- 22/09/2017
Natália Lambert
Correio Braziliense
Correio Braziliense
Faltando apenas duas semanas para se ter uma
proposta de reforma política aprovada e sancionada, um grupo de cinco
senadores, coordenados pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá
(PMDB-RR), elaborou uma proposta que, além de criar um Fundo Especial de
Financiamento de Campanha com previsão de arrecadação de R$ 3,5
bilhões, trata de outras questões como regras para propaganda eleitoral
na internet e a criação de Habilitação Prévia de Candidatos.
O texto, segundo especialistas em direito
eleitoral consultados pelo Correio, abre brecha para políticos enrolados
com a Lava-Jato, a exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
garantirem a candidatura por meio de recursos.
CHANCE DE RECURSO – A proposta
prevê que os candidatos que pretendem concorrer em outubro devem
entregar uma série de documentos entre 1º de fevereiro e 15 de março do
ano eleitoral. Com as certidões, a Justiça Eleitoral fará uma análise
prévia dos que podem ser ou não candidatos. A divulgação do resultado
será em 15 de maio.
O texto até prevê a possibilidade de reavaliação
da candidatura, mas, na opinião dos especialistas, ele gera
instabilidade jurídica e cria mais uma chance de recurso, já que o
candidato, caso venha a ser condenado após o prazo, tem o trunfo da
autorização prévia.
A medida pode beneficiar políticos como o
ex-presidente Lula, que já se apresentou como pré-candidato à
Presidência da República no ano que vem, mas ainda depende de um
julgamento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), que pode
confirmar em segunda instância a condenação do juiz Sérgio Moro por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A expectativa é que o
julgamento ocorra somente no fim do primeiro semestre de 2018.
INSTABILIDADE – “Essas
novidades criadas com pressa podem ser muito perigosas. O projeto tem
tudo para criar polêmica e instabilidade”, comenta um consultor
legislativo que prefere não se identificar.
O texto foi baseado em um projeto de lei de
autoria do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e relatado por Armando
Monteiro (PTB-PE). Justamente por ter sido feita às pressas, com a
inclusão de muitos temas — alguns rejeitados na Câmara —, a proposta foi
criticada na última quarta-feira em plenário e o presidente Eunício
Oliveira (PMDB-CE) marcou a votação para a próxima terça.
De acordo com informações da Presidência do
Senado, como a prioridade é a criação do fundo para a garantia dos
recursos na campanha, o texto deve ser desidratado para que possa ser
aprovado e enviado à Câmara a tempo de valer para o ano que vem.
APERFEIÇOAMENTO – Apesar de
abrir uma possibilidade polêmica, o juiz Marlon Reis, criador da Lei da
Ficha Limpa, vê pontos positivos na idéia, como aperfeiçoamento da
legislação, já que uma análise prévia dos candidatos retiraria boa parte
dos políticos inelegíveis.
“Casos pontuais que venham a ser condenados
depois têm a candidatura cancelada à frente. O projeto ainda corrige uma
falha da lei que não exige certidões cíveis, só criminais. Com esses
documentos podem ser descobertos casos de inelegibilidade decorrentes de
ações de improbidade administrativa”, acrescenta.
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