Em visita ao Google, na Califórnia, a presidente Dilma Rousseff teve a oportunidade ontem de conhecer um dos mais impressionantes avanços tecnológicos dos últimos anos: o carro autônomo, que anda sem motorista (na foto). A inovação tem um impacto semelhante ao causado pelas primeiras “carruagens sem cavalo”, que surgiram no final do século XIX. Parece mágica. Mas todos sabemos que não é. Há programas de computador sofisticados, capazes de interpretar os dados que recebem de câmaras e sensores para governar o automóvel.
Já escrevi aqui que a visita mais importante para Dilma nesta viagem aos EUA seria ao Google, pois ela teria oportunidade de ver e aprender como funcionam as coisas no maior centro de inovação do planeta, o Vale do Silício. Agora tenho dúvidas. É difícil acreditar que um passeio de 20 minutos num carro sem motorista seja capaz de mudar as ideias cristalizadas que ela tem sobre economia e desenvolvimento.
Um empresário desses que negociaram muito com o governo petista, depois acabaram presos na Operação Lava Jato, me descreveu bem como funciona a cabeça de Dilma: “Ela acredita que é possível estabelecer por antecipação um patamar ‘justo’ de lucro para um negócio, depois fazer as contas para saber quanto uma obra tem de custar”. Para ela, dizia o empresário, o governo tem o poder de estabelecer preços. A vida real, todos sabemos, não é bem assim. Preços flutuam, ora negócios são extremamente lucrativos, ora entram no vermelho, e os empreendedores apostam seu capital na maior parte das vezes sem saber como o mercado reagirá na realidade.
Daí vem a importância da inovação. As novas tecnologias permitem, ainda que temporariamente, estabelecer negócios mais saudáveis do ponto de vista financeiro – até que os competidores as copiem, e os preços naturalmente caiam. Depois venha a próxima inovação, e a próxima, e a próxima... Quem se beneficia dessa corrida tecnológica são os consumidores e a sociedade, cujo padrão de vida melhora. Será que o Google investiria tanta energia para desenvolver um carro autônomo se o governo tivesse estabelecido uma licitação com “tabelamento da margem de lucro”, como sonham nossos burocratas desenvolvimentistas?
O naufrágio político do governo Dilma tem origem na sua visão equivocada da economia. O resto é consequência. Quando a regra do mercado é o governo decidir o melhor, nada mais natural que surgirem empresários tentando usar a influência e a corrupção para receber favores do governo, como expliquei aqui na minha série de posts sobre a Lava Jato. Quando a realidade do mercado se impõe, a verdade vem à tona: contas públicas em desequlíbrio, pedaladas fiscais, queda no preço das commodities de que dependem nossas exportações, e a descoberta tardia de que o país pouco – se algo – tem feito para se transformar numa economia movida a inovação. Os investidores se mostram arredios, começa a recessão, a inflação e o desemprego voltam com força. Não é de espantar que a popularidade de DIlma esteja tão baixa.
Em conversas de bastidores, aumentam as menções àquela palavra proibida, que começa com “i”. A vida política está complicadíssima para Dilma. A questão não se resume aos políticos do PT investigados na Operação Lava Jato. Seu principal desafio é outro. Suponha que o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeite suas contas do ano passado, após a análise das explicações que seu governo deverá entregar este mês. Não é um cenário improvável. A partir daí, Dilma passará a depender de sua articulação no Congresso para evitar um processo por crime de responsabilidade fiscal.
Olhe então para o Congresso. De toda a confusão de ontem em torno da manobra que aprovou em primeiro turno a lei que reduz a maioridade penal para crimes hediondos, destaca-se uma frase do presidente da Câmara, Eduardo Cunha: “Duvido que alguém tenha condições tecnicamente de contestar uma vírgula”. Ele tem razão. Cunha lidera a oposição velada contra o governo Dilma. Hábil politicamente, conhece como ninguém os trâmites parlamentares. Demonstrou ontem mais uma vez – quantas já foram só neste ano? – que não há moleza para Dilma no Congesso. O desfecho do embate ainda é incerto. Por ora, a sensação é que o Brasil está dentro de um carro sem motorista – e não tem o software que seria capaz de fazê-lo andar sozinho.
Já escrevi aqui que a visita mais importante para Dilma nesta viagem aos EUA seria ao Google, pois ela teria oportunidade de ver e aprender como funcionam as coisas no maior centro de inovação do planeta, o Vale do Silício. Agora tenho dúvidas. É difícil acreditar que um passeio de 20 minutos num carro sem motorista seja capaz de mudar as ideias cristalizadas que ela tem sobre economia e desenvolvimento.
Um empresário desses que negociaram muito com o governo petista, depois acabaram presos na Operação Lava Jato, me descreveu bem como funciona a cabeça de Dilma: “Ela acredita que é possível estabelecer por antecipação um patamar ‘justo’ de lucro para um negócio, depois fazer as contas para saber quanto uma obra tem de custar”. Para ela, dizia o empresário, o governo tem o poder de estabelecer preços. A vida real, todos sabemos, não é bem assim. Preços flutuam, ora negócios são extremamente lucrativos, ora entram no vermelho, e os empreendedores apostam seu capital na maior parte das vezes sem saber como o mercado reagirá na realidade.
Daí vem a importância da inovação. As novas tecnologias permitem, ainda que temporariamente, estabelecer negócios mais saudáveis do ponto de vista financeiro – até que os competidores as copiem, e os preços naturalmente caiam. Depois venha a próxima inovação, e a próxima, e a próxima... Quem se beneficia dessa corrida tecnológica são os consumidores e a sociedade, cujo padrão de vida melhora. Será que o Google investiria tanta energia para desenvolver um carro autônomo se o governo tivesse estabelecido uma licitação com “tabelamento da margem de lucro”, como sonham nossos burocratas desenvolvimentistas?
O naufrágio político do governo Dilma tem origem na sua visão equivocada da economia. O resto é consequência. Quando a regra do mercado é o governo decidir o melhor, nada mais natural que surgirem empresários tentando usar a influência e a corrupção para receber favores do governo, como expliquei aqui na minha série de posts sobre a Lava Jato. Quando a realidade do mercado se impõe, a verdade vem à tona: contas públicas em desequlíbrio, pedaladas fiscais, queda no preço das commodities de que dependem nossas exportações, e a descoberta tardia de que o país pouco – se algo – tem feito para se transformar numa economia movida a inovação. Os investidores se mostram arredios, começa a recessão, a inflação e o desemprego voltam com força. Não é de espantar que a popularidade de DIlma esteja tão baixa.
Em conversas de bastidores, aumentam as menções àquela palavra proibida, que começa com “i”. A vida política está complicadíssima para Dilma. A questão não se resume aos políticos do PT investigados na Operação Lava Jato. Seu principal desafio é outro. Suponha que o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeite suas contas do ano passado, após a análise das explicações que seu governo deverá entregar este mês. Não é um cenário improvável. A partir daí, Dilma passará a depender de sua articulação no Congresso para evitar um processo por crime de responsabilidade fiscal.
Olhe então para o Congresso. De toda a confusão de ontem em torno da manobra que aprovou em primeiro turno a lei que reduz a maioridade penal para crimes hediondos, destaca-se uma frase do presidente da Câmara, Eduardo Cunha: “Duvido que alguém tenha condições tecnicamente de contestar uma vírgula”. Ele tem razão. Cunha lidera a oposição velada contra o governo Dilma. Hábil politicamente, conhece como ninguém os trâmites parlamentares. Demonstrou ontem mais uma vez – quantas já foram só neste ano? – que não há moleza para Dilma no Congesso. O desfecho do embate ainda é incerto. Por ora, a sensação é que o Brasil está dentro de um carro sem motorista – e não tem o software que seria capaz de fazê-lo andar sozinho.
(Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
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