quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Quarta-feira, 27/01/2016, às 08:00, por Roberto Agresti RD 50, CG 125, DT 180 e CB 400: motos nacionais viram clássicas

Colecionadores de motocicletas já estão de olhos bem abertos em meia dúzia de exemplares “made in Brazil”, alguns muito raros, outros nem tanto, mas todos simplesmente apaixonantes, que contam uma história de mais de 40 anos.

A data exata do início desta paixão, aliás, é 10 de outubro de 1974. Foi neste dia que da linha de montagem da Yamaha Motor do Brasil, em Guarulhos (SP), saiu aquela é considerada a 1ª motocicleta nacional, a pequena RD 50.

Antes disso outros veículos de duas rodas a motor foram montados/fabricados no Brasil - Vespa, Lambretta e a lendária Leonette entre elas. As primeiras eram motonetas, os scooters de hoje em dia, a Leonette um ciclomotor com pinta de moto. Mas motocicleta, mesmo, a pioneira foi a cinquentinha da Yamaha.
Neste período de 4 décadas a indústria da motocicleta no Brasil produziu algumas motos que hoje despertam a cobiça seja de colecionadores, admiradores da mecânica de outros tempos ou de simples saudosistas. Seja qual for o caso, uma coisa é certa: qualquer um dos modelos que descrevemos abaixo, ícones das pioneiras moto Made in Brasil, despertam uma atração espetacular. Qualquer uma delas estacionada ou andando vai atrair olhares tanto quanto a mais moderna e exclusiva motocicleta disponível no país. Acredite… 

YAMAHA RD 50Yamaha RD 50
Nossa lista não poderia deixar de começar com ela, a primeiríssima moto nacional.  Mas não 100% pois ao menos o carburador era e sempre foi importado. Todavia, o restante dos componentes se valia da mão de obra e de matéria prima brasileira. A escolha da Yamaha por uma 50 cc para estrear sua produção no país teve como objetivo oferecer um produto de custo de aquisição e manutenção baixo.

A escolha de um motor 2 tempos – bandeira da empresa à época – permitia pensar que a simplicidade mecânica de tais motores favoreceria a manutenção inclusive nos mais remotos lugarejos. A pequena moto era valente, com desempenho razoável e tecnologia moderna mas, como se viu na sequência, a preferência do brasileiro recaiu sobre o mais complexo mas robusto motor 4T da Honda CG 125, que lançada dois anos depois dominou o mercado.

De nada adiantou à Yamaha lançar versões mais fortes de sua pequena moto, a RD 75 (1976) e RX 80 (1979): a Honda CG nunca mais cedeu a liderança. Um exemplar dessas Yamaha pioneiras é muitíssimo raro e cobiçado, podendo custar até R$ 15 mil.
HONDA CG 125Honda CG 125
Em 1976 ninguém menos que Pelé foi chamado para ser o garoto propaganda da 1ª Honda fabricada no Brasil, mais exatamente em Manaus. A escolha de produzir no Amazonas deu à Honda a vantagem dos incentivos fiscais e também ir nacionalizando a sua motocicleta aos poucos.
As primeiras Honda CG que sairam da fábrica manauara tinham diversos componentes importados mas nem por isso a motocicleta como um todo deixava de ser considerada brasileira. Exemplares desta 1ª CG, especialmente na cor laranja, são perseguidos e desejados e apesar de serem encontrados mais facilmente podem alcançar cifra equivalente a de uma Yamaha RD 50 original. Anúncio antigo da Honda CG 125
   
HONDA CB 400 - CB 450
A primeira grande moto brasileira era, na verdade, toda "made in Japan". Especialmente a primeira versão de 1980, equipada com as rodas “Comstar” e motor 400, era apenas montada em Manaus. A nacionalização veio a reboque do sucesso e foi aumentando com o passar dos anos. A CB 400 chegou ao mercado em um momento particular, quando a importação de motocicletas, proibida deste o final de 1976, havia feito a sede de motos grande crescer desmesuradamente. Anúncio da Honda CB 400
A solução “Manaus” deu alívio a tal escassez e fez da CB 400 um sucesso imediato. Quem quisesse uma moto encorpada e com presença tinha nela a única opção. Um ano depois surgiria uma versão mais luxuosa, batizada de CB 400 II. No final de 1984 veio a Honda CB 450, mais potente e que ficou uma década em produção em diversas versões: Custom, Sport, TR e a derradeira DX. A primeira CB 400 e a CB 400 II são as mais raras e desejadas, mas qualquer CB 400 ou 450 em bom estado acha comprador rapidinho. E quanto mais original, mas valiosa. Há exemplares pouco rodados e 100% originais ofertados por cerca de 20 mil reais.
YAMAHA DT 180Anúncio da DT 180
Foi a trail que ensinou os brasileiros a fazer trilha, e não só. Mostrou também o quanto versáteis são as motos fora-de-estrada mesmo se jamais usadas na terra. A DT 180 L, a primeiríssima de 1981, é "mosca branca", não se acha, e se reconhece por uma característica única: tem a balança de suspensão traseira fabricada com tubo de seção circular e não retangular como as DT 180 sucessivas.
Fabricadas até 1997, achar uma DT 180 original é complicado, e os preços variam: as mais recentes não custam mais de 5-7 mil reais, mas a primeirona, a dos tubos redondos, pode custar até 12-15 mil reais. E há ainda a MX 180, versão de cross. Quem tem uma dessa impecável, tem um tesouro!
HONDA XL 250RAnúncio da Honda XL 250R
Ah, o “xiselão”! Na época sinônimo de robustez aliada a tecnologia. Esta motocicleta foi a antagonista da Yamaha DT 180 que, apesar das diferentes capacidades cúbicas de seus motores tinham desempenho equivalente, o que se explicava pelo fato da Yamaha ser mais leve e ter motor ciclo 2 tempos (mais assanhado!) e a Honda, mais pesada, mais cavalos em seu motor 4 tempos. Durante os anos 1980 a popularidade da prática do Enduro transformou o antagonismo entre donos de XL e DT em uma espécie de Fla-Flu sobre duas rodas. Não é tão difícil assim achar uma XL 250R, fabricada de 1982 a 1984, e substituída pela XLX 250R. O valor pode chegar até os 15 mil reais.
YAMAHA RD 350 LCAnúncio da RD 350
Na esteira da lendária RD 350 dos anos 1970, apelidada de "viúva negra", a Yamaha introduziu no Brasil a versão modernizada do modelo, a RD 350 LC, onde as letras finais estavam para “liquid cooled” ou seja, refrigeração líquida. Mais tecnológica porém não menos brutal e esportiva, a RD 350 era naquela época o mais fiel paradigma da moto esportiva e foi protagonista de uma longa e curiosa espera pelo modelo, pois a Yamaha anunciou a produção da RD 350 LC em 1984 mas a efetivou apenas em 1986… Encontrar uma dessas “LC” de primeira safra não é impossível, mas exige garimpar direito. Uma 100% original é raríssima pois motos esportivas geralmente tem donos esportivos, e isso reduz a vida das coitadas. Há RD 350 LC à venda por mais de 20 mil reais. 
RESTAURADA OU CONSERVADA?
Importante observar que neste mercado de clássicas as motos mais valiosas são as chamadas “conservadas” e não as “restauradas”. Qual a diferença? As primeiras são aquelas que foram mantidas da melhor maneira possível ao longo de sua vida e sofreram pouca ou nenhuma intervenção, como se tivessem hibernado em garagens durante décadas.

Ao contrário do que pode se imaginar, alguns risquinhos na pintura, sinais de uso nos comandos e demais “marcas da vida” contribuem para o preço ser elevado. Já as restauradas são motos que passaram por processos de renovação e portanto, por mais perfeitas que sejam, valem menos pois carecem do charme que algumas rugas conferem a quem atravessou o tempo para contar a história.    

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