Gostaria de convidar o leitor a considerar os seguintes factos: ao mesmo tempo que é cada vez mais frequente o aparecimento de cartazes com a frase "José Sócrates Sempre", uma sondagem indica que a coligação governamental está à frente nas intenções de voto. O povo português tem muito apreço por maus governantes, circunstância que levanta algumas questões de psicologia colectiva. Estudos que se debruçam sobre as razões pelas quais algumas mulheres não abandonam os maridos que as maltratam podem ajudar-nos a compreender a psique nacional, uma vez que a relação que mantemos com o governo é, pelos vistos, muito parecida. Um conjunto de razões tem a ver com o receio do que o marido possa fazer se a mulher o abandonar. Por exemplo, as mulheres temem que o marido lhes leve os filhos. Na nossa relação com o poder político, este medo não se aplica. O governo não só não tem interesse em levar-nos as crianças como tem criado condições para que os nossos filhos residam em nossas casas até terem 40 anos.
Outro factor é o medo de que o marido enfurecido comece a espalhar calúnias sobre a mulher. Também não me parece que se aplique, uma vez que o governo já faz isso mesmo sem que nós o abandonemos. Desde piegas até calões que vivem acima das suas possibilidades, já nos chamaram tudo.
Outra razão para permanecer junto de um marido que inflige maus-tratos é o facto de ele manietar os movimentos da mulher, por exemplo não a deixando sair de casa. Também aqui, o caso é diferente. O governo até nos encoraja a emigrar.
Mais um motivo: a dependência económica. E, mais uma vez, não se aplica. O governo é que depende economicamente de uma mesada que lhe damos chamada IRS.
Há outros tipos de razões que podem impedir uma mulher de se libertar de uma relação violenta. Por exemplo, uma auto-estima baixa, que a faz pensar que não merece melhor. É possível que o povo português acredite que não merece melhor do que os governos que tem tido. Só um povo com uma auto-estima muito baixa se entusiasma com notícias do género "Cão de Barack Obama é um cão de água português". Se Cavaco Silva arranjar um pastor alemão, tenho quase a certeza de que notícia não aparecerá na imprensa germânica.
Por vezes, as mulheres vítimas de violência doméstica consideram que a sua situação é normal, uma vez que as suas mães sofriam do mesmo mal. Creio que este fenómeno ocorre também na relação do povo português com o seu governo.?É normal que eu seja maltratado, porque o governo dos meus pais também era violento. Aliás, o governo deles até lhes batia.
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