sexta-feira, 3 de abril de 2015

Um ano após a morte do menino Bernardo, julgamento segue sem data Até agora, o processo conta com 32 volumes e um total de 6,6 mil folhas. Réus devem ser interrogados ainda no primeiro semestre deste ano.

Jardim em homenagem a Bernardo em Três Passos, RS (Foto: Caetanno Freitas/G1)'Jardim do Be', colocado em frente à casa em que o menino vivia em Três Passos, faz parte das homenagens ao garoto (Foto: Caetanno Freitas/G1)
Um ano após a morte de Bernardo Boldrini, de 11 anos, ainda não há data para início do julgamento em Três Passos, cidade gaúcha onde o menino vivia com o pai e a madrasta. A previsão é que isso ocorra até o final de 2015, mas as audiências para ouvir testemunhas do processo ainda não terminaram. Quatro réus seguem presos por envolvimento no crime: o médico Leandro Boldrini, pai da criança, a madrasta Graciele Ugulini, a amiga dela, Edelvânia Wirganovicz, e o irmão Evandro Wirganovicz. O crime completa um ano neste sábado (4).
Cartaz em homenagem a Bernardo em Três Passos, RS (Foto: Caetanno Freitas/G1)Cartaz em homenagem a Bernardo em Três
Passos (Foto: Caetanno Freitas/G1)
Bernardo desapareceu no dia 4 de abril de 2014, data em que foi morto. Seu corpo só foi encontrado no dia 14 de abril. Segundo as investigações da Polícia Civil, o menino morreu em razão de uma superdosagem do sedativo midazolan e foi enterrado em uma cova, na área rural de Frederico Westphalen. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo.
Até agora, o processo conta com 32 volumes e um total de 6,6 mil páginas. Considerando as testemunhas de acusação e defesa, 52 pessoas foram ouvidas em 17 audiências de instrução. Ainda falta uma testemunha de defesa a ser ouvida em Roraima, no dia 11 de maio. Segundo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), que divulgou um balanço sobre o caso, o juiz Marcos Agostini pediu no dia 24 de março urgência na realização da precatória da Comarca de Boa Vista, de Roraima.
Encerrada esta fase, o próximo passo é marcar a data para interrogar os quatro réus (veja mais abaixo a acusação de cada um). Em seguida, as defesas apresentam seus argumentos. Ao final, o juiz terá quatro opções: sentença de pronúncia (os réus vão ser julgados em júri popular), sentença de impronúncia (o magistrado considera que não há prova da existência do fato ou indícios de autoria e o processo é arquivado), absolvição sumária (réus inocentados) e desclassificação (em discordância do juiz com a acusação, o caso acaba sendo julgado em vara criminal).
QUATRO RÉUS SEGUEM PRESOS
Leandro Boldrinihomicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica
Graciele Ugulinihomicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver
Edelvânia Wirganoviczhomicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver
Evandro Wirganoviczhomicídio simples e ocultação de cadáver
A promotora Silvia Jappe, responsável pelo caso, acredita que os réus serão ouvidos ainda no primeiro semestre deste ano. "É o que esperamos. Depois se abre prazo para defesa e o juiz decide. Se não houver recurso posterior, é possível que haja julgamento ainda neste ano. Se houver, fica mais difícil estimar um prazo", afirmou ao G1.
“Desde o inicio da instrução a atuação dos advogados foi nesse sentido de atrasar o andamento do processo. Foram muitas testemunhas arroladas e houve desistências”, disse a promotora, sobre a demora na última testemunha a ser ouvida.
Para o delegado Marion Volino, que participou da investigação, o trabalho da polícia foi encerrado e cumpriu seu papel. "Agora é aguardar o encerramento da fase de instrução e aguardar o júri", concluiu. "Foi um caso muito difícil, uma carga emocional muito forte. A cobrança, da mesma forma. Exigiu muito de todos nós", lembrou.
G1 entrou em contato com as defesas dos quatro réus. Rodrigo Grecellé Vares, um dos advogados de Leandro Boldrini, disse que não está concedendo entrevistas sobre o andamento do processo e que aguarda resposta do IGP sobre a perícia feita na receita usada para comprar o medicamento midazolam. Vanderlei Pompeo de Mattos, que defende Graciele Ugulini, não quis comentar o caso. Os advogados de Edelvânia e Evandro não atenderam aos telefonemas.
- Um vídeo divulgado em maio do ano passado mostra os últimos momentos de Bernardo. Ele aparece deixando a caminhonete da madrasta, Graciele Ugulini, e saindo com ela e com a assistente social Edelvânia Wirganovicz. Horas depois, as duas retornam sem Bernardo para o mesmo local.Relembre o caso
- Bernardo Boldrini foi visto vivo pela última vez no dia 4 de abril de 2014 por um policial rodoviário. No início da tarde, Graciele foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. A mulher trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
- O corpo de Bernardo foi encontrado no dia 14 de abril de 2014, enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen.
- Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo.  A denúncia do Ministério Público apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita. A defesa do pai nega.
 - Nesta terça-feira (31), um vídeo foi divulgado pela defesa de Edelvânia, em queela muda sua versão sobre o crime. Nas imagens, ela aparece ao lado do advogado e diz que a criança morreu por causa do excesso de medicamentos dados pela madrasta. Na época em que ocorreram as prisões, Edelvânia havia dito à polícia que a morte se deu por uma injeção letal e que, em seguida, ela e a amiga Graciele jogaram soda cáustica sobre o corpo. A mulher ainda diz que o irmão, Evandro Wirganovicz, é inocente. A defesa de Graciele não quis comentar a nova versão.

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O CASO
Carta de suicídio da mãe do menino Bernardo foi forjada, dizem peritos (Foto: Reprodução)Bernardo ao lado da mãe, que morreu em 2010
(Foto: Reprodução)
Como Bernardo morreu?
A Polícia Civil aponta que Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan e depois enterrado em uma cova rasa, na área rural de Frederico Westphalen. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo.

Com quem Bernardo morava?
Ele vivia com o pai, a madrasta e a bebê do casal, à época com cerca de um ano, em uma casa em Três Passos. A mãe de Bernardo, Odilaine, morreu em fevereiro de 2010. Recentemente, o  Ministério Público solicitou novos documentos sobre o caso de Odilaine. Em até 30 dias, o MP deve se manifestar a favor ou contra a abertura das investigações. O inquérito policial concluiu que ela se matou, mas uma perícia particular contratada pela família aponta a hipótese de homicídio.
Quem está preso?
O médico Leandro Boldrini, pai da criança, a madrasta Graciele Ugulini, a amiga dela Edelvânia Wirganovicz e o irmão Evandro Wirganovicz.
Quando ocorre o julgamento?
Ainda não há data marcada. Conforme o Tribunal de Justiça (TJ-RS), os quatro réus devem ser interrogados ainda no primeiro semestre deste ano. Depois disso, as defesas apresentam seus argumentos. A expectativa é que o julgamento aconteça até o fim de 2015.

Os réus respondem por quais crimes?
Leandro Boldrini vai responder por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Graciele e Edelvânia responderão por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Evandro Wirganovicz é acusado de homicídio simples e ocultação de cadáver.
Como o corpo foi encontrado?
Na noite do dia 14 de abril, o corpo do menino foi encontrado enterrado em uma cova em um matagal na cidade de Frederico Westphalen, no Norte do estado, a 80 km de onde o menino morava. Edelvania mostrou aos policiais onde o corpo da criança estava enterrado.
Como era a relação de Bernardo com o pai?
 No ano passado, vídeos gravados pelo próprio pai mostram discussões do menino com o casal. Em um deles, a criança está com uma faca na mão e é instigada por Leandro. "Vamos lá, machão", diz o médico. Há também relatos de vizinhos e amigos dão conta que o menino se dizia carente de atenção. Ele chegou a procurar a Justiça para relatar o caso.
No início de 2014, o juiz Fernando Vieira dos Santos, 34 anos, da Vara da Infância e Juventude de Três Passos, autorizou que o garoto continuasse morando com o pai, após o Ministério Público (MP) instaurar uma investigação contra o homem por negligência afetiva e abandono familiar.
 De acordo com o MP, desde novembro de 2013, o pai de Bernardo era investigado. Entretanto, jamais houve indícios de agressões físicas. Em janeiro, o garoto foi ouvido pelo órgão e chegou a pedir para morar com outra família.
O médico pediu uma segunda chance. Com a promessa de que buscaria reatar os laços familiares com o filho, ele convenceu a Justiça a autorizar uma nova experiência. Na época, a avó materna, que mora em Santa Maria, na Região Central do estado, chegou a se disponibilizar para assumir a guarda. Porém, conforme o MP, Bernardo também concordou em continuar na casa do pai e da madrasta.
O que ocorreu com a mãe de Bernardo? 
Odilaine Uglione foi encontrada morta em 2010, dentro da clínica do então marido, o médico Leandro Boldrini, em Três Passos. À época, a investigação da polícia concluiu que ela cometeu suicídio com um revólver. No último domingo (29), o Fantástico mostrou o resultado de uma perícia particular contratada pela família, que conclui que a suposta carta suicida da enfermeira teria sido forjada, escrita por outra pessoa (leia mais aqui).
Frente da casa dos Boldrini, jardim em homenagem a Bernardo em Três Passos, RS (Foto: Caetanno Freitas/G1)Frente da casa dos Boldrini virou memorial a Bernardo (Foto: Caetanno Freitas/G1)

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