domingo, 25 de janeiro de 2015

A Europa à espera do grito grego "As revoluções acontecem mais frequentemente - e é forçoso que aconteçam - quando o povo tem um espírito orgulhoso, e tem a noção de que é tão bom como os seus governantes." - Aristóteles 22:21 Sábado, 24 de Janeiro de 2015 | 0 comentários 56 1 Comentar Imprimir Email Mais de dois mil anos depois, a frase de Aristóteles continua a fazer todo o sentido e assenta num princípio a que nem sempre se presta a devida atenção: as revoluções não se planeiam nem se fazem, apenas acontecem, como consequência de algo que ocorreu anteriormente. Quer isto dizer que por mais importante e radical que seja o resultado das eleições legislativas gregas, nunca este 25 de janeiro de 2015 vai ficar na data como o dia da revolução. Mas pode, muito bem, ser recordado como o dia em que a Europa vai começar a mudar. Ou, pelo menos, o dia em que se tornou urgente que mude. Depois de cinco anos de medidas brutais de austeridade impostas pela troika, a Grécia é hoje um país em que a classe média quase desapareceu, um quarto da população não consegue encontrar emprego (nem metade dos jovens!), onde os níveis de pobreza não cessam de aumentar e em que, estatisticamente, até já se morre mais depressa do que seria de esperar num país do Sul da Europa. A Grécia é um país onde se perdeu a esperança, onde metade da população vai votar com o sentimento de que "pior já não fica" ou com o medo de perder o pouco que ainda lhe resta. É aqui que a frase acima de Aristóteles ganha nova actualidade: a Grécia chegou a este ponto depois de um programa de ajustamento da dívida imposto por quem se achava "iluminado" pela razão e com a solução para todos os males. Agora, está à vista que essa suposta elite, comandada do centro da Europa, se enganou. E pior: que é incapaz de reconhecer o seu falhanço ou, sequer, aprender com os erros cometidos. Para que exista uma mudança, só é preciso, pois, que o povo recupere o seu orgulho. A anunciada vitória do Syriza pode ser uma primeira manifestação desse orgulho - e nada mais do que isso, acredito, tal como, há década e meia, a vitória do "revolucionário" Lula não virou o Brasil de pernas para o ar, ao contrário do que anunciavam os arautos da desgraça. Mas a subida ao poder de um partido fora do habitual arco de governação será, seguramente, um grito de alerta que tem de ser ouvido, com redobrada atenção, por toda a Europa. De uma forma ou de outra, o povo grego vai hoje fazer ecoar a sua voz. E mesmo que não o assumem, acredito que há muita gente, por essa Europa fora, a desejar um grito alto e sonoro dos gregos. Não porque partilhem as ideias do Syriza (longe disso!), mas apenas porque desejam que "as elites europeias' sofram um revés e, talvez, comecem a aprender a lição. E atenção, estamos ainda em janeiro. Daqui até ao final deste ano de 2015 (que promete ficar nos livros da História!) ainda teremos eleições no Reino Unido, Dinamarca, Estónia, Finlândia, Polónia, Espanha, Portugal e, talvez, em Itália. Em todas elas, de uma maneira ou de outra, vamos todos andar a olhar para os resultados eleitorais em busca de sinais sobre o futuro da União Europeia. Com uma certeza, porém: a de que, em quase todo o lado, cada vez há mais povo que, como dizia Aristóteles, "tem a noção de que é tão bom como os seus governantes." E isso é que faz nascer as revoluções. Ler mais: http://visao.sapo.pt/a-europa-a-espera-do-grito-grego=f808201#ixzz3PprPzDrd

A Europa à espera do grito grego

"As revoluç

A Europa à espera do grito grego

"As revoluções acontecem mais frequentemente - e é forçoso que aconteçam - quando o povo tem um espírito orgulhoso, e tem a noção de que é tão bom como os seus governantes." - Aristóteles

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Mais de dois mil anos depois, a frase de Aristóteles continua a fazer todo o sentido e assenta num princípio a que nem sempre se presta a devida atenção: as revoluções não se planeiam nem  se fazem, apenas acontecem, como consequência de algo que ocorreu anteriormente.
Quer isto dizer que por mais importante e radical que seja o resultado das eleições legislativas gregas, nunca este 25 de janeiro de 2015 vai ficar na data como o dia da revolução. Mas pode, muito bem, ser recordado como o dia em que a Europa vai começar a mudar. Ou, pelo menos, o dia em que se tornou urgente que mude.
Depois de cinco anos de medidas brutais de austeridade impostas pela troika, a Grécia é hoje um país em que a classe média quase desapareceu, um quarto da população não consegue encontrar emprego (nem metade dos jovens!), onde os níveis de pobreza não cessam de aumentar e em que, estatisticamente, até já se morre mais depressa do que seria de esperar num país do Sul da Europa. A Grécia é um país onde se perdeu a esperança, onde metade da população vai votar com o sentimento de que "pior já não fica" ou com o medo de perder o pouco que ainda lhe resta.
É aqui que a frase acima de Aristóteles ganha nova actualidade: a Grécia chegou a este ponto depois de um programa de ajustamento da dívida imposto por quem se achava "iluminado" pela razão e com a solução para todos os males. Agora, está à vista que essa suposta elite, comandada do centro da Europa, se enganou. E pior: que é incapaz de reconhecer o seu falhanço ou, sequer, aprender com os erros cometidos. Para que exista uma mudança, só é preciso, pois, que o povo recupere o seu orgulho.
A anunciada vitória do Syriza pode ser uma primeira manifestação desse orgulho - e nada mais do que isso, acredito, tal como, há década e meia, a vitória do "revolucionário" Lula não virou o Brasil de pernas para o ar, ao contrário do que anunciavam os arautos da desgraça.  Mas a subida ao poder de um partido fora do habitual arco de governação será, seguramente, um grito de alerta que tem de ser ouvido, com redobrada atenção, por toda a Europa.
De uma forma ou de outra, o povo grego vai hoje fazer ecoar a sua voz. E mesmo que não o assumem, acredito que há muita gente, por essa Europa fora, a desejar um grito alto e sonoro dos gregos. Não porque partilhem as ideias do Syriza (longe disso!), mas apenas porque desejam que "as elites europeias' sofram um revés e, talvez, comecem a aprender a lição.
E atenção, estamos ainda em janeiro. Daqui até ao final deste ano de 2015 (que promete ficar nos livros da História!) ainda teremos eleições no Reino Unido, Dinamarca, Estónia, Finlândia, Polónia, Espanha, Portugal e, talvez, em Itália. Em todas elas, de uma maneira ou de outra, vamos todos andar a olhar para os resultados eleitorais em busca de sinais sobre o futuro da União Europeia. Com uma certeza, porém: a de que, em quase todo o lado, cada vez há mais povo que, como dizia Aristóteles, "tem a noção de que é tão bom como os seus governantes." E isso é que faz nascer as revoluções.

Ler mais: http://visao.sapo.pt/a-europa-a-espera-do-grito-grego=f808201#ixzz3PprPzDrdões acontecem mais frequentemente - e é forçoso que aconteçam - quando o povo tem um espírito orgulhoso, e tem a noção de que é tão bom como os seus governantes." - Aristóteles

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Mais de dois mil anos depois, a frase de Aristóteles continua a fazer todo o sentido e assenta num princípio a que nem sempre se presta a devida atenção: as revoluções não se planeiam nem  se fazem, apenas acontecem, como consequência de algo que ocorreu anteriormente.
Quer isto dizer que por mais importante e radical que seja o resultado das eleições legislativas gregas, nunca este 25 de janeiro de 2015 vai ficar na data como o dia da revolução. Mas pode, muito bem, ser recordado como o dia em que a Europa vai começar a mudar. Ou, pelo menos, o dia em que se tornou urgente que mude.
Depois de cinco anos de medidas brutais de austeridade impostas pela troika, a Grécia é hoje um país em que a classe média quase desapareceu, um quarto da população não consegue encontrar emprego (nem metade dos jovens!), onde os níveis de pobreza não cessam de aumentar e em que, estatisticamente, até já se morre mais depressa do que seria de esperar num país do Sul da Europa. A Grécia é um país onde se perdeu a esperança, onde metade da população vai votar com o sentimento de que "pior já não fica" ou com o medo de perder o pouco que ainda lhe resta.
É aqui que a frase acima de Aristóteles ganha nova actualidade: a Grécia chegou a este ponto depois de um programa de ajustamento da dívida imposto por quem se achava "iluminado" pela razão e com a solução para todos os males. Agora, está à vista que essa suposta elite, comandada do centro da Europa, se enganou. E pior: que é incapaz de reconhecer o seu falhanço ou, sequer, aprender com os erros cometidos. Para que exista uma mudança, só é preciso, pois, que o povo recupere o seu orgulho.
A anunciada vitória do Syriza pode ser uma primeira manifestação desse orgulho - e nada mais do que isso, acredito, tal como, há década e meia, a vitória do "revolucionário" Lula não virou o Brasil de pernas para o ar, ao contrário do que anunciavam os arautos da desgraça.  Mas a subida ao poder de um partido fora do habitual arco de governação será, seguramente, um grito de alerta que tem de ser ouvido, com redobrada atenção, por toda a Europa.
De uma forma ou de outra, o povo grego vai hoje fazer ecoar a sua voz. E mesmo que não o assumem, acredito que há muita gente, por essa Europa fora, a desejar um grito alto e sonoro dos gregos. Não porque partilhem as ideias do Syriza (longe disso!), mas apenas porque desejam que "as elites europeias' sofram um revés e, talvez, comecem a aprender a lição.
E atenção, estamos ainda em janeiro. Daqui até ao final deste ano de 2015 (que promete ficar nos livros da História!) ainda teremos eleições no Reino Unido, Dinamarca, Estónia, Finlândia, Polónia, Espanha, Portugal e, talvez, em Itália. Em todas elas, de uma maneira ou de outra, vamos todos andar a olhar para os resultados eleitorais em busca de sinais sobre o futuro da União Europeia. Com uma certeza, porém: a de que, em quase todo o lado, cada vez há mais povo que, como dizia Aristóteles, "tem a noção de que é tão bom como os seus governantes." E isso é que faz nascer as revoluções.


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