Lideranças ruralistas haviam se colocado no trevo de entrada da cidade, dispostos a impedir a entrada de Lula.
Mas a equipe de segurança do ex-presidente soube de outro caminho, uma estrada vicinal, onde existem dois assentamentos.
A caravana foi por ali e chegou até o destino.
No acesso à praça, havia alguns manifestantes, com tratores e caminhonetes.
Alguns atiraram pedras e ovos e outros tentaram interditar a avenida, mas foram contidos pela Brigada Militar.
Nas imediações da praça, mais cedo, os ruralistas já haviam tentado ocupar o lugar, mas não conseguiram, já que havia manifestantes pró-Lula. E foram expulsos.
Lula chegou à praça com um lenço vermelho, tradição de Getúlio Vargas. No discurso, voltou a falar sobre a falta de representatividade dos que protestavam.
“Eu resolvi passar aqui para prestar uma homenagem ao Getúlio, onde está o túmulo dele aqui, para prestar uma homenagem ao João Goulart, e também para prestar uma homenagem ao Brizola. Uma coisa simples, singela. A gente não esperava que pudesse ter alguns fascistas nesta cidade que resolvessem tomar a atitude de proibir o PT e o Lula de entrar em São Borja.
Lula disse ainda:
“E, de repente, eu vejo pela imprensa o povo assustado, com eles fazendo provocação, tacando pedra no ônibus, o carro cheio de bomba, cheio de rojão, cheio de foguete, como se nós estivéssemos numa guerra. Ô gente, isso só pode significar ignorância.”
Lula arriscou ainda uma explicação sobre a razão “dessa gente acumular tanto ódio ao PT e ao Lula”:
“Eles não querem é que o trabalhador tenha direito, não querem que o trabalhador seja respeitado, não querem que o jovem da periferia entre em uma universidade e se forme doutor”, disse.
Quem ouvia atentamente o discurso de Lula é Andressa Azevedo, que nasceu em São Borja. Pouco antes, eu a havia entrevistado. Andressa é aluna do Serviço Social da Unipampa, universidade federal criado no governo Lula:
“Se não fosse essa oportunidade, nós, estudantes pobres, jamais poderíamos estar na universidade. É por isso que os ricos não querem que o governo popular seja fortalecido”.
Ao lado dela, Louiser Silva Dutra Soares também revelava os motivos para estar ali:
“Eu apoio o Lula porque, só por causa dele, meu irmão entrou numa faculdade e hoje é enfermeiro.
Riana, amiga de Lousier, destacou os empregos que surgiram na região durante o período em que ele e Dilma foram presidentes — em 2014, a taxa de desemprego no Brasil era em torno de 5%, hoje é superior a 12%.
A professora Ana Maria ouviu as jovens falarem e quis também dar seu testemunho. O ato começou por volta das 17 horas, e todas estavam ali desde às 13.
“Eu vim aqui para dizer que tenho orgulho de ter minha filha formada fisioterapeuta graças à Unipampa, graças ao Lula. É por isso que eu estou aqui já há algumas horas”, contou.
Enquanto elas conversavam comigo, um grupo distante começou a gritar:
“Unpampa, Unipampa, Unipampa”.
Dilma Rousseff também discursou e explicou que o golpe é uma sucessão de atos, um processo, cujo objetivo é retirar direitos de trabalhadores e impedir sua ascensão social.
A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, disse, por sua vez, que os muralistas que protestaram não eram dignos da glória de Getúlio Vargas, João Goulart e Brizola.
“Esta é uma cidade de heróis, e eles não são dignos de heróis”, afirmou a senadora.
No alto do caminhão de som, a expressão dos petistas era de satisfação, por ter vencido mais uma batalha.
Nem levavam em conta que, do lado de lá da trincheira, ao lado do produtor de vinho Sérgio Malgarin, estava o presidente do Sindicato Rural de São Borja, Viriato Vargas.
É dele a voz do áudio postado em grupo de WhatsApp em que prometia impedir a entrada de Lula em São Borja..
Viriato é sobrinho-neto de Getúlio Vargas, mas parece não conhecer a história do ascendente famoso.
Se soubesse, não estaria lutando contra um herdeiro do trabalhismo e, com isso, não teria perdido a Batalha de São Borja, talvez a única e última que tenha travado na vida.
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