Preso em flagrante por tráfico internacional de drogas em 6 de dezembro do ano passado, o então presidente eleito do clube de futebol capixaba Desportiva Ferroviária, Edney José da Costa, tinha ligação com a quadrilha envolvida no transporte dos 445 quilos de cocaína encontrados no helicóptero do cartola do Cruzeiro Esporte Clube e senador Zezé Perrella (MDB-MG), de acordo com investigação da Polícia Federal (PF). Denúncia recente do Ministério Público Federal (MPF) contra Edney tornou pública a informação de que um helicóptero carregado com droga pousou no Espírito Santo em agosto de 2013, apenas três meses antes do flagrante na aeronave dos Perrellas, em novembro daquele ano. “Foi o mesmo grupo que organizou os eventos de agosto e novembro de 2013. Uma das diferenças foi a troca do helicóptero e de um dos pilotos”, afirmou o delegado da PF Leonardo Damasceno em entrevista concedida por e-mail.
De acordo com o inquérito da PF capixaba, que ainda não foi concluído e está sob sigilo, Edney seria o responsável pela logística do transporte marítimo da droga enviada a Portugal, pelo porto de Vila Velha, em agosto. A polícia acredita que a cocaína apreendida no helicóptero dos Perrellas também seria escoada nesse porto, com o mesmo destino. “Com o flagrante ocorrido em novembro de 2013, em Brejetuba/ES – Afonso Cláudio/ES, a droga não chegou à(s) pessoa(s) que a colocaria(m) no navio, o que ocorreria, provavelmente, em Vila Velha/ES, onde fica o terminal de Containers do porto de Capuaba”, disse o delegado.
O presidente eleito da Desportiva Ferroviária foi flagrado em dezembro do ano passado com 253 quilos de cocaína, que também iriam para Portugal em um contêiner carregado de milho. Com ele estavam outras cinco pessoas (veja quem são e o que eles dizem), incluindo o dono do sítio onde o helicóptero do senador Zezé Perrella pousou em 2013, o empresário de futebol Elio Rodrigues.
De acordo com a denúncia do MPF, os dois, em parceria com Jincley Caetano, eram os encarregados da logística portuária para o tráfico internacional de drogas. O MPF afirma que eles também estariam envolvidos no transporte de outras três cargas de cocaína apreendidas em 2017 antes de elas chegarem ao porto .
A relação de Edney com a quadrilha que transportou a droga no helicóptero de Perrella só veio a público agora, mas a Desportiva Ferroviária, presidida por ele, foi citada no depoimento dado por Elio Rodrigues, dono do sítio onde pousou o helicóptero, em 3 de dezembro de 2013. De acordo com o inquérito da PF juntado ao processo 0012299-92.2013.4.02.5001 – que trata do caso do helicóptero da família Perrella –, ele afirmou que era empresário de futebol e teria conhecido Robson Ferreira Dias, flagrado retirando a droga da aeronave, no clube capixaba.. Segundo Elio, Robson, também empresário de futebol, levou para treinar na Desportiva um jogador do time do Audax Rio de Janeiro, de nome David, que ficou hospedado durante três meses em uma quitinete. A Associação Desportiva Ferroviária confirmou à Pública, por meio de nota, que um atleta de nome David François Ferreira do Nascimento, com passagem anterior pelo Sendas Esporte Clube (RJ), atual Audax Rio de Janeiro Esporte Clube, atuou durante três meses no time sub-20 da Desportiva Ferroviária, na Copa Espírito Santo, em 2013. A diretoria do clube alegou desconhecer Robson e Elio e garantiu que os dois nunca exerceram função ou tiveram qualquer atuação no time.
Já o advogado de Edney, Raphael Vargas Calmon, disse que seu cliente e Elio se conhecem há muito tempo por trabalharem na área portuária. Além de cartola, Edney é agente portuário (despachante), e Elio tem um serviço de táxi direcionado para estrangeiros. Raphael disse que, apesar de o MPF ter incluído na denúncia que Edney está sendo investigado pela PF desde 2013 no caso de um helicóptero que transportou drogas em agosto, ele nunca foi chamado para depor. “Nunca apareceram provas contra ele.” O advogado negou ainda a existência de qualquer relação entre Elio e Edney na Desportiva Ferroviária. Raphael disse também que o presidente eleito do clube de futebol não sabia que tinha droga no contêiner carregado de milho. De acordo com o processo que resultou em sua prisão, Edney disse à PF que recebeu uma ligação de Jincley para ir a um galpão em Vila Velha para resolver uma questão e acabou preso.
Há 22 anos na Desportiva Ferroviária, Edney estava em seu quarto mandato como conselheiro e no segundo como diretor de logística e financeiro. Em agosto de 2017, ele foi eleito presidente do time, também conhecido como Tiva e Locomotiva Grená, para o triênio 2018-2020, mas renunciou em dezembro, depois de sua prisão. Era braço direito do presidente Wilson de Jesus, que estava à frente do clube havia cinco anos. A bandeira de Edney nas eleições do Tiva foi transparência..
Apesar de Edney, Robson e Elio serem empresários de futebol e de o helicóptero apreendido com 445 quilos de cocaína pertencer ao cartola de um dos maiores times do Brasil, e senador da República, e ao filho, ex-deputado federal, a possibilidade de ligação entre futebol, tráfico de drogas e política não foi nem está sendo investigada. “Não tem nenhum indício de qualquer envolvimento de clube de futebol nesse caso”, afirmou o delegado-chefe da Delegacia de Repressão a Drogas da PF, Leonardo Damasceno, em coletiva realizada um mês depois da apreensão da droga no contêiner, em dezembro do ano passado. “Para nós, essa questão dos Perrellas está encerrada”, havia dito o mesmo Damasceno apenas duas semanas após a apreensão dos 445 quilos de cocaína em 2013.
À Pública, o delegado afirmou que a Operação Dona Bárbara, da PF de São Paulo, excluiu a participação dos políticos a partir “do acompanhando do grupo criminoso, que era feito já há vários meses antes do flagrante de novembro de 2013 no Espírito Santo”. Damasceno afirmou recentemente, no entanto, que o envolvimento do helicóptero dos Perrellas no transporte de cocaína “tumultuou as investigações” e que isso seria o motivo de envolvidos, como Elio, estarem soltos. “Nesse caso de 2013, teve envolvimento com um helicóptero que era de um político e isso tumultuou um pouco aquela investigação e aquele caso. Por conta disso, algumas pessoas ficaram soltas. Mas o fato é que de 2013 para cá, quatro anos depois, conseguimos prender esse indivíduo [Elio Rodrigues] porque ele estava no galpão, na hora da colocação da droga”, explicou em coletiva de imprensa no dia da apreensão.
O advogado do senador Zezé Perrella, Marcelo Turbay, disse, por meio de nota, que o recente caso do presidente eleito da Desportiva Ferroviária e o episódio do helicóptero pertencente à empresa da família do senador Zezé Perrella “são casos absolutamente distintos e, em nenhum deles, há o envolvimento do senador ou de seus familiares”. “O próprio Ministério Público Federal e a Procuradoria-Geral da República pediram o arquivamento da investigação criminal em relação a Zezé e Gustavo Perrella, justamente por considerarem inexistente qualquer participação de ambos no fato”, acrescentou.
2013 X 2017 – Quem São Os Donos Da Droga?
2013 X 2017 – Quem São Os Donos Da Droga?
A PF ainda não desvendou quem são os verdadeiros donos da cocaína apreendida no flagrante em Vila Velha em 2017 – assim como não identificou o dono da droga encontrada no helicóptero dos Perrellas em 2013. De acordo com os dados obtidos nos autos dos dois processos, há indícios de que o tráfico tenha sido articulado pelo mesmo grupo. Nas duas ocasiões, há pessoas envolvidas com a droga no Paraguai, e a cocaína ia ser enviada para Portugal, pelo porto de Vila Velha. O único dos cinco presos no caso do helicóptero dos Perrellas que admitiu estar envolvido com o tráfico, Robson Ferreira Dias, disse em depoimento à PF, que consta no processo, que ele havia sido contratado, por R$ 20 mil, por um homem que conheceu no Rio de Janeiro chamado “Chácara”. A sua função era levar a cocaína até um posto de gasolina na entrada de Afonso Cláudio (ES). Ele ficou responsável também por buscar o combustível em Divinópolis (MG) para abastecer o helicóptero no Espírito Santo. Robson contou que conheceu “Chácara” pessoalmente em Ponta Porã (MS), mesma cidade de Wagner da Silva Fernandes, preso no episódio recente em Vila Velha. Wagner é apontado no inquérito como “amigo” do financiador da droga, o “Paraguaio”, ainda não identificado. Wagner alegou, no entanto, que não sabia da droga e que teria sido contratado para “tratar sobre uma carga de milho”.
De acordo com denúncia do procurador Carlos Vinícius Soares Cabeleira, o “Paraguaio” esteve em Vila Velha e se encontrou com Edney em um shopping. Como a investigação ainda é recente, não constam na denúncia os detalhes da rota da droga. Já o inquérito de 2013 identificou todo o trajeto do pó, feito com o helicóptero da família Perrella do dia 22 a 24 de novembro – foram identificadas trilhas e pontos nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso do Sul e no Paraguai –, mas a PF não concluiu quem era o verdadeiro dono da droga.
O piloto da aeronave de Perrella, Rogério Almeida Antunes, disse ter escutado falar que os proprietários seriam “pessoas grandes, pessoas importantes”, embora alegasse não saber especificar quem. Já o piloto Alexandre José de Oliveira, copiloto do voo, afirmou que foi contratado por um homem de nome “Harley”, que conheceu em São Paulo, no aeroporto Campo de Marte. Ele aparece em várias conversas telefônicas entre o grupo transcritas no inquérito policial. Harley seria o gestor do negócio. Foi ele quem coordenou o abastecimento do helicóptero durante o trajeto e passou as informações para “Frajola”, que seria o fornecedor da cocaína. Teria sido Harley, aliás, quem levou o combustível para o abastecimento da aeronave em Divinópolis. Ele saiu de Belo Horizonte, origem do helicóptero dos Perrellas. “Estou em BH. Estou saindo agora”, afirmou em conversa com Alexandre do dia 20 de novembro que consta no mesmo processo.
Durante as investigações também foi levantada a suspeita de a droga ser do dono de uma propriedade em Jarinu, em São Paulo, um dos pontos de pouso do helicóptero. “Outro momento digno de nota é aquele em que Alexandre esclarece a Rogério o itinerário que irão seguir, especificamente se referindo aos pontos de abastecimento, inclusive mencionando a propriedade de Jarinu/SP como sendo o ‘sítio do dono’”, destacou o juiz Marcus Vinícius na sentença proferida em 19 de dezembro de 2017. Os dados do GPS do helicóptero mostraram que o local seria o luxuoso Parque D’Anape Restaurante Hotel e Pesqueiro, um dos pontos de pouso da aeronave. Apesar das suspeitas, não houve investigação sobre o local. Os donos do hotel, por exemplo, não foram procurados pela polícia nem chamados para depor no caso. Os proprietários do empreendimento são Christiane Daud Pereira e Celso Antônio Daud Pereira. Christiane é quem administra o hotel. Filiado ao PRB de Jarinu, Celso possui outra empresa, de criação de bovinos para corte. Segundo relatos de Alexandre e Rogério, a droga foi descarregada em Jarinu no dia 23 de novembro e retirada no dia seguinte. Christiane afirmou que não tem nada a ver com essa história. “Sou uma pessoa idônea.” Seu advogado reforçou a afirmação e apresentou um documento solicitado pela Justiça de São Paulo, a pedido da defesa, em que o delegado Leonardo Damasceno diz que Christiane e Celso não “figuram como indiciados” e que, “após exaustivas investigações complementares realizadas para identificar outros partícipes, não restou comprovado qualquer envolvimento com o fato”. Ao ser questionado pela Pública sobre o motivo de os donos do hotel não terem sido chamados para prestar esclarecimentos, o delegado Leonardo Damasceno afirmou: “Não podemos informar sobre eventuais investigações em andamento, face ao dispositivo no artigo 20 do CPP [Código Processo Penal]”. Esse artigo diz que a “autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”.
O helicóptero dos Perrellas parou em várias cidades para abastecer. De acordo com informações do GPS e das anotações que estavam com Alexandre, os pontos de parada da aeronave nas rotas do período entre 22 e 24 de novembro foram, nesta sequência: Belo Horizonte (heliponto), aeroporto Campo de Marte (SP), aeroporto de Avaré (SP), aeroporto de Porecatu (PR), área rural próxima a Pedro Juan Caballero (Paraguai), aeroporto de Porecatu (PR), área rural próxima a Santa Cruz do Rio Claro (SP), aeroporto de Avaré (SP), área rural próxima a Jarinu (SP), aeroporto Campo de Marte (SP), aeroporto de Jundiaí (SP), área rural próxima a Sabarazinho (MG), aeroporto de Divinópolis (MG) e local de apreensão, Afonso Cláudio.
Além desses pontos, as investigações na linha do celular apreendido com Rogério, a partir de informações das antenas de celular móvel (ERBS), indicaram que ele esteve às 15h42 em Cláudio, a 22 quilômetros de distância de Sabarazinho, mas o piloto negou. O município de Cláudio ficou conhecido nacionalmente depois que o jornal Folha de S.Paulo revelou que o governo de Minas construiu um aeroporto dentro de uma fazenda do tio do senador Aécio Neves (PSDB).
Apesar de o helicóptero dos Perrellas ter sido apreendido no Espírito Santo, a PF de São Paulo sabia da rota do helicóptero e, inclusive, que ele estava parado na capital paulista carregado de cocaína e seguiria para o Espírito Santo. “A Polícia Federal em São Paulo teve conhecimento de que um helicóptero com drogas, objeto da investigação, se encontrava em São Paulo. Foram realizadas diligências, mas não houve êxito em abordá-lo na cidade, por razões operacionais. Então a PF em São Paulo informou à PF no Espírito Santo (destino do helicóptero) para que realizasse a abordagem, o que foi feito”, conforme nota enviada pela PF à Pública. As informações surgiram a partir de interceptações telefônicas de pessoas investigadas na Operação Dona Bárbara, que, desde 2012, apurava a participação de brasileiros no envio de cocaína da Colômbia ao México e Estados Unidos. Durante o inquérito, a PF de São Paulo descobriu que havia uma quadrilha de tráfico de cocaína envolvendo helicópteros nos trechos Brasil-Paraguai. A droga era adquirida no Paraguai e entregue no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.
As defesas dos réus questionaram a legalidade das interceptações telefônicas feitas pela PF de São Paulo. Durante sua defesa, o advogado do piloto Rogério, Paulo Henrique da Rocha, chegou a supor que foram interesses políticos que teriam impedido a PF de prender o helicóptero em São Paulo e em Minas Gerais.
Gustavo Perrella
A primeira sentença sobre a apreensão da cocaína encontrada no helicóptero dos Perrellas, em 2013, só saiu em 19 de dezembro de 2017, treze dias após o flagrante que levou à prisão do presidente eleito da Desportiva, Elio Rodrigues, e outras três pessoas, quatro anos depois de o fato ter ocorrido e dois anos depois de concluídos os autos. O juiz federal Marcus Vinícius Figueiredo de Oliveira Costa condenou por tráfico: Alexandre José de Oliveira (copiloto), Rogério Almeida Antunes (piloto), Everaldo Lopes da Souza (estava descarregando a droga do carro), Robson Ferreira Dias (estava descarregando a droga) e Elio Rodrigues (dono do sítio onde a droga pousou). As penas vão de 8 a 10 anos e 4 meses de prisão . Além disso, o juiz determinou que o helicóptero usado para transportar a droga, que pertencia à empresa Limeira Agropecuária, cujo dono é o ex-deputado federal Gustavo Perrella, fosse confiscado pela Justiça e repassado à União. O advogado da família, Marcelo Turbay, afirmou, por meio de nota, que a decisão do juiz “trata-se de interpretação jurídica equivocada, já que a empresa da família Perrella foi vítima de apropriação indébita da aeronave”. “A decisão não é definitiva e está sendo questionada nos tribunais, já contando com decisão favorável anterior do Tribunal Regional Federal a respeito”, acrescentou.
Em sua decisão (veja na íntegra), Marcus Vinícius alertou sobre a ausência, nos autos do processo, da continuidade da conversa que o piloto teve com Gustavo depois que o deputado liberou o helicóptero para seu funcionário fazer um frete. “Certo é que Rogério parece ter enganado seu patrão, muito embora não tenha vindo aos autos o teor das conversas subsequentes (‘Te mantenho informado’)”, afirmou o juiz. E conclui pela culpa cível da empresa. “Gustavo Perrella sequer se preocupa em saber que produtos seriam transportados, quem era o contratante, se o fretamento tinha sido formalizado por escrito ou qual a origem dos R$ 12.000,00 que lhe seriam destinados. Todas essas questões, triviais numa relação negocial (fretamento de aeronave), se revelam ainda mais importantes quando se leva em consideração que Gustavo Perrella ocupava o cargo de deputado estadual à época”, acrescentou. O juiz ressaltou também que Gustavo levou menos de uma hora para autorizar o frete, sem consultar os demais sócios da empresa. “Não vejo como afastar a culpa cível de Limeira Agropecuária Ltda. na modalidade de culpa por ato próprio de seu sócio Gustavo Perrella, quando autorizou o fretamento da aeronave ao arrepio das normas legais e regulamentares da aviação civil”, concluiu.
Piloto Público Privado
O pivô do escândalo, o helicóptero da família Perrella, era dirigido por Rogério Almeida Antunes, funcionário da Assembleia Legislativa de Minas, lotado na terceira secretaria da Casa, por indicação do então deputado Gustavo Perrella. Ele foi nomeado no dia 12 de março de 2013 como agente de serviço de gabinete. O primeiro contato de Rogério e Gustavo, no entanto, ocorreu em 2012.
Na época, Rogério era um dos poucos pilotos no Brasil que tinham carteira da marca do avião adquirido pelo parlamentar, modelo Robinson R66, tirada em Los Angeles. Foi um amigo português, que ele tem em comum com o Gustavo, que lhe telefonou dizendo da vaga de emprego. O então deputado combinou com Rogério que este buscasse a aeronave em Goiânia e a levasse para Belo Horizonte. Seria um teste, “sem compromisso”, acordou com o piloto.
Foi quase um ano trabalhando para a família até ser preso com 445 quilos de cocaína no Espírito Santo. Rogério chegou a morar na casa do senador, em Belo Horizonte, uma mansão na Pampulha, até conseguir alugar um apartamento no bairro Buritis, zona oeste da capital mineira.
Os cantores Latino e Zezé di Camargo e Luciano foram algumas das celebridades que pegaram carona, para fazer shows, no helicóptero do senador até Escarpas do Lago, um balneário localizado no município de Capitólio, interior de Minas, frequentado por pessoas com alto poder aquisitivo, aonde os Perrellas vão com frequência para descansar e para festas.
A Pública apurou que Rogério recebia um salário de R$ 12 mil, sendo R$ 1,7 mil oriundo do cargo que ocupava na Assembleia, como registra o Portal da Transparência. Além do salário do piloto, Gustavo e Zezé Perrella também usaram dinheiro público – uma parte da verba indenizatória do gabinete – para custear o combustível da aeronave. Entre janeiro e outubro de 2013, Gustavo gastou R$ 14.078,31 com querosene para avião. Já seu pai gastou R$ 11 mil, desembolsados do Senado. Em 2012, ano eleitoral, foram R$ 55 mil com abastecimento para Zezé Perrella.
Rogério garantiu, desde o início da apreensão até o fim do processo, que seus ex-patrões não tinham nada a ver com a droga. Segundo ele, foi o piloto de São Paulo, Alexandre José de Oliveira, que o convidou para fazer o frete, mas sem dizer do que se tratava. Rogério conhece Alexandre do aeroporto paulistano Campo de Marte, onde Alexandre tinha uma escola de formação de pilotos. Em seu depoimento, Rogério afirmou que viu que a carga era droga só na hora em que começaram a carregar o helicóptero, na fronteira do Brasil, no Mato Grosso do Sul, com o Paraguai. Para caber tudo na aeronave, tiveram de abrir as caixas. Ele disse que não fugiu por medo, porque havia pessoas armadas.
Tapera, JBS, Aécio
O helicóptero que ele pilotou carregando 445 quilos de cocaína do Paraguai ao Espírito Santo estava em nome da Limeira Agropecuária e Participações, uma das dezenas de empresas administradas pela família Perrella. O senador Zezé Perrella fundou a Limeira Agropecuária em 1999, em sociedade com o irmão Geraldo de Oliveira Costa. Um ano depois, ele se retirou da sociedade da empresa e passou suas cotas para a mulher de Geraldo. Em 2000, Zezé Perrella volta à sociedade da empresa, mas como pessoa jurídica, por meio da Tapera Participações e Empreendimentos Ltda., fundada por ele em 1994.
A Tapera, que hoje está em nome de Gustavo Perrella, foi a destinatária de parte dos R$ 2 milhões entregues pela JBS a Aécio Neves, segundo denúncia do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. O ex-assessor do senador Zezé Perrella, Mendherson de Souza Lima, foi preso em flagrante transportando o dinheiro.
A trajetória de sucesso de Zezé Perrella envolve um emaranhado de empresas e uma coincidência de nomes e sócios, alguns deles amigos e funcionários de longa data do senador, além de amigos do Cruzeiro Esporte Clube. Atualmente, no nome de Zezé Perrella está apenas a empresa Pental Participações, de consultoria empresarial, que tem como sócia a JNA Participações, que é do irmão do senador, Alvimar de Oliveira Costa, sua ex-mulher e seu assessor Cléber Martins Ferreira, que também é dono de dois frigoríficos.
De acordo com levantamento feito pela Pública com dados da Receita Federal, há 40 empresas em nome da família se levar em consideração o senador Zezé Perrella, seus irmãos – Alvimar, Gilmar e Geraldo de Oliveira Costa – e os respectivos filhos. Só os do senador possuem cinco empresas.
Além de acumular empresas, Perrella acumula inquéritos e processos. Em 2015, a Promotoria estadual entrou com ação por improbidade administrativa contra o senador por enriquecimento ilícito e lesão ao erário de 2007 a 2010, quando era deputado estadual. No mesmo ano, a PF indiciou o senador por lavagem de dinheiro e evasão de divisas na venda do jogador Luisão, em 2003. Já em 2016, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público abriu investigação para apurar como o cartola, que exerceu mandato de deputado estadual entre 2007 e 2011, adquiriu a fazenda Guará, em Morada Nova de Minas, produtora de grãos e gado. A propriedade valeria mais de R$ 50 milhões, apesar de Perrella ter declarado à Justiça Eleitoral, patrimônio de R$ 490 mil. No mesmo ano, a Controladoria-Geral do Estado (CGE) encaminhou ao MP o resultado de uma auditoria na Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), ambas públicas. O relatório apontou irregularidades em contratos de fornecimento de sementes que teriam provocado um prejuízo de quase R$ 19 milhões aos cofres públicos. Os contratos foram assinados pela Epamig, Emater e pela cooperada Limeira Agropecuária e Participações. Zezé Perrella responde a pelo menos dez processos na Justiça: seis na Justiça Federal em Minas e quatro na Justiça estadual.
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