segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Qual a mobilidade?


País - Sociedade Aberta

Qual a mobilidade?

Celso Franco
Em artigo publicado na grande mídia, o competente engenheiro Alexandre Sansão Fortes - o único componente do poder municipal, na área de trânsito, com quem consigo dialogar - expõe de maneira clara o seu projeto de BRT com o título “Ciclos de mobilidade”. Analisa corretamente as diversas intervenções havidas no sentido de aumentar a eficiência do transporte público, dito de massa, na nossa cidade.
Nesta altura da minha análise, para ser coerente com o título, é preciso que eu me coloque, repetindo aqui a genial consideração do saudoso engenheiro de tráfego Gerardo Penna Firme, o maior que conheci no Brasil e que, felizmente, muito me ajudou a ter sucesso nas gestões à frente do trânsito do Rio, quando definiu: “O transporte de massa está para o trânsito resolvido, como o sexo para o casamento. Ambos são muito importantes mas, sozinhos, não trazem a felicidade completa.”
Foi o que eu sempre procurei demonstrar nos meus escritos, em que defino a mobilidade urbana total, não apenas a dos ônibus, mas da malha viária, como um todo, a fim de que se possa dar aos veículos de socorro, principalmente à ambulância, passagem livre, em faixa sinalizada para ser liberada ao seu sinal sonoro de pedir passagem.
Recentemente, ao solicitar a três técnicos que considero capazes de entender o que proponho, com o sistema URV, no sentido de dotar a malha viária de uma mobilidade eficaz, eliminando o tráfego indesejável, inclui, evidentemente o engenheiro Sansão.
Infelizmente, por haver entendido mal o que proponho, considerou que eu me opunha ao sistema BRT, como solução paliativa do transporte de massa ideal, enquanto não chega o metrô. Teve a coragem moral de me enviar um e-mail, educado, em que defende o seu projeto de maneira veemente, convencido de que eu seria contra o seu projeto. Jamais escrevi isto. O que afirmo, e é de fácil comprovação, com uma simples enquete, é que os BRT não eliminam a presença de carros de passeio na quantidade capaz de criar a real mobilidade urbana. Felizmente, a certa altura, reconhece que não são antagônicos o URV e a implantação do BRT. Claro que não são, se completam, na medida em que o URV permite o racionamento da circulação de pessoas em seus carros particulares, de preferência lotados, eliminando os que circulam somente com o seu motorista (cerca de 96%), diminuindo assim, sem prejuízo da quantidade de pessoas transportadas, o número de veículos. É o que chamo de uso racionado das vias (URV), insuficientes, mesmo livres dos ônibus, agora segregados, para atender à demanda dos carros de passeio. É este o espírito que deve nortear a ação conjunta dos técnicos no sentido de dar à cidade a mobilidade tão propalada e tão mal interpretada.
Logo eu que, em 1968, criava nas vias principais de sentido único, faixas exclusivas para os  ônibus, a fim de implantar o principio básico da circulação de tráfego, de separar os veículos leves dos pesados, ser acusado de ser contrário à mobilidade dos ônibus.
Também, porque tínhamos mobilidade urbana tolerável, criamos a faixa de “Pista Livre” nestas mesmas vias, como agora propugno, para serem liberadas, a fim de darem passagem aos veículos de socorro, ao acionarem sua sirene. Para conseguir esta imprescindível melhoria, oficiei à Academia Nacional de Medicina, solicitando o seu apoio, a fim de conseguirmos, das autoridades, esta melhoria, aliás, urgente. 
Como nota cômica, nas faixas de ônibus, e era uma só, uma vez que a ultrapassagem era proibida e respeitada, sob rigorosa fiscalização, escrevemos a palavra “BUS”. Foi o suficiente para que um cronista de grande prestígio, que até me apoiava, criticar eu estar usando uma palavra inglesa.
Respondi-lhe educadamente que o BUS era abreviatura de “ômnibus”, do latim, “para todos” mas, se até ele havia entendido que se tratava de ônibus, nada havia de errado.
Como diria o saudoso Millor Fernandes: “Pano rápido”.
Mas mais importante do que a mobilidade real é que a contribuição da “taxa de racionamento” para os motoristas circularem usando o transporte solidário, entre donos de carro, nas horas de pico sem pagarem a elevada “taxa de congestionamento”(100reais/dia) para os solitários, será de 50 centavos /dia, ou 10 reais /mês, garantindo uma arrecadação capaz de tornar o transporte público, por BRT, ou ônibus, gratuito.
É esta a motivação minha e, espero emocionar ao engenheiro Sansão, para juntos somarmos esforços a fim de dotarmos o Rio, no ano dos seus 450 anos, além da real mobilidade desejada, a justiça social tão propalada e nunca praticada por seus diversos prefeitos do novo Estado do Rio, criado pela fusão com a Guanabara.

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