PM suspeito de balear Ricardinho foi investigado pelo MP por tortura
Mãe de jovem que teria sido torturado relatou atos do PM ao Fantástico.
Justiça decretou a preventiva do soldado Luis Paulo Mota Brentano.
O policial militar Luis Paulo Mota Brentano, de 25 anos, suspeito de balear com três tiros o surfista catarinense Ricardo Santos, 24 - que morreu na terça-feira (20) - foi investigado pelo Ministério Público estadual (MPSC) por crime de tortura contra um jovem. A Justiça decretou a prisão preventiva do soldado (veja vídeo ao lado).
"Agora, você vai ver o que acontecia na época do Hitler. Eu vou fazer exatamente o que ele fazia", relatou a mãe do jovem sobre o que teria dito o policial no momento da abordagem, em maio de 2014. "Ele [jovem] chegou em casa todo machucado e me disse: 'mãe, me socorre'", continuou ela. O rapaz pediu para não dar entrevista com medo de represálias e a mãe não quis ter a identidade revelada.
A mulher contou à reportagem do Fantástico que o filho tinha ido assistir uma partida de futebol na Arena Joinville, no Norte catarinense. Com o celular, ele gravava a movimentação de torcedores perto do estádio, o que, de acordo com a denúncia do MPSC, bastou para provocar fúria no PM. "Passou uma viatura e, daí, o policial falou assim: "Ah, tu tá filmando, [xingamento]? Agora, tu vai ver!".
O rapaz tentou fugir, mas foi detido e colocado dentro do camburão. Em seu depoimento, ele disse que chegou a ser levado para a Central de Polícia de Joinville, mas nem sequer foi encaminhado para a sala do delegado de plantão. Em vez disso, ainda conforme o relato do jovem, foi levado pelos policiais militares até os fundos da unidade e teria sido agredido e torturado.
"Pegava o revólver e colocava na cabeça dele e disse: "tu sabe, né? Se eu quiser te matar, te mato, e ninguém vai saber", continuou a mãe. Na reportagem veiculada pelo Fantástico neste domingo (25), ela mostra fotos em que o rapaz está com hematomas provocadas, segunda a mulher, pela surra que o filho levou do PM e outros agentes.
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Após a denúncia, em junho do ano passado, o MPSC encaminhou um ofício para o Batalhão da PM em Joinville. O documento recomendava que Brentano fosse afastado das ruas e cumprisse expediente dentro da unidade. A Promotoria informou que até hoje não recebeu nenhuma resposta da corporação.
"Pedimos abertura de inquérito policial, para que a Polícia Civil fizesse, aí sim, uma investigação mais apurada, mais detalhada. Esse inquérito ainda não retornou ao Ministério Público", declarou o promotor. O comando da PM afirma que seguiu a recomendação do MPSC. O soldado foi transferido para para o setor de Inteligência da corporação, mas o comandante não sabe dizer se o policial deu expediente interno ou externo.
Já o delegado Fábio Fortes, responsável pelo caso, afirma que não há provas suficientes contra Brentano e os demais soldados acusados pelo rapaz. "Essa falta de prova, essa fragilidade, fez com que a conclusão fosse pelo não indiciamento dos soldados da Polícia Militar", explicou Fortes.
Mesmo assim, no dia em que recebeu a equipe de reportagem do Fantástico, o delegado decidiu devolver o inquérito ao MPSC. "Nada impede que venham surgir novas provas. Nesse momento, foi decidido pelo não indiciamento", declarou.
Entenda o caso
Na última segunda (19), o surfista Ricardo Santos e o policial Luis Paulo Brentano teriam se desentendido em frente à casa do atleta, na Guarda do Embaú, em Palhoça, município da Grande Florianópolis. O policial confessou ter dado dois tiros na vítima. As balas perfuraram vários órgãos internos e Ricardinho morreu no hospital na terça (20).
Na última segunda (19), o surfista Ricardo Santos e o policial Luis Paulo Brentano teriam se desentendido em frente à casa do atleta, na Guarda do Embaú, em Palhoça, município da Grande Florianópolis. O policial confessou ter dado dois tiros na vítima. As balas perfuraram vários órgãos internos e Ricardinho morreu no hospital na terça (20).
Uma das versões do crime relatada por testemunhas à Polícia Civil diz que o PM estaria consumindo drogas em frente à casa do surfista, o que teria causado o desentendimento. A tese foi contestada pela defesa do suspeito, que alegou que o cliente não usa drogas e se colocou à disposição para o exame toxicológico.
O diretor-geral de Instituto Geral de Perícias (IGP), Miguel Acir Colzane, disse que caso o policial tivesse utilizado outras drogas, haveria vestígios na amostra de sangue coletada. "A cocaína fica por até três dias presente na corrente sanguínea. Foi constatado apenas alcoolemia no teste", afirmou. Segundo o IGP, o sangue de Brentano foi coletado às 14h da segunda (19). O crime aconteceu por volta das 8h30 do mesmo dia.
A polícia vai confrontar as versões apresentadas pelas testemunhas durante a reconstituição que deve ocorrer na tarde da próxima terça (27). O delegado Marcelo Arruda, responsável pelo caso, disse que quer esclarecer as dúvidas que surgiram a partir dos depoimentos das testemunhas. O inquérito deve ser entregue à Justiça na quinta (29).
A Justiça converteu a prisão do soldado de flagrante para preventiva. O pedido foi feito pelo MPSC e a decisão foi emitida pela 1ª Vara Criminal de Palhoça, na última quarta (21). Brentano está preso no Batalhão da Polícia Militar de Joinville, onde está lotado desde 2008.
Veja o site do Fantástico.
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