Tudo o que sei sobre imoralidade, devo-o à FIFA. Não sei se o leitor reparou no que eu fiz aqui. Parafraseei a conhecida frase de Albert Camus: "Tudo o que sei sobre a moral, devo-o ao futebol." Está bem apanhado, não está? É pena que Camus já cá não esteja, para completar a sua educação: aprendia moralidade com o futebol e imoralidade com o organismo que manda no futebol.
As pessoas que não se interessam por futebol perderam esta semana, além de mais um curso completo de ética, aulas importantes de economia, geopolítica e direito internacional. Se o leitor deseja cultivar-se, devia assistir a um Paços de Ferreira-Marítimo. Para começar. Depois poderá ir evoluindo, devagarinho, para jogos mais complexos, até estar apto a acompanhar o processo de organização de um mundial. Nessa altura, poderá compreender a investigação que o jornal alemão Die Zeit divulgou esta semana. Parece que, há dez anos, a Alemanha enviou armas para a Arábia Saudita como forma de garantir que aquele país daria o seu voto aos germânicos para que estes pudessem organizar o campeonato do mundo de futebol, em 2006 - o que veio a suceder. Além disso, a Volkswagen e a Bayer prometeram fazer investimentos avultados na Coreia do Sul e na Tailândia se estes países votassem, igualmente, na Alemanha. Repare que o assunto é interessante e digno, uma vez que se trata de futebol e democracia, dado que o objectivo é ganhar uma eleição. Infelizmente, o voto de Portugal na FIFA não parece ser apetitoso e, pelo menos até agora, não há notícia de que nos tenham oferecido armas nem dinheiro. É uma pena, porque isso faria mais pelo desenvolvimento sustentado da economia portuguesa do que vários governos. Creio que Portugal deveria aplicar-se na exportação de votos. País que desejasse organizar o mundial poderia candidatar-se ao nosso voto favorável, mediante a apresentação de um caderno de investimentos. Além do voto, Portugal pode oferecer ainda uma ou outra infra-estrutura, caso o país interessado possua meios para desmontar e transportar estádios às peças, podendo para o efeito escolher entre o de Aveiro, o de Leiria e o do Algarve, por exemplo. Se a FIFA organizar um mundial de futebol de seis em seis meses, podemos livrar-nos da crise já em 2018. Se há coisa que não nos falta é gente com experiência em conspirar nos bastidores do futebol. Temos as competências, temos o chamado know-how, temos a experiência. É uma vergonha que haja escândalos no futebol internacional e nós não participemos. Portugal: é a hora.
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