A esquerda concretizou, por enquanto quase sem sobressaltos, a histórica reviravolta no poder municipal na maioria das capitais das províncias espanholas, como consequência das eleições realizadas no dia 24 de maio. Neste sábado, 8.122 prefeitos tomaram posse em todo o país, sem incidentes.
Na Espanha, os prefeitos são confirmados pelos conselheiros, eleitos pela população no último dia 24. Eles precisam ter a maioria dos votos e, por isso, as alianças entre os partidos é necessária.
Entre os novos eleitos para as prefeituras as que mais chamam a atenção são a de Madri, Manuela Carmena, e a de Barcelona, Ada Colau, que simbolizam uma mudança que nesses casos têm como protagonistas os movimentos cidadãos e candidaturas populares que obtiveram o apoio do PSOE. As duas mulheres são o símbolo da mudança de poder que os novos partidos pretendem estender às eleições gerais e que se iniciou há pouco mais de um ano com airrupção do Podemos na vida política espanhola.Em todas as capitais nas quais era possível, foi realizado um acordo entre o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e as candidaturas de movimentos cidadãos, vinculados ao Podemos, para que prefeitos de esquerda chegassem ao poder. Fica para mais tarde a possível exceção e dúvida de Oviedo, município deAsturias, pendente de que se concretize o acordo entre socialistas e a candidatura vinculada ao Podemos. Caso contrário, a cidade seguirá nas mãos do Partido Popular (PP), com Agustín Igrejas como prefeito.
Durante sua posse, Carmena fez um discurso com menção “aos que sofrem e aos que vivem com angústia” para que saibam que ela vai trabalhar para “melhorar sua situação". E definiu as pessoas concretas com dificuldades como a prioridade de sua gestão na capital.
"Queremos governar escutando, que nos chamem pelo primeiro nome. Temos que mudar os métodos de atuação. Sobram os discursos e os bastões de comando. Temos que agir", defendeu Carmena na presença de dirigentes do Podemos como Pablo Iglesiase Iñigo Errejón, e do líder do Equo Juan López de Uralde, formações que apoiaram sua candidatura.
O PP, pensando nas eleições gerais, reagiu ao histórico dia lamentando que não se permita que a lista mais votada – que é a sua, na maioria dos casos – governe. E acusou o PSOE de haver se radicalizado para pactuar com a extrema esquerda com o objetivo de retirar os populares das instituições públicas.
O PP terá 17 prefeitos de capitais de província, frente aos 43 eleitos nas eleições municipais anteriores. Antes, apenas 11 em toda a Espanha escapavam de seu controle. A partir de sábado, o PP governará em Málaga, Múrcia, Ourense, León, Salamanca, Cáceres, Badajoz, Granada, Jaén, Albacete, Almería, Cuenca, Teruel, Guadalajara, Logroño, Burgos e Santander.
Cinco dessas cidades foram conquistadas graças ao partido Ciudadanos: Guadalajara, Granada, Jaén, Almería e Burgos. Em Almería, estava previsto, até sábado, que o Ciudadanos ia apoiar o PSOE, mas sua abstenção deu a prefeitura ao PP, que reelegeu Luis Rogelio Rodríguez-Comendador, mesmo sem a maioria absoluta. A posição do Ciudadanos nessa cidade da Andaluzia foi a grande surpresa do dia.
O PSOE passa de governar em nove capitais para 16: Lugo, Valladolid, Segóvia, Toledo, Cidade Real, Córdoba, Sevilha, Huelva, Alicante, Castellón, Teruel, Lérida, Huesca, Soria, Palma de Mallorca e Las Palmas.
Todos eles governam com acordos entre dois ou três com as candidaturas vinculadas ao Podemos e a outros partidos de esquerda. No caso de Valladolid, o novo prefeito socialista, Óscar Puente, assumiu o poder em coalizão com a Esquerda Unida (IU). Os demais serão governos de minoria.
Em Palma de Mallorca o acordo com o MÈS consiste em alternar dois anos à frente da prefeitura para cada partido, mas, por enquanto, tomou posse o candidato socialista.
A novidade foram as cinco capitais espanholas nas quais assumiram prefeitos de candidaturas de esquerda graças à união de Podemos, Ciudadanos e PSOE durante a votação que realizada pelos partidos. São elas: Madri com Manuela Carmena, Barcelona com Ada Colau, Zaragoza com Pedro Santisteve, A Coruña com Xulio Ferreiro e Cádiz com José María González.
Nessa mudança de poder municipal se destaca também o avanço do Partido Nacionalista Basco (PNV) que, apenas por governar Bilbao, passa a controlar também a cidade de San Sebastián. Em Vitoria, no entanto, não se sabe o que vai acontecer. Gorka Urtaran, também do PNV, se juntou ao Partido Socialista de Euskadi – Euskadiko Ezkerra (PSE-EE) e ao EHBildu para evitar a reeleição de Javier Maroto, do PP. No entanto, os socialistas anunciaram que votarão em branco para facilitar que Maroto seja prefeito de Vitoria em resposta à ruptura de um acordo prévio por parte do PNV que impediu que o PSE-EE conseguisse a prefeitura da cidade de Andoain (na província de Guipúscoa, também no País Basco). Um vereador do PNV descumpriu o pacto realizado pelos chefes executivos dos dois partidos e não apoiou a candidata socialista, Maider Lainez, dando a vitória ao EHBildu.
A mudança no poder põe um fim à força política de prefeitos históricos do PP como Rita Barberá em Valência, Javier Leão de la Riva em Valladolid e Teófila Martínez em Cádiz, entre outros. Representa também a derrota de candidatos notórios do partido como Esperanza Aguirre em Madri.
Nas próximas semanas os presidentes das comunidades autônomas tomarão posse, o que também indicará uma reviravolta nesse poder territorial e um retrocesso do PP nas instituições públicas.
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