terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Ministra da Justiça quer reabrir tribunais, mas não diz quantos

Francisca Van Dunem acredita que reforma do mapa judiciário teve um "efeito perverso". Questionada pelos deputados da oposição, a ministra não adianta se vai reabrir todos os tribunais ou só alguns.
A ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, diz que a reforma dos tribunais realizada pela sua antecessora Paula Teixeira da Cruz teve um "efeito perverso", ao afastar as populações da justiça, e promete corrigir a situação, reabrindo edifícios fechados pela reforma do chamado mapa judiciário, que levou ao encerramento de 47 tribunais. Questionada pelos deputados da oposição, a ministra não adianta se vai reabrir todos os tribunais ou só alguns.
Na sua primeira audição na comissão parlamentar de direitos, liberdades e garantias, a decorrer esta terça-feira à tarde, a governante traçou um quadro pouco risonho da justiça portuguesa. Falou em estabelecimentos prisionais em que os reclusos vivem em condições "desumanas" , como em Lisboa, e na situação "tóxica" em que a reforma dos tribunais deixou a base do Ministério Público, por via da promoção e da transferência de muitos procuradores. 
Van Dunem assegurou que a reforma do mapa judiciário será "revisitada comarca a comarca, município a município", tanto mais que o novo desenho territorial teve "alguns efeitos perversos", ao alargar distâncias, afastando os tribunais das populações. A governante, ex-procuradora-geral distrital de Lisboa, salientou que os problemas detectados são mais acentuados nos tribunais de famílias e Menores. 
Acelerar o andamento dos processos nos tribunais é um dos objectivos de Francisca Van Dunem - que quer que os utentes da justiça sejam informados do prazo previsível de resolução das acções em que estão envolvidos. "Isso já é feito no tribunal de Vila Real", observou a ministra. Aproximar os tribunais das populações, obter uma maior resposta judicial e melhorar o tratamento de casos ligados à criminalidade mais grave e complexa são outras prioridades da governante, que tenciona anunciar em breve medidas destinadas a simplificar os procedimentos relacionados com os passaportes e cartões do cidadão. 
 Van Dunem alertou ainda os deputados para o congestionamento que atinge os tribunais administrativos e de comércio e para as dificuldades sentidas, por "juízes isolados", nos tribunais tributários, ao lidarem com processos complexos e de elevado valor. Admitiu a possibilidade de serem revistas as alçadas dos tribunais fiscais.
A governante reconheceu que a Polícia Judiciária precisa de reforços, mas sobretudo de outra "capacitação", designadamente no domínio da criminalidade económico-financeira.
Um dia após dar posse ao novo diretor dos serviços prisionais, Van Dunem reiterou que o sistema prisional está "violentamente pressionado" pela sobrelotação e pelas restrições orçamentais, observando que nos últimos anos registou-se um subfinanciamento das cadeias, tendo em 2015 as prisões perdido 29 milhões de euros. A magistrada de carreira admitiu que, em alguns estabelecimentos prisionais, as condições de detenção são "desumanas" e que o "Estado não tem o direito de privar a dignidade" aos reclusos, pelo que a questão deve preocupar todas as bancadas parlamentares.
A ministra justificou a abertura do concurso para formação de mais 126 magistrados com o défice destes profissionais, notando que, em 2015, nos tribunais judiciais 37 magistrados cessaram funções e outros sete estão em condições de se aposentarem. Alertou também para o facto de vários magistrados estarem muito perto de completar os 70 anos (idade máxima para o exercício de funções), designadamente no Supremo Tribunal de Justiça, pelo que renovação de quadros não pode ser negligenciada.
Questionada sobre a aplicação informática Citius, a ministra reconheceu que se trata de um "corpo frágil e pequeno", mas, segundo depoimento dos técnicos, está actualmente "estável e a funcionar", estando a registar melhorias no seu desempenho. A ministra falou ainda das custas judiciais, tendo referido que o aumento destas taxas, no passado recente, teve por objectivo bloquear e restringir o acesso aos tribunais como forma de evitar o seu "congestionamento". Não adiantou, contudo, medidas concretas para tornar a justiça menos onerosa para os cidadãos. Com Lusa

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