sábado, 13 de agosto de 2016

Política Dividido, PT encara novos rumos após as eleições

No comando do país há 13 anos, sigla enfrenta tensão de descontentes que avaliam debandar do partido

Por: Carlos Rollsing
13/08/2016 - 02h02min | Atualizada em 13/08/2016 - 02h02min


Dividido, PT encara novos rumos após as eleições Reproduções/Agencia RBS
Rui Falcão, presidente nacional do PT, e Tarso Genro, representam lados opostos no atual momento do partidoFoto: Reproduções / Agencia RBS
Os próximos meses serão decisivos para a história do PT, potência partidária construída em mais de três décadas de existência e 13 anos de poder no governo federal.
As avaliações indicam que, independentemente do lado vencedor da disputa que se avizinha, a sigla sairá do processo modificada: ou o campo majoritário deixa o comando absoluto do partido ou os crescentes quadros de oposição partirão em debandada.
O movimento, se confirmado, poderá se transformar em uma fuga que culminará com a fundação de nova legenda de esquerda. Atentos ao cenário, PSB, Rede, PDT e PSOL estão de olho nos insatisfeitos.
O impeachment de Dilma Rousseff, que avançou à etapa final no Senado com vantagem ao presidente interino Michel Temer, as prisões de petistas decorrentes das denúncias de corrupção e o profundo desgaste da imagem catapultam a insatisfação contra Rui Falcão, presidente nacional do PT, e o campo majoritário, que sempre esteve na condução da sigla, liderado por figuras como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro José Dirceu.
O debate se intensificará somente após as eleições municipais, que terão poder de influenciar nos resultados. O futuro do petismo será decidido nos dias 9, 10 e 11 de dezembro, quando ocorrerá o "Encontro Extraordinário". 
Antes dele, serão escolhidos delegados em 27 de novembro, por meio de voto direto nos municípios. Os descontentes, abrigados em um grupo denominado "Muda PT", avaliam ter hoje aproximadamente 46% do partido.
Críticas internas indicam que partido se afastou das origens
Na bancada federal, esse bloco de oposição já é maioria, com 36 dos 59 parlamentares em exercício. A estratégia é reunir grande parte no encontro e aprovar a antecipação das eleições internas para a direção nacional. O mandato de Rui Falcão vai até fevereiro de 2018. O Muda PT quer chamar votação para o primeiro semestre de 2017, encurtando o período de quatro anos a que Falcão teria direito.
— Existe inconformidade grande com os rumos da direção nacional. Há quase consenso de que sucumbiu à apatia e tem grande dificuldade para oferecer rumos ao partido no período mais difícil da sua existência. Essa direção não tem mais condições — assevera a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).
No último dia 4, quando a sigla reuniu a executiva nacional, o Muda PT aprovou nota em que exige séries de mudanças, reconhecimento de erros e reaproximação com ideias "socialistas", remontando ao pensamento que antecedeu a chegada ao poder. Em momento tenso, as críticas internas indicam que o PT se afastou das origens e corrompeu as práticas.
"O encontro deve concluir um balanço autocrítico sobre erros cometidos, dentre os quais o esgotamento da estratégia de conciliação com o capital, a não realização de reformas estruturais e do Estado, as alianças conservadoras, o eleitoralismo e a contaminação com o financiamento empresarial", diz trecho da nota.
Migrar para novo partido vira opção
Os integrantes do Muda PT sabem que a derrota no Encontro Extraordinário é possível. O campo majoritário ainda detém hegemonia e, na direção executiva, tem amplo domínio.
— Se perdermos o encontro, vamos ter muita gente jogando a toalha — diz um dirigente.
"Jogar a toalha" significaria migrar para outro partido e, sobretudo, fundar outra sigla de orientação esquerdista, opção que já foi discutida nos bastidores pelo ex-governador Tarso Genro.
— Se não houver mudança de nomes, não houver uma recomposição política, é bem possível que uma parte do PT migre para um novo partido — diz um influente deputado federal.
Alguns dos quadros mais respeitados da sigla estão no Muda PT. A eventual debandada poderia enfraquecer definitivamente a legenda.
— Não trabalho com essa hipótese (sair do PT). Sair seria como abandonar a base social maravilhosa que temos. Me vinculo a isso. Vamos fazer a disputa do rumo — pondera Maria do Rosário.
Embora tenha a pretensão de assumir o comando da sigla, o Muda PT já enfrenta processo de divergência em diversos temas. Exemplo foi a eleição para a presidência da Câmara, quando houve divisão entre os que votaram em Rodrigo Maia (DEM-RJ) — para derrotar Rogério Rosso (PSD-DF), candidato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) — e os que se retiraram do plenário em protesto. O único tema em que o coletivo ainda mantém unidade é na disputa interna do partido.
Ligado ao campo majoritário, o deputado estadual Adão Villaverde (PT-RS) diz não ser contrário à antecipação das eleições internas e à reestruturação da direção. Mas pondera ao avaliar que é preciso fazer diagnóstico dos acontecimentos que levaram o partido até a situação atual:
— O fundamental é fazer um bom balanço. Temos de fazer uma caracterização do golpe, dessa aliança para derrubar o governo Dilma montada por adversários políticos, Judiciário, empresários e a mídia. E verificar os erros do PT. A partir deste debate, reorganizamos o partido.
QUEM SÃO OS LÍDERES DO CAMPO MAJORITÁRIO
O ex-presidente Lula, embora transite em todas as áreas do partido, sempre foi vinculado a esse grupo, exercendo liderança. Atual presidente da sigla, Rui Falcão, integra movimento. O ex-ministro José Dirceu ainda hoje é cultuado e mantém influência. No RS, a corrente que apoia o campo é a Unidade na Luta, do deputado Adão Villaverde.
QUEM SÃO OS LÍDERES DO MUDA PT
Grande parte é da Mensagem ao Partido, agrupamento de correntes políticas integradas por nomes como o ex-governador Tarso Genro, o deputado federal Paulo Teixeira (SP) e os ex-ministros Miguel Rossetto e José Eduardo Cardozo. Há, ainda, nomes de outras tendências, como Maria do Rosário, da recém fundada Avante Socialismo 21.
O QUE SIGNIFICA O MOMENTO DO PARTIDO?
— Quase metade da legenda se reuniu em um agrupamento chamado Muda PT. A crítica é de que o partido, comandado pelo campo majoritário, afastou-se do programa original e aderiu à corrupção como método. Os descontentes cobram retomada de ideias socialistas e mudança na direção, com antecipação de eleições internas.
— Já o campo majoritário se define como responsável pelo sucesso das políticas sociais que levaram o PT ao auge no segundo mandato de Lula, com quatro vitórias seguidas à Presidência. Deste embate, resultará um novo PT, que poderá retomar radicalização de esquerda ou se fracionar e gerar a fundação de novos partidos. São fatos que irão influenciar o futuro da política nacional.




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