segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Ministra diz que chuvas farão lama continuar se movendo pelo Rio Doce Izabella Teixeira disse que monitoramento no ES será feito por até 120 dias. Ministra ainda falou que está sendo feito um acompanhamento da fauna. 23/11/2015 20h43 - Atualizado em 23/11/2015 21h44

Reunião aconteceu em um hotel em Linhares, no Norte do Espírito Santo (Foto: Secom/ Governo do Estado)Reunião aconteceu em um hotel em Linhares, no Norte do Espírito Santo (Foto: Secom/ Governo do Estado)
A Ministra do Meio Ambiente Izabella Mônica Vieira Teixeira disse nesta segunda-feira (23) que o governo irá monitorar os impactos do vazamento da barragem da Samarco por até 120 dias na região do Rio Doce, no Espírito Santo. Segundo a Izabella, a época de chuvas poderá agravar a situação, já que a lama que está depositada no rio poderá se misturar à água e continuar descendo o leito. A ministra esteve no ES nesta segunda e sobrevoou a região afetada pela lama de rejeitos de minério no Espírito Santo e também a parte do mar que já foi atingida.
"A lama já chegou ao mar, mas tenho que lembrar que ficou muita pelo caminho e essa lama ainda está descendo. Com as chuvas, essa lama vai levantar e continuar seguindo. Não posso dizer se os impactos foram menores em Minas Gerais ou Espírito Santo", disse Izabella.
A Ministra disse que no sobrevoo percebeu um impacto muito expressivo nas cidades capixabas e que há um empenho em ajudar as pessoas mais afetadas pelo acidente ocorrido em Mariana (MG).
"Medidas precisam ser adotadas emergencialmente, como o atendimento às populações isoladas, que vivem ao longo do Rio Doce e estão sem informações. Também precisamos olhar pelos trabalhadores que tiram seu sustento do rio, como os pescadores. Eles precisam de ajuda e estamos providenciando isso", falou.
Izabella lembrou das intervenções já feitas, antes da chegada da lama ao estado e ao oceano, como a retirada de espécies animais do Rio Doce e de tartarugas das praias. O Ministério do Meio Ambiente também está acompanhando a dispersão de sedimentos no mar.
"Fizemos ações de mitigação, capturamos espécies, que estão sendo protegidas para futura reintrodução ao sistema. Sobre as tartarugas, o Tamar conseguiu tirar todos os ovos que já estavam depositados e colocados em áreas de segurança. Estamos acompanhando também o que está acontecendo com os peixes que estão morrendo, qual o motivo da morte deles", explicou.
Uma equipe da Marinha do Brasil chega ao Espírito santo nesta terça-feira (24) para fazer testes na lama que já está no mar. "[A lama] Não está dando impacto ao estado da Bahia, não está dando impacto a Vitória, não está dando impacto em Abrolhos", garantiu a Ministra.
Ministra com as equipes dos governos federal e estadual percorrendo a praia de Regência (Foto: Secom/ Governo do Estado)Ministra com as equipes dos governos federal e estadual percorrendo a praia de Regência (Foto: Secom/ Governo do Estado)
Lama no mar
A lama da barragem da Samarco, cujos donos donos são a Vale a anglo-australiana BHP Billiton, já adentrou mais de 10 quilômetros no mar do Espírito Santo, de acordo com o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema). Nesta segunda-feira (23), a prefeitura de Linhares, no Norte do Espírito Santo, orientou a população para que não entre em contato com a água.

Ainda segundo o Iema, a lama já se espalhou por uma extensão de 40 quilômetros pelas praias de Regência e Povoação.
Pescadores contratados pela Samarco enterraram peixes mortos na praia de Povoação, em Linhares, segundo a agência de notícias Reuters. Questionada sobre o enterro dos peixes na praia, a Samarco não respondeu e disse apenas que eles estão sendo armazenados em bombonas (tambores).
Pescadores contratados pela mineradora Samarco, cujos donos são a Vale e a australiana BHP, enterram peixes mortos da praia de Povoação, no Espírito Santo. O local foi inundado por lama após o rompimento de barragens da empresa em Minas Gerais (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)Pescadores contratados pela mineradora Samarco enterram peixes mortos da praia de Povoação, no Espírito Santo. O local foi inundado por lama após o rompimento de barragens da empresa em Minas Gerais (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
A lama de rejeitos de minério que vazou da barragem da Samarco em Mariana (MG) chegou ao mar neste domingo (22), após passar pelo trecho do Rio Doce no distrito de Regência, em Linhares, segundo o Serviço Geológico do Brasil.
Resgate de peixes no rio
O Iema informa que os peixes encontrados nas águas, agora barrentas, do rio Doce já não têm mais condições de contribuir para o repovoamento do Doce, de seus afluentes e lagoas próximas. Esses organismos já estão debilitados pela condição severa da água misturada a lama de rejeitos e, provavelmente, não sobreviverão ao transporte e também à diferença de condições que encontrarão nas lagoas, segundo o instituto.
Biólogo
O biólogo Marcos Vago explicou que as substâncias contidas na lama que avança pelo mar podem ser transferidas de um peixe para outro, por meio da cadeia alimentar.
"O problema maior da lama no mar é que essa lama contém metais pesados, e esses metais serão distribuídos em cadeias alimentares e aí acontece a transferência dessa substância. Esses metais são acumulativos e podem chegar até o homem, que se alimenta de animais marinhos", diz o biológo.
Ainda segundo Marcos, além do risco da contaminação, os metais presentes da lama podem prejudicar a respiração dos peixes. “A quantidade de minério é muito grande, ele acumula nas brânquias dos animais e pode impedir que eles façam a troca gasosa”, explicou.
“Muitos animais têm a região de Regência como berçário. A maioria das espécies vêm para poder se reproduzir na foz, onde há água salobra. Esses animais são os mais ameaçados”, disse.
Foz do Rio Doce é tomada por lama de mineração (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)Foz do Rio Doce é tomada por lama de mineração
(Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
Associação de pescadores
De acordo com a Associação de Pescadores de Regência, peixes mortos estão sendo retirados do mar. “A empresa está pagando pescadores para recolher os peixes mortos e levar para análise, para saber porque morreu, qual é a substância que está no corpo do peixe”, explicou o presidente da Asper, Leoni Carlos.
Ele também comentou a situação dos pescadores da vila. “Está crítica, péssima. Não tem como mais sobreviver do Rio Doce. O pescador hoje que não tem uma esposa empregada ou os filhos empregados não tem como colocar comida na mesa. Tenho 68 anos e criei meus filhos da pesca. Hoje meu neto me pergunta ‘vovô, cadê o Rio Doce?’”, contou.
Leoni Carlos também falou sobre a expectativa em relação ao futuro dos pecadores da região. “Eu não tenho mais esperança. Talvez daqui a uns 10 anos a situação melhore, mas até lá eu já morri”, lamentou.
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23/11 - Versão infográfico barragens Mariana (Foto: Arte/G1)

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