Hollande estendeu a passadeira vermelha a Raúl Castro PHILIPPE WOJAZER/REUTERS
Palácio do Eliseu com passadeira vermelha estendida para a visita do Presidente de Cuba, que procura na França um parceiro comercial e aliado político.
Os Campos Elíseos encheram-se de bandeiras francesas e cubanas para dar as boas-vindas ao Presidente Raúl Castro, cuja inédita e histórica visita de Estado de três dias a Paris é a consagração da nova era de abertura diplomática – e também comercial – do Governo de Havana, e a confirmação definitiva da quebra das barreiras (ideológicas) que mantinham a ilha do Caribe afastada dos grandes palcos e alianças internacionais.
Para pôr um ponto final no isolamento de Cuba, só falta acabar com o embargo económico decretado pelos Estados Unidos em 1963, defendeu o Presidente François Hollande. “A França sempre esteve convencida que, apesar das tensões internacionais, havia uma necessidade de terminar este bloqueio”, declarou. “Por isso, espero que o Presidente Obama, que é responsável por este grande progresso, possa ir até ao fim e consiga acabar definitivamente com este último resquício da Guerra Fria”, considerou, para regozijo do seu convidado, que não se cansa de exigir o fim do embargo. “Aprecio muito a sua posição”, respondeu Raúl Castro.
Nem que fosse só por estas palavras, a viagem oficial do Presidente de Cuba a França – a primeira visita de Estado à Europa em mais de 20 anos – já teria valido a pena. À partida de Havana, o ministério dos Negócios Estrangeiros tinha colocado como objectivos o “alargamento e diversificação das ligações com a França em todas as áreas possíveis: política, económica, comercial, financeira, investimento, cultura e cooperação”. Logo no primeiro dia, Castro já podia riscar vários dos pontos da lista.
“Esta visita é muito importante para a imagem de Cuba e do regime, que indiscutivelmente pode ganhar um novo fulgor externo”, explicou à AFP o analista da Universidade de Havana, Eduardo Perera. Simbolicamente, o primeiro acto oficial na agenda do líder comunista foi uma cerimónia no Arco do Triunfo, onde foram cumpridas todas as honras militares. Uma escolta montada da Guarda Republicana acompanhou depois a comitiva cubana pela mais famosa avenida da capital francesa, antes do grande acontecimento do dia, o rendez-vous com o Presidente francês no Palácio do Eliseu.
Hollande, que visitou Cuba em Maio passado, foi o primeiro chefe de Estado ocidental a deslocar-se à ilha em mais de 50 anos. Agora, em menos de uma semana, foi anfitrião de dois líderes internacionais que durante décadas permaneceram párias para o ocidente e que depois de uma revisão histórica do seu relacionamento com os EUA procuraram na França um aliado político e parceiro comercial de referência. Mas ao contrário da recepção fria reservada ao Presidente do Irão, Hassan Rouhani, o protocolo gaulês estendeu entusiasticamente a passadeira vermelha ao líder cubano. O programa preparado para entreter Raúl Castro incluía actuações musicais de Nathalie Cardone, autora da célebre canção “Hasta Siempre” dedicada a Che Guevara, ou ainda do célebre DJ David Guetta, que prepara um mega-concerto em Havana.
A abertura gradual do mercado cubano está a ser seguida com interesse pelas grandes potências económicas mundiais, que competem pelo posicionamento no terreno e a primazia nos negócios. A França, decisivamente, quer liderar esse campeonato, e “afirmar-se como o primeiro parceiro político e económico europeu” da ilha, anunciaram os assessores presidenciais. Algumas das principais grandes empresas francesas estão já estabelecidas em Cuba, caso do grupo Pernod-Ricard, que assegura a produção do rum Havana Club, da Alcatel-Lucent com projectos de telecomunicações ou a petrolífera Total.
No entanto, o actual valor das trocas comerciais entre os dois países, de 180 milhões de euros por ano, “não está à altura” das ambições gaulesas, confessou à AFP, o ministro responsável pelo Comércio Exterior, Matthias Fekl. Esta segunda-feira, os dois governos celebraram uma série de protocolos para investimentos nos sectores do turismo, da energia e dos transportes, bem como para a promoção do comércio justo.
Nessa corrida, os Estados Unidos, país vizinho e principal destino da diáspora cubana, estão em desvantagem por causa do embargo comercial imposto pelo Congresso em 1962 e ainda em vigor – apesar dos passos recentes dados por Washington, que já autorizou a retoma das ligações aéreas comerciais para a ilha, e permitiu que os bancos americanos voltassem a abrir linhas de crédito para a exportação de determinados produtos, sobretudo agrícolas.
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