Duas semanas atrás, um incomum sorriso aparecia na face de um homem que estava preso havia 150 dias pela Operação Lava Jato. Otávio Marques de Azevedo, o presidente da segunda maior empreiteira do Brasil, a Andrade Gutierrez, estava diante de uma câmera e frente a frente com o juiz Sérgio Moro, que vai definir o seu futuro e de todos os mega-empreiteiros brasileiros presos sob suspeita de corrupção na Petrobras.
Ao invés de demonstrar a habitual tensão dos réus, o empreiteiro tentava fazer brincadeiras para descontrair o ambiente. A estranha tranquilidade tinha uma razão: seus defensores já estavam negociando um acordo de delação premiada e outro de leniência que podem resultar em sua saída da prisão mediante uso de tornozeleira eletrônica, no pagamento de uma multa de 1 bilhão de reais e na acusação de ao menos dois senadores que estariam envolvidos no esquema. Assim, ao invés de responder aos questionamentos feitos por Moro, Azevedo só agradeceu a sua família e disse que não falaria nada ao magistrado.
Nesta sexta-feira, o jornal Folha de S. Paulo revelou em sua versão on-line o bojo desse acordo. Duas pessoas que tiveram acesso às investigações confirmaram ao EL PAÍS que ele está a ponto de ser finalizado e seria firmado com a Procuradoria-Geral da República, com o Ministério Público Federal no Paraná e com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). Oficialmente, porém, nenhum desses órgãos confirmaram essa informação sob a alegação de que, caso ele exista, poderia ser maculado antes de ser homologado judicialmente por Moro e pelo ministro Teori Zavascki, o responsável no Supremo Tribunal Federal pelos casos envolvendo a Lava Jato. O advogado de Azevedo, Celso Vilardi, disse apenas que não pode comentar o assunto por questões éticas.“Eu queria rapidamente fazer um agradecimento à minha família, que nesses 150 dias me suportou, me apoiou, meus familiares, meus amigos e dizer que, por orientação dos meus advogados, que vou permanecer em silêncio.”
Segundo a Folha, a Andrade Gutierrez vai admitir que pagou propinas em uma série de obras que conduziu, além das que tocava com a Petrobras. Entre elas estariam empreitadas da Copa do Mundo de 2014, na usina nuclear Angra 3, na hidrelétrica de Belo Monte e na ferrovia Norte-Sul. Os procuradores já suspeitavam das irregularidades na Copa, mas não havia nenhuma prova concreta até o momento.
Em um primeiro momento, conforme pessoas que participam da negociação das tratativas entre o réu o Ministério Público, Azevedo não queria admitir a culpa. O que o motivou foram as frequentes citações feitas por outros delatores do esquema, como o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o lobista Fernando Soares, o Baiano.
Caso se concretize, esse será o maior acordo firmado até o momento pela Lava Jato, que já recuperou 1,8 bilhão de reais. Antes dele, o que obteve mais recursos de multa foi um assinado com a Camargo Corrêa – 800 milhões de reais – em julho passado. Para fechar esses acordos, o Ministério Público leva em conta o tamanho da organização e qual foi a participação dela no desvio. Por exemplo, a Camargo Corrêa é a quinta maior do país e teve uma receita líquida de 4,5 bilhões de reais no ano passado. Já a Andrade Gutierrez, a segunda, teve uma receita de 8,4 bilhões de reais e é acusada de ter pago cerca de 632 milhões de reais em subornos para obter contratos com a Petrobras.
Até agora, representantes de ao menos quatro empreiteiras já se comprometeram a colaborar com as investigações e entregar os outros participantes do suposto esquema de corrupção, entre eles políticos com foro privilegiado. Com a maior adesão dos empreiteiros, aumenta a pressão para que a Odebrecht, a principal construtora brasileira, siga o mesmo caminho. Na última vez que foi questionado sobre o assunto durante depoimento na CPI da Petrobras, o presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, que está preso em Curitiba, disse que não tinha nada para delatar.
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