quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Por que os EUA são país-chave para finanças da Igreja BBC Mundo

Barack Obama e papa Francisco na Casa Branca (Foto: Tony Gentile/Pool Photo/AP)Image copyrightAP
Image captionAlém da importância política, país de Obama tem hoje a 4ª maior população de súditos de Francisco
Ao pisar nos Estados Unidos, o papa Francisco chegou não apenas a uma das nações com as maiores populações de católicos no mundo, mas também àquela que desempenha um papel crucial no caixa da Igreja.
O país tem mais de 70 milhões de católicos, número superado apenas por Brasil, México e Filipinas – o músculo financeiro do Vaticano é fortalecido, em parte importante, pelas pequenas contribuições pessoais desses milhões de devotos.
Uma família católica norte-americana doa, em média, cerca de US$ 10 (R$ 41,40) por semana, muitas vezes colaborando com o dízimo espontâneo aos domingos em cada uma das 17.958 paróquias espalhadas pelos EUA.
Os números foram publicados pelo CARA (centro para pesquisas aplicadas no apostolado, na sigla em inglês), ligado à Universidade de Georgetown. Segundo os dados, essas paróquias recolhem anualmente US$ 8,5 bilhões (R$ 34,88 bilhões) em doações dos fiéis, valor 23% maior em relação ao que era arrecadado uma década atrás.
Os recursos vindos dos católicos norte-americanos são parte importante da renda de toda a Igreja, afirmou Jack Ruhl, professor da Universidade Western Michigan que estuda as finanças das dioceses do país, à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
(Foto: AFP)Image copyrightAFP
Image captionSegundo pesquisadores, paróquias dos EUA arrecadam nada menos que US$ 8,5 bilhões anuais
A relevância financeira dos EUA no contexto global da Igreja é sublinhada pela revista britânica The Economist, que em 2012 estimava em 60% o percentual da riqueza da instituição originado no país.

Na paróquia

É importante lembrar, porém, que a maioria do valor recolhido dos fiéis nos Estados Unidos não vai para os cofres do Vaticano. Esse dinheiro fica nas próprias paróquias, que têm grande autonomia administrativa.
"Com cerca de 3 mil dioceses distribuídas em todos os continentes, o princípio da subsidiariedade, ou seja, o manejo local das finanças das dioceses e ordens religiosas, é a única opção", advertiu em dezembro passado o cardeal George Pell, religioso que está à frente da recém-criada Secretaria Econômica do Vaticano, em declarações à publicação britânica Catholic Herald.
"As instituições são incrivelmente descentralizadas, operam como entidades individuais sob o guarda-chuva pastoral da Igreja. O papa não é um executivo sentado no Vaticano, com um grande mapa, dizendo: construam uma paróquia aqui, um hospital lá e fechem essa escola acolá", afirmou em seu blog Mark Gray, um dos pesquisadores do CARA.
Além dessa autonomia administrativa, não há sistemas financeiros centralizados, o que torna difícil estimar quanto exatamente é movimentado pela Igreja Católica norte-americana – e quanto chega ao Vaticano.

Uma Igreja, uma missão

As estimativas, sem dúvida, mostram a importância dos fiéis dos EUA dentro do conjunto dos seguidores do catolicismo no mundo.
Para o CARA, a maioria das paróquias do país usa sua renda apenas para cobrir seus próprios gastos – mais de 90% do valor arrecadado acaba ficando na própria comunidade, avalia.
Religiosos em cerimônia com o papa em Washington (Foto: Brendan Smialowski/AFP/Getty Images)Image copyrightAFP
Image captionParóquias doa EUA ficam com 90% do que arrecadam, segundo pesquisadores
Porém, como sustenta artigo publicado em 2014 na revista americana Salon, se apenas 10% desses recursos paroquiais forem destinados à administração central da Igreja, isso representaria a nada desprezível quantia de US$ 800 milhões (R$ 3,3 bilhões) anuais para ajudar a financiar o catolicismo no restante do país e no mundo.
Um documento disponível no site da Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos, intitulado One Church, One Mission (Uma Igreja, uma missão), indica que em 2011 foram realizadas coletas no país inteiro para ajudar os trabalhos católicos na América Latina, na Europa Central e Oriental e na África, entre outras regiões.

Desafios internos

Não são só os valores recolhidos pelas paróquias que pesam. O dinheiro que chega diretamente ao Vaticano via instituições de caridade também vem, em boa parte, de fontes norte-americanas.
Essa é a conclusão da revista Forbes, cujas estimativas apontam que, em 2011, um terço das doações diretas à Santa Sé partiram dos Estados Unidos, fatia que soma US$ 70 milhões (R$ 287 milhões).
Não dá para esquecer, no entanto, que a Igreja Católica também enfrenta múltiplos desafios financeiros no país, incluindo o pagamento de substanciais indenizações a vítimas de escândalos de abusos sexuais e o alto custo com as pensões do clero.

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