domingo, 26 de abril de 2015

Corrupção: menos espetáculo, mais ressarcimento

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Iniciada em março de 2014 com a Operação Lava Jato, a novela da Petrobras teve esta semana um capítulo destoante do script da desesperança com a divulgação de seu balanço. Contabilizados os prejuízos com a política de contenção do preço da gasolina, de corrupção e investimentos mal planejados nas (tão necessárias) refinarias de Abreu e Lima e Comperj, a principal estatal brasileira parece sinalizar que o barco segue adiante.
Do ponto de vista da corrupção, a contabilização dos prejuízos e a expectativa futura de ressarcimento, via Justiça, aos cofres públicos, é uma boa notícia. Tira a corrupção do eterno e infindável campo do espetáculo – aonde o que interessa é atingir adversários políticos – e o coloca de certa forma em um terreno mais racional. Mais operável. Corrupção não é doença ou câncer ou cancro, mas um fato objetivo que acontece e é corrigível ou ao menos mitigado. Dinheiro que saiu e agora deve voltar.
No Brasil a cultura da anti-corrupção é, desde há muito tempo, centrada na moral. Grita-se, brada-se, acusa-se! Frequentemente homens brancos e engravatados avermelhando-se diante de câmeras de TV. O teatro da indignação, no mais das vezes, serve apenas para atingir o adversário político, sem uma intenção real de corrigir os rumos. Grupos de interesse se digladiam, cada qual a seu turno empunhando a bandeira dos bons costumes (alguém ainda acredita nisso?).
Ao apontar os prejuízos com a corrupção – em R$ 6 bilhões – o balanço da Petrobras tem o mérito de contabilizar o problema. De colocá-lo em um plano no qual o desvio pode ser trazido para a terra e de alguma forma enfrentado, remendado.
Talvez quem sabe agora as refinarias saiam do noticiário policial para o que de fato interessa: são investimentos estratégicos para o país. O Brasil extrai petróleo, mas importa sua gasolina. Este é um entrave sério, particularmente desde o aumento da frota de automóveis em circulação nos últimos anos, por conta de subsídios às indústrias automotivas e à facilidade de crédito nos anos Lula e Dilma I.
Esta é uma questão central de longo prazo para a qual eventuais problemas de corrupção não devem ser obstáculos ETERNOS, mas problemas circunstanciais a serem logo tirados do caminho. Menos espetáculo, mais ressarcimento.

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