Em agosto, a Organização Mundial de Saúde formou um comité de emergência para fazer frente à epidemia de ébola na África Ocidental. Parte da estratégia passou por apoiar e incentivar o desenvolvimento de uma vacina contra a doença. As respostas não tardaram e, neste momento, há cinco formulações a serem testadas, em diferentes abordagens. Uma das mais inovadoras passa pela imunização em duas doses, que resultou de uma associação entre a Johnson&Johnson e a Bavarian Nordic. Maria Pau, investigadora da J&J, faz-nos um ponto da situação, um mês e meio depois do início dos ensaios clínicos de fase I, em voluntários saudáveis no Reino Unido.
> Como tem sido o processo de desenvolvimento da vacina?
Houve um grande esforço. Trabalhámos muito para aqui chegar e acreditamos que podemos fazer a diferença. Mais de 100 pessoas da J&J estiveram envolvidas no desenvolvimento desta vacina -  cientistas e técnicos que deixaram outros projetos -, sempre com um grande espírito de colaboração. Vivemos uma fase de grande pressão, em que há sempre alguém a trabalhar nisto, 24 horas por dia, sete dias por semana. 
> Depois de anos sem vacina, como foi possível em poucos meses lançar vários ensaios?
Este surto teve proporções nunca vistas, o que fez com que todos os grupos de investigação acelerassem os processos. Na J&J demos alta prioridade ao combate ao ébola.
> Como é o esquema de vacinação que propõem?
Será uma vacinação em duas fases, com um intervalo de duas semanas. Tratam-se de duas substâncias diferentes: uma desenvolvido pela  Janssen Pharmaceutical Companies [detida pela Johnson&Jonhson] e outra da Bavarian Nordic. Ainda estamos a avaliar se a formulação em crianças será igual à dos adultos. 
> Que tipo proteção prevê?
Esperamos obter proteção a curto e a longo prazo. Mas ainda não sabemos por quanto tempo será eficaz. Em ensaios pré-clínicos, feitos em primatas nos Estados Unidos, conseguimos uma proteção de 100 por cento. Esperamos conseguir resultados semelhantes em humanos.
> Como têm decorrido os ensaios?
Nesta primeira fase, estamos a testar a vacina em voluntários saudáveis. Através de análises ao sangue, iremos avaliar se houve resposta imunitária, com produção de anticorpos. Os primeiros resultados devem chegar na primavera. 
> Que método de produção foi usado?
Usamos o mesmo que noutras vacinas - há a vantagem de já estar testado. Temos uma unidade em Leiden [Holanda] e outra na Dinamarca. Em pouco tempo conseguimos produzir as 400 mil doses necessárias para esta fase de inicial de testes. O objetivo é chegar aos dois milhões de doses até ao fim do ano. Possivelmente iremos estender o processo de produção a outras instalações.
> O que foi mais difícil no desenvolvimento da vacina?
A identificação das partes do vírus ébola que deveríamos incluir. Foi isto que nos demorou mais tempo. Tínhamos um bom candidato e a Organização Mundial de Saúde pediu-nos para acelerar o processo. Na fase de investigação recebemos financiamento do NIH [Instituto de Saúde Americano] e a empresa investiu 200 milhões de euros para poder acelerar, mobilizar recursos. Foi um risco partilhado com os governos e as ONGs.
> Teme que venha a haver problemas de aceitação por parte das populações africanas?
Ainda falta ser aprovada pelas autoridades da África Ocidental. Estamos a trabalhar com as organizações no terreno de forma a podermos chegar a quem precisa. 
> Quais serão os próximos passos?
Estamos a preparar-nos para alargar os ensaios de fase 1 a países africanos, fora da região do surto, e continuamos a aumentar a capacidade de produção, para um potencial uso contra a epidemia.