Partidos a favor da independência da Catalunha da Espanha conquistaram a maioria absoluta no Parlamento regional, resultado que foi visto por separatistas como um mandato para seguir adiante com planos de divisão.
O cenário, no entanto, é incerto, já que os independentistas não obtiveram mais de 50% dos votos, o que indica que a maioria dos catalães é contra a separação.
A coalizão separatista Junts pel Sí (Juntos pelo Sim), que havia prometido iniciar um processo que levaria à independência da Catalunha em até 18 meses, conquistou 62 dos 135 assentos do Parlamento. Para ter controle da Casa, precisava ter obtido 68 cadeiras.
Para o líder da coalizão, Artur Mas, "os catalães votaram 'sim' à independência".
Para obter a maioria e formar o governo regional, o Junts pel Sí teria de se aliar a outro grupo que promove a independência, a formação radical de esquerda Candidatura d'Unitat Popular (Candidatura de Unidade Popular, CUP), que obteve 10 assentos. Uma aliança, no entanto, não deverá ser fácil: o CUP anunciou que não integraria um governo com o "Junts pel Sí".
Somados, os votos dos separatistas chegam a 47,9% do total.
Os partidos contrários à separação da Espanha dizem que a maioria dos eleitores rejeitam a independência catalã.
A segunda maior força política no Parlamento local agora é o jovem partido de centro-direita Ciutadans (Cidadãos), que obteve 25 assentos, o triplo do conquistado nas eleições regionais de 2012.
O partido, que se apresentará pela primeira vez nacionalmente nas eleições de dezembro, conquistou votos de cidadãos descontentes com forças tradicionais, como o Partido Socialista da Catalunha (PSC) e o conservador Partido Popular (PP).
O PSC perdeu espaço, ao conquistar apenas 16 assentos. O PP, do primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, teve um desempenho ainda pior: elegeu apenas 11 parlamentares, contra os 19 eleitos em 2012.
A participação do eleitorado, de 77,5%, superou em 10 pontos à registrada nas eleições regionais de 2012.
O que vem agora?
O cenário político complicado sinaliza semanas de negociações. Não será fácil formar uma coalizão, o primeiro obstáculo dos partidos será encontrar pontos comuns.
O "Junts pel Sí" é uma coalizão que envolve legendas de diversos conceitos políticos, incluindo os democratas-cristãos, enquanto a CUP é um movimento radical de esquerda.
Além de indicar que não integraria a coalizão, o CUP mostrou rejeição a Artur Mas, um político conservador, como presidente do governo regional.
A maior decepção para os separatistas seria não conseguir formar um governo com a maioria absoluta que conquistaram. Além disso, terão que enfrentar também o fato de a Constituição espanhola não permitir que regiões se separem.
O plano unilateral de independência do Junts pel Sí inclui a criação de novas instituições catalãs, uma Constituição própria, um Banco Central e um sistema judicial.
Como fica o governo Rajoy?
Uma vitória tão expressiva dos separatistas no Parlamento regional e um desempenho fraco do PP são um revés claro para o governo do premiê, Mariano Rajoy, três meses antes de eleições gerais, disseram analistas.
O governo de Rajoy se opõe à realização de referendos sobre separação - alguns chegaram a ser realizados, mas seus resultados não foram reconhecidos por Madri -, argumentando que violariam a Constituição espanhola, e garantiu que usará todos os recursos legais para evitar o processo de separação da Catalunha.
Mas, para alguns, o resultado do fim de semana mostra que o governo central deveria estar mais aberto ao diálogo.
O sentimento separatista aumentou durante a crise econômica espanhola, que levou o desemprego aos dois dígitos. Há temores crescentes que a articulação territorial da Espanha possa afetar a confiança dos mercados e a recuperação do país.
Apesar do resultado, o PP mandou uma mensagem de tranquilidade através das redes sociais, afirmando que seguirá "garantindo a unidade da Espanha".
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