Cobrança de equiparação de vencimentos em relação à Polícia Federal, sensação de que a categoria não é prestigiada, rusgas com a Polícia Militar e disputas políticas internas. Operação da Polícia Civil em busca de melhores condições de trabalho é o ápice de insatisfações que aumentaram nos últimos meses
Há duas semanas, a Polícia Civil subiu o tom das cobranças pela reposição salarial da categoria. A principal reivindicação é a equiparação da carreira à da Polícia Federal. Mas há outros fatores que engrossam o caldo da crise em que está mergulhada a corporação. Um deles é a briga política dentro do próprio órgão. O terceiro ingrediente dessa mistura é o sentimento de injustiça em relação ao tratamento dispensado a outras categorias do funcionalismo, entre as quais, a Polícia Militar.
Há duas semanas, a Polícia Civil subiu o tom das cobranças pela reposição salarial da categoria. A principal reivindicação é a equiparação da carreira à da Polícia Federal. Mas há outros fatores que engrossam o caldo da crise em que está mergulhada a corporação. Um deles é a briga política dentro do próprio órgão. O terceiro ingrediente dessa mistura é o sentimento de injustiça em relação ao tratamento dispensado a outras categorias do funcionalismo, entre as quais, a Polícia Militar.
Segundo integrantes da PCDF, quando as remunerações das duas categorias nos últimos anos são comparadas, verifica-se que o contracheque da Polícia Militar recebeu acréscimos maiores do que o da Polícia Civil. Em 2009, um coronel da PM (maior patente da corporação) recebia o valor bruto de R$ 14.554,25. Em 2016, os dígitos pularam para R$ 21.721,13 — aumento de 49%. Já o delegado classe especial da Polícia Civil embolsava, em 2009, R$ 20.072,82. Sete anos depois, a folha de pagamento desse mesmo servidor é de R$ 23.263 — reajuste de R$ 15,89%.
No mesmo período, um soldado da PM viu seu salário crescer de R$ 4.056,79 para R$ 7.190,98, o que equivale a um aumento de 77,26%. O pagamento de um agente de polícia da 3ª classe — piso da categoria — passou de R$ 7.887,33, em 2009, para R$ 9.156,78 em 2016, o que corresponde a um acréscimo de 16,09%.
A diferença nesses percentuais é um dos argumentos da Polícia Civil para justificar a necessidade de recomposição salarial, uma vez que a crise econômica e a inflação deterioraram o poder de compra da população nos últimos anos. A remuneração, no entanto, é apenas um dos aspectos que encorpam a rixa entre as duas polícias. A Civil reclama também do conflito de atribuições desde que PMs passaram a registrar crimes — os chamadosTermos Circunstanciados de Ocorrência (TCO).
A prerrogativa permite aos PMs fazer o TCO e encaminhar os envolvidos nas ocorrências diretamente ao Judiciário, sem passar pelas delegacias. Os defensores da iniciativa alegam que a medida pode agilizar os trâmites burocráticos e desafogar as delegacias. Mas representantes da Polícia Civil reclamam da diminuição das próprias atribuições. As discussões sobre os TCOs ampliaram o mal-estar entre as corporações.
Reajuste da PF
O debate sobre os TCOs ficou de lado em julho, quando a Polícia Federal conseguiu, por meio de um projeto de lei assinado pelo presidente da República em exercício, Michel Temer (PMDB), aumento escalonado de 37%. Foi a senha para a PCDF lembrar Rodrigo Rollemberg (PSB) da promessa de equiparação, feita durante a campanha ao Buriti. MasRollemberg alega não ter dinheiro em caixa para honrar o compromisso.
O debate sobre os TCOs ficou de lado em julho, quando a Polícia Federal conseguiu, por meio de um projeto de lei assinado pelo presidente da República em exercício, Michel Temer (PMDB), aumento escalonado de 37%. Foi a senha para a PCDF lembrar Rodrigo Rollemberg (PSB) da promessa de equiparação, feita durante a campanha ao Buriti. MasRollemberg alega não ter dinheiro em caixa para honrar o compromisso.
Os problemas entre os policiais e o GDF não acabam por aí. As escolhas de Rollemberg na área da segurança desagradam os integrantes da PCDF desde o começo da gestão do socialista. Primeiro, começou com a escolha do sociólogo Arthur Trindade para ocupar a Secretaria da Segurança Pública. As reações foram rápidas. Para a categoria, o professor da Universidade de Brasília (UnB) não entenderia o funcionamento operacional das forças de segurança.
Trindade ficou no cargo até novembro do ano passado, depois de enfrentar desgastes também com a Polícia Militar. Mais uma vez, Rollemberg não optou por algum nome da segurança para ocupar a cadeira. Nomeou a psicóloga Márcia de Alencar para comandar uma das pastas mais críticas do governo. Novamente, a categoria reagiu mal.
Disputas internas
Outro problema que desgasta a Polícia Civil hoje fica dentro da própria corporação. Grupos diversos disputam o comando do órgão. As diferentes forças políticas ficaram ainda mais evidentes esta semana, quando servidores em cargos de chefia e delegados colocaram os cargos à disposição. Nos bastidores, houve muita pressão para que o diretor-geral da PCDF, Eric Seba, deixasse a cadeira n° 1 da instituição. Sindicalistas chegaram a anunciar que o dirigente havia se comprometido a pular do barco, caso o GDF não apresentasse nova proposta de reajuste salarial.
Outro problema que desgasta a Polícia Civil hoje fica dentro da própria corporação. Grupos diversos disputam o comando do órgão. As diferentes forças políticas ficaram ainda mais evidentes esta semana, quando servidores em cargos de chefia e delegados colocaram os cargos à disposição. Nos bastidores, houve muita pressão para que o diretor-geral da PCDF, Eric Seba, deixasse a cadeira n° 1 da instituição. Sindicalistas chegaram a anunciar que o dirigente havia se comprometido a pular do barco, caso o GDF não apresentasse nova proposta de reajuste salarial.
O grupo que apoia Seba, contudo, não via sentido nesse movimento. A eventual saída do diretor-geral deixaria o caminho para o comando da corporação livre para os opositores. O principal argumento dos grupos contrários à atual administração é que Seba estaria mais alinhado aos interesses do GDF do que dos servidores.
Greve brancaMesmo que os problemas na Polícia Civil pareçam longe de serem pacificados, em um ponto a categoria concorda: não há volta no movimento que pressiona cada vez mais o Palácio do Buriti. O mais novo capítulo desta novela ocorreu na assembleia de quinta-feira (18), quando foi anunciada a ampliação da Operação PCDF Legal. A novidade é que 300 viaturas serão “encostadas” na próxima segunda-feira (22). Haverá a “entrega simbólica” dos veículos que precisam de manutenção. Dessa forma, os trabalhos da PCDF, que está com a maioria das investigações e das diligências travadas, ficarão ainda mais travados.
Outra frente de ação da categoria é sensibilizar órgãos de controle, na tentativa de evitar pedidos de intervenções judiciais que possam coibir o movimento dos servidores. Os sindicatos dos policiais civis (Sinpol) e dos delegados (Sindepo) vão realizar reuniões com representantes do Tribunal de Contas do DF (TCDF), do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e deputados, tanto distritais quanto federais, para expor as demandas e buscar apoio. Uma nova assembleia será feita na próxima quinta-feira (25) para discutir a situação. Uma paralisação geral não está descartada.
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