Avança sem freio o terror do islamismo radical. A violência jihadista mostrou nesta sexta-feira sua capacidade letal com três ataques simultâneos em lugares tão distantes como Tunísia, Kuwait e França, os quais causaram a morte de pelo menos 60 pessoas. Os terroristas mataram dezenas de turistas em uma praia tunisiana e fiéis xiitas em uma mesquita do Kuwait, e decapitaram um homem e feriram várias pessoas em uma instalação industrial na França, perto de Lyon. O Estado Islâmico assumiu a autoria do ataque kuwaitiano. O Califado, cujo aniversário de proclamação será na segunda-feira, havia pedido a seus adeptos que atacassem os “hereges” durante o Ramadã. Hoje é a segunda sexta-feira do mês muçulmano do jejum.
Os atentados transcorreram ao longo da manhã e comoveram o mundo inteiro à medida que se sucediam as notícias dos ataques em três continentes e o número de mortes aumentava. Vários países europeus elevaram o nível de seu alerta antiterrorista ao mesmo tempo que prometiam continuar unindo forças para prosseguir com sua luta no Oriente Médio contra o EI.
A ofensiva do terror ocorreu em paralelo com novos avanços do EI, cujas tropas investem de novo contra a cidade de Kobani, onde nesta sexta-feira perpetraram uma matança de civis, segundo denunciou uma organização de defesa dos direitos humanos. É nessa frente que a coalizão liderada pelos Estados Unidos, integrada também por países árabes e ocidentais, põe em dúvida a eficácia para combater “exércitos” surgidos do dia para a noite e que são capazes de pôr contra as cordas seus inimigos nas próprias casas.Os ataques tiveram como alvo os três objetivos costumeiros dos jihadistas, os seus “inimigos” mais citados em seus proclamas: um país muçulmano que por meio de uma transição democrática se distancia do islamismo radical; fiéis xiitas; e os países europeus, entre os quais se destaca a França, o Estado que combate o jihadismo em três frentes: Iraque, Mali e República Centro-Africana.
O ataque mais mortífero teve novamente como alvo o setor turístico da Tunísia, o país que deu a largada para a primavera árabe e ainda não se recuperou do atentado que em 18 de março espalhou cadáveres no Museu do Bardo. Os jihadistas atacaram desta vez dois hotéis da turística cidade de Susa e mataram pelo menos 37 pessoas, na maioria britânicos, belgas e alemães.
No Kuwait, no ataque suicida contra uma mesquita xiita, com a morte de outra trintena de pessoas, o EI mostra também sua capacidade de golpear a seita rival muçulmana, que, ao lado dos curdos, é a única a lhe fazer frente em campo no Iraque.
E na França, o local do primeiro atentado da série desta sexta-feira, e também o mais obscuro, um islamista radical decapitou seu chefe em Isère, perto de Lyon, e depois tentou fazer saltar pelos ares uma usina de gás. Foi o ataque menos grave, mas os franceses e seu Governo confirmaram que são um objetivo de ponta para os jihadistas, que em janeiro espalharam cadáveres em Paris em dois ataques simultâneos, ao semanário Charlie Hebdo e a um supermercado judaico.
Esse ataque em Lyon, como também a origem das vítimas na Tunísia, situa de novo a Europa no olho do furacão dessa nova guerra global, na qual ninguém se sente protegido. Depois dos ataques em Paris, na Dinamarca, Bélgica e Espanha, as autoridades reforçam seus arsenais legais e policiais para enfrentar o terror, em uma nova disputa entre segurança e liberdades. Nas ruas europeias, como ocorre em Paris, vê-se continuamente militares em patrulha, em uma cena que, ao se repetir, já parece perigosamente normal para os cidadãos.
"Nunca foi tão elevado o nível de alerta", declarava há um mês o procurador de Paris, François Molins, encarregado da luta antiterrorista. No entanto, ele mesmo, como também repete com frequência o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, está consciente de que o mundo enfrenta uma ameaça tão nova quanto desconhecida. Seu exército, também alimentado por fanáticos nascidos na Europa, tem uma quinta coluna em nossas ruas.
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