Já faz tempo que os procuradores responsáveis
pela operação Cui Bono desconfiavam que o grupo conhecido como “PMDB da
Câmara” poderia ter um “tesouro perdido”. Em suas delações, executivos
da Odebrecht, da JBS e de outras empresas revelaram uma quantidade de
propina que não batia com os valores encontrados nas contas no Brasil e
no exterior dos políticos envolvidos nos crimes.
A hipótese de que o montante estivesse sendo
guardado em espécie surgiu após o doleiro Lúcio Funaro contar que fez
várias viagens em seu avião particular ou em voos fretados para entregar
malas de dinheiro para o ex-ministro Geddel Vieira Lima.
NA SALA VIP – Funaro foi
específico em seu depoimento: disse que as entregas aconteciam na sala
VIP do hangar da Aerostar, no aeroporto de Salvador (BA). Que, pelo
menos duas vezes, fez paradas rápidas na cidade para deixar malas ou
sacolas de dinheiro com Geddel.
O que surpreendeu a Polícia Federal e o
Ministério Público foi a quantidade de dinheiro. Pelas contas iniciais,
esperavam encontrar R$ 15 milhões. Acharam R$ 51 milhões. E faz sentido
que esse dinheiro estivesse com Geddel. O empresário Joesley Batista
contou em sua delação que o ex-ministro era o “arrecadador” do PMDB da
Câmara.
O grupo parece ter uma predileção por dinheiro
vivo. O ex-deputado Rodrigo da Rocha Loures, homem da “estrita
confiança” do presidente Michel Temer e indicado por ele para substituir
Geddel na interlocução com o empresário, foi gravado pela PF correndo
com uma mala de dinheiro.
QUADRILHEIROS – Não é segredo
quem são os principais integrantes do “PMDB da Câmara”: Geddel Vieira
Lima, Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves, Eliseu Padilha, Moreira
Franco e Michel Temer. Por essas maluquices que só acontecem no Brasil,
os três primeiros estão na cadeia, enquanto os três últimos seguem no
Palácio do Planalto.
Com exceção de Cunha, que já estava a caminho do
presídio da Papuda na época, Temer nomeou os amigos de décadas para
cargos estratégicos depois do impeachment de Dilma Rousseff. Coube a
Geddel a sensível Secretaria de Governo, que faz a articulação política.
O baiano só caiu em desgraça após o então
ministro da Cultura, Marcelo Calero, acusá-lo de fazer pressão para
liberar a construção de um prédio em uma área tombada de Salvador.
ERA UMA BOBAGEM… – Nas palavras
de Temer na famosa gravação feita por Joesley, era uma “bobagem, sem
consequência nenhuma” e “aquele idiota (o então ministro Marcelo Calero)
aproveitou para fazer um Carnaval”. Pois é. Perto de guardar R$ 51
milhões de propina em dinheiro, realmente a denúncia de Calero parece
uma bobagem.
Com suas digitais espalhadas pelo apartamento e
pelas malas, Geddel não tem como negar a posse da fortuna e voltou para a
cadeia. Agora cabe a ele esclarecer se esse dinheiro é só seu ou se,
além de arrecadar, também guardava a grana para os comparsas.
Na primeira hipótese, é provável que existam
outros “tesouros” escondidos por aí. Na segunda, é preciso que Geddel
diga de quem são esses R$ 51 milhões.
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