivulgação da "lista do Janot", esse é o primeiro grande evento da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Marca uma nova fase e ameniza o receio daqueles que imaginavam que, fora da Curitiba dojuiz Sérgio Moro, a operação não seguiria com o mesmo ímpeto.
De acordo com o regimento interno do Senado, a votação em que os senadores decidirão se acatam ou não a decisão do STF de prender Delcídio por interferência nas investigações da Lava Jato é secreta. Mas os governistas foram derrotados e a votação será nominal, mas não havia ocorrido até a publicação desta reportagem.
A prisão do senador volta a colocar o Governo Dilma Rousseff e principalmente o PT no centro da Operação Lava Jato. O caso de fundo que levou o senador petista à prisão é a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, fechada durante o Governo Lula e enquanto a então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff presidia o Conselho de Administração da Petrobras. O senador Humberto Costa (PT) admitiu que o Palácio do Planalto "está preocupado" com a questão, mas disse que "nós temos aí assuntos muito importantes que estão pautados e não queremos que essa pauta seja interrompida por esse fato".
O PT divulgou nota para dizer que "nenhuma das tratativas atribuídas ao senador têm qualquer relação com sua atividade partidária, seja como parlamentar ou como simples filiado"; "por isso mesmo, o PT não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade", segue a mensagem. Já a presidenta Dilma não comentou o assunto, e o Palácio do Planalto se limitou a informar em nota que a escolha do novo líder no Senado será feita na próxima semana. Dilma se preparava para um dia de reuniões tranquilas quando se deparou com a notícia-bomba de que seu principal representante no Senado tinha acabado de ser preso no hotel em que mora em Brasília, o Golden Tulip. Foi o sinal de que, apesar da calmaria prevista para os próximos dias, com o arrefecimento do pedido de impeachment e o foco quase exclusivo em Eduardo Cunha, tinha ido para o espaço.
As audiências que seriam abertas à imprensa, como uma prevista com a seleção brasileira de handebol feminino, se fecharam. Entre membros do Governo, a justificativa em tom de brincadeira era que ela havia acabado de se deparar com uma nova doença, a gripe Delcidis, e, por essa razão, não queria dar declarações públicas. Assim, ao invés de se preparar para a viagem a Paris, onde participará da COP-21, na próxima semana, e uma visita de Estado ao Japão, a presidenta teve de apagar o incêndio que acometeu o Legislativo. Reuniu-se com quatro vice-líderes, ministros e conselheiros políticos para analisar as responsabilidades do caso.
Com a prisão de Delcídio e a Lava Jato avançando sob o núcleo político a cada dia, a crise só tende a se amplificar, ainda mais levando em conta que há outros dez senadores investigados pela Polícia Federal pelo mesmo escândalo. Para a consultoria Eursia, as prisões de Delcídio, Esteves e do pecuarista José Carlos Bumlai, próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sugerem que os investigadores estão focando seus esforços em torno da Petrobras. Segundo os analistas da consultoria, essas prisões devem levar a novas informações, agravando as consequências da Operação Lava Jato para a estatal. Consequentemente, é de se esperar o prolongamento das indefinições políticas e surpresas para o Governo a partir das investigações — talvez essa seja a única certeza da política brasileira para o próximo ano.
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