Pode ter mudado a equipe negociadora, mas não a política do Governo grego perante seus parceiros do Eurogrupo (instância que reúne ministros de Finanças e outras autoridades da zona do euro) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim se depreende da entrevista concedida na noite de segunda-feira pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras ao canal privado de televisão Star, na qual descartou a ideia de convocação de eleições antecipadas se não obtiver um acordo com os credores, mas apontou a possibilidade de realizar um referendo “para que seja o povo que se pronuncie” a respeito. Embora pudesse ganhar com sobra, com maioria absoluta, segundo quase todas as pesquisas, Tsipras afirmou: “Qual o sentido de convocar eleições? Somos um governo eleito há três meses”.
O chefe do Governo e líder da coalizão Syriza reiterou sua confiança em chegar a um acordo com as instituições antes conhecidas como troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) antes da próxima reunião do Eurogrupo, em 11 de maio, uma possibilidade que também foi citada por seu vice-presidente, Yanis Dragasakis. O pacto é condição sine qua non para o desembolso da última parcela do resgate, 7,2 bilhões de euros (22,8 bilhões de reais), que injetariam liquidez nos minguados cofres gregos, especialmente pelo fato de que em maio o Estado terá de pagar uma nova parcela ao FMI.
A entrevista, que durou quase três horas e contou com a participação dos espectadores, deixou claro que Yanis Varoufakis “continua sendo um grande ativo do Governo grego”, apesar de sua aparente marginalização da equipe negociadora, de cuja chefia foi substituído pelo catedrático de economia Efclidis Tsakalotos, até agora o número 2 da pasta de Relações Exteriores e com amplo respaldo do Syriza, incluindo sua ala esquerda. Como fizera algumas horas antes, Tsipras não deu importância à reorganização e, sobretudo, apoiou Varoufakis diante das graves críticas dos parceiros europeus, afirmando que, se os incomodou, é porque “fala seu idioma melhor que eles”, se bem que – reconheceu – defenda com muita firmeza suas opiniões.Mas, se o acordo entra em contradição com o mandatorecebido nas urnas em 25 de janeiro, Tsipras afirmou que consultaria o povo mediante um referendo. A ideia de um referendo é um anátema em Bruxelas, e vale recordar que a proposta de uma consulta popular sobre a conveniência do segundo resgate custou o posto ao então primeiro-ministro grego, o socialista Yorgos Papandreu, no segundo semestre de 2011. “Não tenho direito de decidir pelo povo grego se as negociações chegarem a um ponto em que não correspondam ao mandato” saído das urnas, ressaltou Tsipras.
Tsipras não entrou em detalhes sobre as negociações em andamento, mas explicitou a existência de claras diferenças em relação a assuntos-chave para a Grécia, como a recuperação dos acordos coletivos, a elevação do salário mínimo até 751 euros ou o aumento do IVA nas ilhas – todas elas, linhas vermelhas para o Executivo do Syriza. Sobre os processos de privatização em curso, o chefe do Governo afirmou que serão estudados um a um, mas se mostrou aberto a seguir adiante com a parte do porto de Pireu e os 14 aeroportos regionais, em uma clara concessão às exigências do grupo de Bruxelas – a denominação atual, e técnica, da antiga troika.
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