Michel Temer e Dilma Rousseff em evento em dezembro Ueslei Marcelino Reuters
Na semana que passou, a presidenta Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, tiveram seu primeiro encontro do ano. Mas, por trás da aparente tranquilidade,verba volant, scripta manent (as palavras voam, os escritos permanecem), como disse o próprio vice na carta que deflagrou uma crise institucional entres os dois em dezembro passado. O texto tem fornecido mais dores de cabeça para ele do que para ela. Não por acaso, dias antes da reunião entre eles, Temer emitiu sinais de que o arroubo epistolar teria sido um ato precipitado e que o mais importante nesse momento seria promover a harmonia no país. Em um cenário de convulsões partidárias internas e uma reeleição para a presidência do PMDB a ser definida em março, a principal frente de luta de Temer é reconquistar a persona de político sóbrio, prudente e equilibrado frente ao seu próprio partido.
Para um ex-ministro do PMDB no Governo Rousseff, Temer chegou até onde chegou pela via da temperança e discrição. “Ele nunca foi uma liderança partidária com muito poder ou seguidores, sua figura se tornou consensual dentro do partido graças à capacidade que tinha de conciliar, de se manter a margem”, diz. Ao enviar a carta, contudo, ele quebrou com seu estilo e acabou alimentando as disputas internas do PMDB, que são inerentes a configuração do partido, mas que também são insufladas pelo Governo que busca um arranjo mais favorável em sua base – apoiando Leonardo Picciani para a presidência da Câmara e se aproximando de Renan Calheiros.
A carta, um ponto fora da curva, segundo esse ex-ministro, teria surgido por um lado das pressões internas do PMDB que exigiam mais participação no Governo e por outro do fato de que Temer passou a ser visto como uma opção viável pela oposição e acabou gostando disso. “O José Serra (PSDB) é um interlocutor muito presente e, na época, chegou-se a falar abertamente que ele seria ministro da Fazenda em um eventual Governo Temer”, diz. Assim, a preocupação que o vice-presidente tinha de não ser visto como um conspirador foi posta de lado e a carta enviada.
“Na medida em que o Governo conseguiu desarticular a carta de Temer, ele teve que voltar a preocupação para sua casa. Ele não iria continuar em duas frentes de batalha, uma interna e outra externa, sabendo que o Governo tinha entrado no quintal dele”, comenta o cientista político Rudá Ricci.
Em que se pesem as dores de cabeças advindas da decisão de Temer de romper com sua figura conciliadora, o mais provável é que ele seja reeleito presidente do PMDB. A questão é qual imagem ficará dele e o poder de fogo que terá daqui para frente – a depender de outros cargos de destaque que estão em jogo no partido. “A relação entre a presidenta e ele nesse momento é uma relação política clássica. Os dois se respeitam levando em consideração as armas que têm em mãos. Qualquer situação em que um dos dois lados se revelar mais fragilizado, não tenha dúvidas que o lado oposto vai tentar derrubar”, analisa Ricci, ressaltando que, por enquanto, o momento é de calmaria.
Em uma metáfora do cenário atual brasileiro, um interlocutor próximo a Temer disse que, quando as coisas estão andando com normalidade, a política é como a composição das nuvens no céu: há dias mais abertos e dias mais fechados. Hoje, contudo, as coisas parecem flutuar em um rio em que tudo é muito imprevisível e escorre rapidamente. Para ele, Temer se jogou nesse rio acreditando que tinha achado um atalho para virar presidente em 2016. Não deu certo, mas sua jogada foi para valer e ele continuará navegando, se outra oportunidade surgir, ele não hesitaria em articular novamente. O vice prepara uma série de viagens pelo país, começando na última semana de janeiro, e será boa oportunidade para testar águas novamente, dentro e fora do PMDB. O que está escrito, está escrito.
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