sábado, 31 de janeiro de 2015

Moradores de Itu, SP, contam o que fizeram quando a água acabou

31/01/2015 07h37 - Atualizado em 31/01/2015 07h37

Moradores de Itu, SP, contam o que fizeram quando a água acabou

Cidade do interior paulista passou por racionamento de 10 meses em 2014.
Aposentada chegou a criar 'chuveirinho' para lavar louça.

Tássia LimaDo G1 Sorocaba e Jundiaí
Dez meses de racionamento de água. Essa foi a realidade enfrentada pelos moradores de Itu, no interior de São Paulo, durante 2014. De fevereiro a dezembro, em meio a reclamações, protestos e à chegada de caminhões-pipa com escolta contra saques, as torneiras das casas passaram por períodos de seca.
O racionamento de água em Itu durou de 5 de fevereiro a 5 de dezembro de 2014, sendo a pior seca da cidade em mais de 100 anos, segundo a concessionária responsável, a Águas de Itu.
Na fase mais aguda da crise, em outubro, a bacia Taquaral/Fubaleiro, uma das principais reservas de água da região, ficou com apenas 1% da capacidade. Já a represa do Santo Antonio (parte da Bacia Hidrográfica do Gomes) operou com 2%. De modo geral, o abastecimento na cidade está normalizado, afirma a concessionária.
Neste início de 2015, com possibilidade de o Sistema Cantareira, o principal da Grande SP, secar já em março, o G1 voltou a Itu e perguntou: o que você fez quando a água acabou? Veja abaixo o que eles disseram:
Rita itu (Foto: G1)

"Durante o período de seca, ficamos exatamente três meses e quatro dias sem nenhuma gota de água em casa. Por isso, compramos um reservatório de 500 litros, um de 310 litros e um de 200 litros, mangueiras e uma bomba. Íamos buscar água em uma bica durante a madrugada a cada dois ou três dias e armazenávamos nessas caixas. Na maior, instalamos a bomba, que mandava água para a caixa d'água da casa, em cima do telhado. Fora isso, reutilizávamos a água da máquina de lavar roupas para lavar tapetes e o quintal. A água dos banhos ficava em baldes no banheiro para servir de descarga. Quando finalmente choveu, meu marido adaptou as calhas para que a água da chuva também caísse dentro de uma caixa".

alexandre itu água (Foto: g1)
"Comprei três caixas d'água - uma de 350 litros, uma de 500 litros e outra de 1.000 litros. As de 500 e de 1.000 ficaram em casa. Já a de 350 litros eu deixei no porta-malas do carro e comecei a buscar água em um poço artesiano a 11 Km de casa. Cheguei a passar madrugadas inteiras na fila, porque era uma única torneira para encher caixas enormes que o pessoal levava. Quando eu chegava em casa, passava a água para a cisterna, que distribuía para o resto da casa.
Passamos a usar apenas um dos banheiros da casa. Abríamos o chuveiro e, enquanto a água não esquentava, deixávamos uma bacia embaixo para não desperdiçar a água fria. Depois, tomávamos banho dentro da bacia, para não desperdiçar nem a água do banho, porque essa água seria a nossa 'descarga'. Cheguei a usar a 'reciclada da reciclada', porque dei banho na minha filha, que é criança e quase não se suja, e depois tomei banho com a água que ela já tinha usado. Depois, essa mesma água serviu para dar descarga ou para lavar o quintal".

Bernadete água itu (Foto: g1)
"Mesmo antes de acabar de vez, a água não chegava com força para subir até a caixa d'água da academia. Por isso, comprei uma caixa de 1.000 litros, outra de 5.000 litros e coloquei no chão do estacionamento. Mandei instalar um aparelho que bombeava a água por mangueiras até chegar à caixa d'água no telhado. Foram usados mais de 300 metros de mangueiras, e todo esse sistema ficou em cerca de R$ 10 mil. Também chegamos a comprar 5 mil litros de água. Parece bastante, mas isso, numa academia, se gasta em um dia. Acabamos deixando apenas um chuveiro em cada vestiário - assim, a própria fila "pressionava" os alunos para que o banho fosse mais rápido".

gabriela água itu (Foto: G1)

"Quando começou o racionamento, armamos uma daquelas piscinas infantis no quintal de casa e aproveitamos para armazenar água. Na minha rua, acho que tivemos sorte, porque não chegamos a ficar muitos dias sem água. Mesmo assim, demos uma boa economizada. O banho ficou mais curto, passamos a lavar roupas só uma vez por semana, evitávamos lavar o quintal e reutilizávamos a água, porque não sabíamos quando ia faltar. Também temos uma chácara onde não faltava água, e chegamos a ir até lá só para tomar banho e pegar água para beber".
Francsimari, itu água (Foto: g1)
"Compramos uma caixa de 350 litros, uma de 200 litros e um tambor de 50 litros. Também juntamos umas 60 garrafas pet, tudo para armazenar água. No começo do racionamento, ela vinha à noite e parava de manhã. Passávamos a madrugada lavando roupas, limpando a casa e abastecendo as caixas. Tomávamos banho de caneca, mas parecia que nem limpava direito. Chegamos a ir até Salto (SP), na casa de um parente, só para tomar banho. Quando realmente faltou água, compramos 1.000 litros de um caminhão-pipa".

Rita itu água (Foto: g1)
"No começo, tinha água um dia sim, um dia não. No dia que tinha, eu enchia dois tambores de 110 litros cada, e essa era a água que eu tinha para usar no dia seguinte. Só que a frequência com que ela vinha começou a ser alterada sem nenhum aviso, até que, um dia, acabou. Aí, tive que comprar uma caixa de 1.000 litros e comprar a água de um caminhão. Era um sufoco. Usava a água do banho para dar descarga, e a água da máquina de lavar roupas ia para lavar o quintal, porque tenho três cachorras e não tem como ficar com o quintal sujo.
Também criei um chuveirinho para lavar a louça de forma mais econômica. Cortei só a parte de cima de uma garrafa pet, fiz furinhos na tampa e pendurei de cabeça para baixo no puxador do armário da cozinha, que fica logo acima e na mesma direção da pia. Quando eu lavava a louça com caneca, gastava mais água. Por exemplo: para lavar um copo, usava duas canecas de água. Depois que fiz o chuveirinho, jogava uma caneca de água dentro dele e conseguia lavar dois copos, porque a água saía aos poucos e eu podia usar as duas mãos exclusivamente para manusear o copo. Agora, instalei torneiras com redutor de pressão para continuar economizando".
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