Em nova gravação feita pela deputada Liliane Roriz (PTB), a presidente da Casa fala sobre os colegas da Mesa, que estariam tentando “dar um tombo” nela e na petebista
A transcrição de um novo grampo feito pela distrital Liliane Roriz (PTB) reforça os indícios de que a presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS) — além da própria Liliane e de integrantes da Mesa Diretora —, estaria envolvida em um esquema de desvios na saúde pública do DF. Segundo reportagem publicada no site do jornal O Globo na noite desta quinta-feira (18/8), Celina teria reclamado dos colegas da Mesa, que estariam tentando “dar um tombo” nela e em Liliane no suposto esquema. O plano, porém, não teria sido executado porque a presidente da Casa “puxou a carroça”.
Na transcrição divulgada pelo Globo, Liliane diz que não queria “criar caso”, ao que Celina responde: “Mas foi bom você ter criado caso. Os meninos foram ‘mala’. Eles querem fazer as coisas assim na (inaudível). Aqui na cara deles. Aí eu chamei eles lá na hora, aquela hora que eu chamei eles, eu chamei eles e falei assim: ‘Olha, a Liliane tá no projeto, porque eu já tinha atendido ela, aí vocês querem botar em outro lugar e não querem botar ela no grupo?”.
Na sequência, Celina completa: “O quê que eu acho? Eles pensaram o seguinte: ‘Como as meninas não se manifestaram nada, nós vamos dar o tombo nas meninas’. Aí eu virei a carroça: ‘Não vou votar isso, não. Eu tinha combinado de votar o da Liliane. Por que eu vou votar o de vocês?’. Acho que eles queriam entubar a gente”.
DefesaPela manhã, Celina Leão se defendeu atacando e desqualificou todas as denúncias sobre o suposto esquema de desvio de recursos instalado na saúde envolvendo integrantes da Casa. Na manhã desta quinta-feira (18), após reunião com os deputados distritais ela garantiu, ainda, que “a Mesa Diretora não vai se licenciar” durante as investigações dos fatos. A parlamentar atribuiu a divulgação dos grampos ao governador Rodrigo Rollemberg (PSB). “O governador está fazendo isso porque a CPI envolve a família dele… Liliane mente e fez isso a mando do Buriti… Isso vai ser desmascarado”, atacou.
A chefe do Legislativo local chamou de mentirosa a ex-vice-presidente da Câmara Liliane Roriz, que grampeou Celina e o ex-secretário-geral da Casa, Valério Neves. O conteúdo das gravações foi entregue ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), que abriu uma investigação. Segundo a presidente do Legislativo, Liliane estaria tentando tirar o foco dela mesma, já que está sendo julgada pela Justiça por improbidade administrativa e é alvo de um processo de cassação de mandato na Câmara Legislativa.
Grampos
Liliane teria começado a grampear os colegas no fim do ano passado, quando os parlamentares decidiam sobre o que fazer com uma sobra orçamentária da Casa. Em um primeiro momento, os recursos seriam destinados ao GDF para custear reformas nas escolas públicas. De última hora, no entanto, o texto do projeto de lei foi modificado e o dinheiro — R$ 30 milhões de um total de R$ 31 milhões — realocado para a Saúde. O valor foi destinado ao pagamento de serviços vencidos em UTIs da rede pública.
Liliane teria começado a grampear os colegas no fim do ano passado, quando os parlamentares decidiam sobre o que fazer com uma sobra orçamentária da Casa. Em um primeiro momento, os recursos seriam destinados ao GDF para custear reformas nas escolas públicas. De última hora, no entanto, o texto do projeto de lei foi modificado e o dinheiro — R$ 30 milhões de um total de R$ 31 milhões — realocado para a Saúde. O valor foi destinado ao pagamento de serviços vencidos em UTIs da rede pública.
Na ocasião, Liliane teria questionado a presidente da Câmara sobre a mudança na votação e ligou um gravador antes de começar a conversa. No áudio, é possível ouvir Celina falando que o “projeto” seria para um “cara” que ajudaria os deputados. A presidente da Casa disse ainda que Liliane não ficaria de fora: “Você (Liliane) tá no projeto, entendeu? Você tá no projeto. Já mandei o Valério falar com você.”
As denúncias feitas por Liliane atingem outros distritais, como o bispo Renato Andrade (PR) e Júlio César (PRB), líder do governo na Casa, além do ex-secretário-geral Valério Neves. Segundo é possível ouvir nas gravações, os dois teriam tentado fazer uma negociação com Afonso Assad, presidente da Associação Brasiliense de Construtores.
De acordo com o que Valério diz em um dos áudios, o empresário poderia intermediar contratos com a Secretaria de Educação. Mas Assad não teria levado a cabo o “compromisso”. “O Afonso disse que não poderia garantir nada”, diz Valério Neves em um dos trechos.
Com a negativa do empresário de participar do tal “compromisso”, segundo explica Valério nos áudios, o deputado Cristiano Araújo (PSD) teria conseguido o “negócio” das UTIs. Ao dizer o quanto os “hospitais iam retornar”, Valério sussurra que seria “em torno de 7%”. E diz ainda que todos os integrantes da Mesa Diretora tinham conhecimento do acordo. Celina, por sua vez, diz que se fosse para eles receberem algum tipo de ajuda, teria de ser para todos. Integram a Mesa Diretora Celina, Raimundo Ribeiro (PPS), Júlio César e Bispo Renato.
Fora do contexto
Por meio de nota divulgada no fim da tarde de quarta (17), a Mesa Diretora da Câmara Legislativa negou as denúncias de que os integrantes do órgão participariam de um esquema de corrupção envolvendo o pagamento de propinas em contratos da saúde pública do Distrito Federal. “Os deputados cumpriram com seu dever de legislar e a Mesa rejeita qualquer acusação de prática de ato ilícito.”
Por meio de nota divulgada no fim da tarde de quarta (17), a Mesa Diretora da Câmara Legislativa negou as denúncias de que os integrantes do órgão participariam de um esquema de corrupção envolvendo o pagamento de propinas em contratos da saúde pública do Distrito Federal. “Os deputados cumpriram com seu dever de legislar e a Mesa rejeita qualquer acusação de prática de ato ilícito.”
No documento, os distritais voltam a artilharia para a autora das denúncias, Liliane Roriz. A nota lembra que a Câmara “aprovou projeto de emenda aditiva destinando recursos para a Saúde proposto pela própria deputada Liliane Roriz”, e que “os áudios divulgados pela imprensa estão evidentemente editados, com as conversas fora de contexto”.
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