postado em 27/01/2016 06:10 / atualizado em 27/01/2016 07:12
A disparada das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti obriga autoridades sanitárias a intensificarem a prevenção e a notificação dos casos. Contudo, a Secretaria de Saúde admite que a capital federal tem somente 600 litros de biolarvicida, o veneno que mata as larvas do inseto e 280 litros de inseticida usado nos carros fumacês. A quantidade é o suficiente para apenas dois meses. Para uma piscina de 20 mil litros, por exemplo, é necessário um litro do produto. O Plano Nacional de Enfrentamento ao Aedes e à Microcefalia, do Ministério da Saúde, prevê que os estados estejam com estoques abastecidos por pelo menos seis meses de combate.
O diagnóstico das infecções também está comprometido. Faltam kits de testes para a detectar a dengue e a febre chikungunya. Segundo a Secretaria de Saúde, por questões operacionais os exames rápidos estão disponíveis somente nos pronto-socorros do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) e do Hospital Regional do Guará (HRGu). Em Ceilândia, é possível encontrar na unidade de pronto atendimento (UPA). Entretanto, a reportagem esteve em sete unidades médicas, inclusive no Hran, e não havia o insumo.
O Executivo local reconhece o deficit nas reservas e diz estar em andamento um processo de aquisição regular para aumentar os estoques. “O Ministério da Saúde prometeu que no próximo mês vai mandar, mas não temos condições de esperar e vamos comprar com recursos próprios. Com o aumento da demanda está faltando. Assim que atingimos o nível crítico acionamos o Ministério”, explica Tiago Coelho, subsecretário de Vigilância à Saúde, ao avaliar que a situação não é confortável.
Hoje, será publicado o edital de compra de insumos para o combate ao Aedes. Porém, não há data para os produtos chegarem. O GDF gastará cerca de R$ 7 milhões. “Brasília nunca precisou de tanto veneno quanto agora. Estamos acostumados a ter surtos em determinadas regiões. O momento que estamos vivendo temos um quadro de epidêmico”, completa Tiago.
A falta do kit para o diagnóstico pode levar a subnotificações de casos no DF. Isso porque, com a escassez dos insumos, as notificações passaram a ser clínico-epidemiológicas, ou seja, sem confirmação laboratorial. A pasta garante que o risco de erro é mínimo. “Todos os médicos são capacitados para, clinicamente, identificar os casos de dengue”, explica a Secretaria, em nota. Em casos de dúvida, amostras do paciente são enviadas ao Laboratório Central (Lacen-DF), que normalmente reconhece os diagnósticos dos testes rápidos, para serem avaliadas.
O especialista em controle de doenças Pedro Luiz Tauil ressalta que a carência exige que o médico seja criterioso ao identificar a doença. “A falta do reagente não é boa, as pessoas têm o direito de fazer a comprovação laboratorial”, critica. Segundo o estudioso, a falta de larvicida (veneno para matar a larva) obriga o governo a usar outros métodos. “Deve ser intensificada a eliminação mecânica dos criadouros”, explica.
A reportagem percorreu o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), os postos de saúde da 114/115, 208 e 905 da Asa Norte e, por telefone, conversou com servidores do Centro de Saúde 5 de Ceilândia Sul, 1 de Taguatinga e 2 do Guará. Em todas as unidades a indisponibilidade do teste é confirmada. “Eles acabaram. Tente nos postos da 905 ou da 408 Norte, mas não sei se eles estão fazendo. Aqui, o kit acabou e não tem o que fazer”, explicou uma atendente, que pediu para ter o nome preservado.
Karina da Silva Sobrinho, 18 anos, está com suspeita de dengue e há oito dias peregrina por hospitais do Entorno e do DF a fim de conseguir o exame. A mais recente tentativa ocorreu no Hospital Regional de Brazlândia (HRB). Também não conseguiu. A mãe da moça, Carla Simone Silva, 35, detalha os sintomas: febre, dores na cabeça e no corpo e vômito. “Minha filha está desidratada. Tem gente tentando desde 8h e não conseguiu. Hoje (ontem), ela amanheceu toda empolada”, lamentou a viúva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário