Esta semana, três ataques terroristas em um mesmo dia, em três países diferentes, mataram pelo menos 64 pessoas, além de um terrorista. Os atentados foram atribuídos ao grupo Estado Islâmico.
Essa organização consegue convencer muitos jovens da Europa a largar tudo, para se dedicar a uma vida de terror. O Fantástico entrevistou um homem que trabalhava como recrutador desses militantes. Ele explicou como agia, e disse que agora mudou de lado.
Em uma praia na Tunísia, um atirador abriu fogo contra turistas. No Kuwait, um homem-bomba explodiu uma mesquita durante as orações. E na França, uma usina química foi atacada e um homem decapitado. Em um único dia, três casos de ataques radicais islâmicos, resultado do trabalho de recrutadores. Maajid Nawaz já foi um extremista islâmico e tinha um papel fundamental para os grupos radicais.
“Eu me juntei a um grupo radical quando tinha 16 anos. Aí me mudei para Londres, entrei na faculdade e me tornei um recrutador. Eu era presidente da união dos estudantes e comecei a recrutar pessoas no campus da faculdade”, conta o ativista Maajid Nawaz.
Maajid Nawaz jura que nunca matou ninguém, mas...
“Infelizmente, como resultado das minhas atividades, alguém que não pertencia ao meu grupo, mas nos apoiava, matou outra pessoa dentro do campus. Obviamente fui expulso da universidade, mas eu continuei com minhas atividades”, diz Maajid Nawaz.
Objetivo dos recrutadores
Assim como ele, dezenas de recrutadores de grupos extremistas agem em escolas, universidades, mesquitas e, principalmente, na internet. O objetivo: seduzir jovens para que se unam à guerra santa que esses grupos promovem contra o Ocidente. E o grande medo da Europa atualmente é que esses recrutados voltem para o continente para cometer atentados.
O Estado Islâmico, o grupo terrorista mais temido do mundo, usa vídeos bem produzidos para vender uma imagem de aventura e rebeldia, que termina em execuções das formas mais brutais possíveis. E nenhum adolescente é jovem demais para virar presa dos terroristas.
Videogame usado para enviar instruções
Recentemente, um menino de 14 anos foi condenado na Áustria a dois anos de cadeia por fazer parte de um plano de um atentado terrorista no país. Ele usou o console de um videogame para receber instruções do Estado Islâmico sobre como construir uma bomba.
Um brasileiro que vivia na Europa já foi recrutado pelos radicais. Kaike Ribeiro foi preso tentando chegar na Síria. Brian de Mulder, filho de uma brasileira, também se uniu ao Estado Islâmico.
A Grã-Bretanha ficou chocada com o caso de três meninas, com idades entre 15 e 16 anos, que fugiram do país para se tornar noivas de terroristas do Estado Islâmico na Síria. As famílias não desconfiavam de nada e só descobriram a fuga quando viram as fotos delas embarcando no aeroporto.
Um dos terroristas mais famosos do mundo aparece em vídeos de execuções, como a do jornalista James Foley. Jihadi John é britânico.
O atentado dessa semana, na Tunísia, foi cometido por um homem que tinha se unido ao Estado Islâmico há apenas seis meses.
“Surpreendentemente é muito mais fácil do que as pessoas pensam recrutar jovens para grupos radicais. A razão é que muitos deles são revoltados, simplesmente porque são adolescentes. Aí é muito fácil capitalizar essa revolta se tem uma marca de sucesso atrás de você. Por isso, é importante combater essa imagem do Estado Islâmico. É importante mostrar as derrotas deles. Se eles aparecerem sempre como vencedores podem dizer que Deus está do lado deles. É preciso vencê-los não apenas no campo de batalha, mas na guerra da propaganda”, diz Maajid Nawaz.
Escola muçulmana em Londres tenta prevenir
Prevenir é o que uma escola muçulmana de Londres tenta fazer. E começa cedo. As crianças começam a estudar na escola aos quatro anos de idade e ficam até os onze. Depois elas vão para uma outra escola de ensino médio, e é aí que começa o perigo. É quando os extremistas costumam se aproximar. Por isso, eles tentam preparar as crianças na escola para esse futuro e isso ocorre em todas as disciplinas. Como pode ser visto em um trabalho sobre a história da lei britânica. A intenção é mostrar para elas que a fé pode ser diferente da praticada pela maioria dos britânicos, a cultura também, mas os valores são os mesmos.
“Queremos criar muçulmanos britânicos que entendam a sociedade em que vivem, muçulmanos que tenham orgulho do que são, mas respeitem a fé e a origem dos outros”, diz o diretor da escola, Zafar Ali.
Abandonou o extremismo
Depois de anos recrutando jovens para um grupo radical, Maajid foi preso no Egito em 2001. Ao receber apoio de grupos como a Anistia Internacional, ele mudou a visão sobre o Ocidente e abandonou o extremismo. Escreveu um livro contando a história dele, chamado "O Radical", se tornou consultor do governo britânico e criou uma fundação para ajudar jovens e evitar o extremismo. Algo que põe a vida dele em risco. Maajid não gosta de falar sobre isso.
“Digamos que eu não tenha o trabalho mais seguro do mundo”, diz Maajid.
“É muito difícil desradicalizar alguém. Acho que a melhor maneira é prevenir. Uma vez que alguém se juntou ao Estado Islâmico é muito difícil trazer de volta”, acredita Maajid.
Um esforço para que o radicalismo religioso seja contido antes de fazer as suas vítimas.
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