Dizem que eu, o cavalo está na Terra a 60 milhões de anos,
enquanto o ser humano há apenas 60 mil anos. O que faz pensar, então, que,
apesar de estar aqui há mais tempo, eu só existo para ter alguma utilidade a
ele? Que eu não devo estar no mundo para razões próprias? Que eu devo ter um
“dono” como se eu fosse uma mercadoria? Como se fosse uma coisa, sem dignidade,
sem direitos básicos, apenas com o dever de servir a algozes.
Nós, cavalos, somos usados por nossa força e “ausência de
racionalidade”. Ah, esses humanos, sempre muito bem confortáveis em seus tronos
de opressores, e protegidos atrás de leis muito oportunas.
Não achem que gostamos de ser escravizados para benefícios financeiros
humanos, sejam em rodeios e corridas, seja em carroças e charretes.
Por favor, não ponham palavras na minha boca, manipulando
ainda mais a minha imagem como “feliz escravo”, para acalmar e anestesiar os
que ainda não se posicionaram, ou preferem sempre manter tudo como está. Se não
luto contra é porque estou doente (física e mentalmente), desamparado,
amarrado, sozinho, acuado, sem esperanças... Aliás, acuar é algo que alguns
seres humanos gostam muito de fazer para oprimir. Coagir, intimidar, manipular,
perseguir, usar, controlar... E, quando fazem com os animais não humanos, e
gostam disso, certamente fazem com animais humanos também.
A escravidão, nada tem a ver com os maus tratos físicos.
Escravidão é o estado de servidão. Falta de liberdade; dependência, submissão.
A utilização de nossa força, explorada para fins econômicos, como propriedade
privada. Estou sempre escravizado sim. E claro, onde há exploração, não há
respeito. Portanto, os maus tratos físicos estarão SEMPRE juntos com a exploração.
Acreditar que fiscalização e legalizações irão magicamente dissipar isso é
inocência ou cegueira. Assim como acreditar que só os ferimentos visíveis em
minha carne são o meu problema, como se eu fosse apenas um objeto.
Não sou natureza. Sou um indivíduo. Não devo ser preservado.
Devo ser respeitado. Os que me veem como indivíduo e me respeitam, estão sendo
humilhados e calados para que os demais se confundam, não percebam, não
defendam minha dignidade e minha liberdade.
Se as carroças acabarem, nós teremos a liberdade. Se as
carroças continuarem, nós continuaremos sendo escravizados, explorados e
torturados, procriados e vendidos, até cairmos doentes e morrermos sem amparo,
atropelados e abandonados em estradas, ou vendidos a abatedouros ilegais; e nossos
filhos arrancados continuarão no ciclo de sofrimento.
“Os animais do mundo existem para os seus próprios
propósitos. Não foram feitos para os seres humanos, do mesmo modo que os negros
não foram feitos para os brancos, nem as mulheres para os homens.” Alice
Walker.
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