A Polícia Federal viu indícios de que o gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tinha conhecimento de que o ex-procurador Marcelo Miller, antes de deixar o cargo em 5 de abril, atuava de “forma indireta” nas tratativas que resultaram no acordo de colaboração premiada firmado pelos principais executivos da JBS, informou nesta quarta-feira, 13, o site da Veja. Em nota, a PGR disse que a informação não procede.
Segundo a publicação, as evidências foram encontradas pela PF no telefone celular do empresário Wesley Batista, preso na manhã desta quarta-feira. São trocas de mensagens entre executivos da JBS, seus advogados e Miller.
“Tais mensagens revelam que membros da Procuradoria-Geral da República tinham ciência de que Marcelo Miller estava atuando de forma indireta nas negociações da delação premiada no dia seguinte à sua saída efetiva do órgão”, relatou o documento da PF enviado à Justiça Federal de São Paulo, segundo a Veja.
A PGR disse que desconhece o teor do relatório e afirmou se tratar “de conversas de terceiros fazendo suposições”. “Os integrantes da equipe do procurador-geral da República só foram informados da participação do ex-procurador da República Marcello Miller nas negociações sobre o acordo de leniência depois de sua exoneração, quando este participou de reunião com esta finalidade no dia 11 de abril”, disse a nota.
Corrupção. Em outro documento, a Polícia Federal viu indícios da prática do crime de corrupção passiva cometido por Miller quando ainda estava na PGR. Segundo a PF, o então procurador, em razão do cargo público que ocupava, orientou os donos da JBS a obter melhores condições nos acordos de colaboração premiada.
A informação consta do relatório em que a PF pediu autorização da Justiça para cumprir mandados de busca e apreensão na casa não só de Miller, mas também dos irmãos Wesley e Joesley Batista e de seus advogados Fernanda Tórtima e Francisco de Assis. O juiz federal João Batista Gonçalves, no entanto, só autorizou as buscas nas residências dos Batista e determinou a prisão deles.
“Há indicativos do cometimento do crime de corrupção passiva pelo ex-procurador, consistente no recebimento de vantagem ilícita ou promessa de vantagem, para que, em razão do seu cargo, orientar o grupo de delatores da JBS S/A a obter nas melhores condições possíveis a formalização da colaboração premiada, bem como conduzir o procedimento de leniência americano em face dessa empresa”, disse o relatório.
Em nota, Miller reiterou que “jamais fez jogo duplo e que não tinha contato com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nem se aproveitou de informações sigilosas de que teve conhecimento enquanto procurador”. Miller afirmou ainda que pediu exoneração em 23 de fevereiro, “tendo essa informação circulado imediatamente no MPF”. Sua exoneração foi publicada no Diário Oficial no dia 5 de abril.
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