BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central detectou recente aumento de riscos que têm afetado os preços dos ativos e, por isso, reforçou a mensagem sobre a necessidade de uma postura vigilante em meio ao período de ajustes na economia que pode ser mais longo e mais forte, abrindo o caminho para voltar a subir os juros básicos.
Neste contexto, a autoridade monetária informou que o cenário de convergência da inflação a 4,5 por cento pelo IPCA no final de 2016 tem se mantido "apesar de certa deterioração no balanço de riscos", alterando avaliação de até então de que esse cenário vinha se fortalecendo.
"Elevações recentes de prêmios de risco, que se refletem nos preços de ativos, exigem que a política monetária se mantenha vigilante em caso de desvios significativos das projeções de inflação em relação à meta", trouxe a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC divulgada nesta quinta-feira, elaborada antes do anúncio do rebaixamento do rating do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, na noite passada, que tirou o selo internacional de bom pagador do país.
Na semana passada, o BC encerrou o ciclo de aperto monetário iniciado em outubro de 2014 ao manter a Selic em 14,25 por cento ao ano, reforçando a sinalização de que a taxa básica de juros permanecerá nesse patamar por período prolongado.
Na ata, o BC divulgou que a projeção para a inflação em 2015 piorou no cenário de referência, permanecendo acima do centro da meta --de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. Por outro lado, a estimativa para 2016, no mesmo cenário, foi reduzida e encontra-se em torno do alvo de 4,5 por cento.
Ainda assim, o BC explicitou em diversos trechos a piora do cenário macroeconômico. "A perspectiva de nova mudança de trajetória para as variáveis fiscais, implícita na proposta orçamentária para 2016, afetou as expectativas e, de forma significativa, os preços de ativos".
O dólar tem disparado sobre o real nas últimas semanas e, até a véspera, acumulava alta de mais de 40 por cento. Nesta sessão, chegou a superar o patamar de 3,90 reais, mais um fator de pressão sobre a inflação.
"É um BC que vai ficar em compasso de espera para ver os desdobramentos da volatilidade doméstica, sobretudo ligados aos eventos da agenda da política fiscal", afirmou o economista-chefe do banco J.Safra, Carlos Kawall.
"Se não avançarmos nessa direção e continuarmos vendo o câmbio em território muito desvalorizado... acho que a gente corre risco de vermos elevação da taxa de juros", acrescentou ele, que mantém a projeção de alta da Selic no segundo trimestre de 2016, caso o cenário fiscal não deteriore muito.
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