terça-feira, 30 de agosto de 2016

PT revê o passado em busca de um futuro


Em meio a um desfecho que seus líderes consideravam inimaginável, petistas contestam até a liderança de Lula



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RIO - A primeira pergunta é invariável: “O que você acha que aconteceu?” A segunda também: “Como é que chegamos a isso?” Líderes do Partido dos Trabalhadores voltam a se encontrar no fim de semana, em São Paulo, para outra rodada de discussões em busca de respostas.
Dois anos atrás, Dilma superou uma disputa presidencial acirrada, elegendo-se com uma diferença de 3,3%, ou seja, 3,5 milhões de votos num eleitorado de 105 milhões.

Voltará às urnas em dois meses. Desta vez, com pouco mais de 900 candidatos a prefeito.

É metade do número de candidaturas que registrou na última eleição municipal, em 2012.

Nesta terça-feira, em Brasília, o PT participa do epílogo de um enredo inimaginável para seus líderes, como tem repetido Lula: a destituição de Dilma Rousseff da Presidência da República.

Confirmadas as previsões sobre o julgamento político, Dilma será deposta e ficará inelegível até 2024. Lula, às vésperas de completar 70 anos, terá de se dedicar à luta pela sobrevivência em frentes diversas, imediatas e simultâneas.

Numa delas tentará evitar a cisão do PT, imerso na contestação à sua liderança deflagrada pelos grupos petistas que sonham mantê-lo distante da “refundação” do partido e da candidatura presidencial em 2018.

Noutra, vai batalhar para escapar do banco dos réus, onde estão fornecedores da Petrobras que confessaram lavar o dinheiro de corrupção em financiamentos eleitorais ao PT, PMDB, PP, PSDB e outras organizações partidárias.

Cismas proliferam. Na recente eleição para a presidência da Câmara, parte da bancada de deputados apoiou o deputado Rodrigo Maia, expoente de um partido (DEM) que Lula, na campanha para eleger Dilma, prometeu extirpar.

A própria Dilma sentiu na pele os efeitos da decomposição petista. Há duas semanas resolveu apresentar uma carta aberta aos senadores que decidem o seu futuro. E retomou a proposta de um plebiscito para convocação de eleições, coisa que não tem previsão na Constituição e já fora rejeitada pelo PT, com aval de Lula. Ela insistiu e foi à luta interna. Acabou derrotada por 87,5% do comando do próprio partido.


Prevalece, também, a preocupação com a própria sobrevivência na política. Já são perceptíveis no Congresso discretas negociações de parlamentares petistas com o governo Michel Temer. Em alguns casos, o tema é a preservação de aliados na burocracia federal, como ministérios e bancos públicos. Em outros, a agenda de conversas está centrada nos repasses de recursos federais, essenciais para muitos governadores e prefeitos, sobretudo os da regiões Norte e Nordeste.

Para líderes petistas, agora, é hora da busca por soluções às questões-chave sobre o que deu errado e como chegaram a esse ponto na ladeira da própria história.

Parte da resposta, certamente, está nas ambiguidades do ideário petista. Do liberalismo dos governos Lula, transitou para o intervencionismo de Dilma e derivou no atual estado da economia. Os brasileiros perderam 16% da renda média numa longa recessão que, entre outros efeitos, devastou o parque industrial e deixou 11,5 milhões de pessoas desempregadas — 3,5 milhões a mais do que o total contabilizado ano passado. Os mais afetados foram os jovens. Entre eles, o desemprego muito alto em 2015 (23%) subiu ainda mais neste ano (29,4%).

Na segunda-feira, no Senado, Dilma debitou os desequilíbrios internos “à crise internacional” e “à desvalorização” dos preços das matérias-primas exportáveis, como petróleo e minério de ferro. Adversários do PSDB retrucaram. Tasso Jereissati lembrou que, no ano eleitoral de 2014, o Brasil teve crescimento zero, enquanto a média mundial foi de 3,4%: “Não há qualquer relação entre a crise internacional e nossa tragédia econômica”.

À margem da retórica e das paixões partidárias, é certo que, na maior parte da era do PT no poder, o Brasil foi beneficiário de um ciclo mundial de valorização das matérias-primas, puxado pela China, combinado com a redução dos juros nos Estados Unidos.

Esse vento favorável percorreu todas as economias chamadas emergentes. Deram-se bem os governos que aproveitaram para ajustar suas contas. Outros ficaram expostos à fragilização política ao fim do ciclo de bonança das exportações de matérias-primas.

Há lições implícitas no caso brasileiro, acha Daniela Campello da Costa Ribeiro, professora da FGV-Rio, autora de estudos sobre oscilações do humor do eleitorado nos ciclos econômicos de países dependentes de matérias-primas.

— Se você perguntar para um analista de mercado, do tipo antipetista, ele vai responder dizendo que Lula foi um governante sortudo e Dilma uma presidente incompetente — comenta. — Mas se você perguntar para um petista, ele responderá que Lula deu sorte e Dilma deu azar. Nenhum dos dois tem razão. A verdade está no meio.




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