sábado, 25 de abril de 2015

ANÁLISE-Petrobras precisa muito mais do que uma limpeza da corrupção

Por Jeb Blount
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A decisão da Petrobras de realizar uma enorme baixa contábil de 50,8 bilhões de reais para contabilizar ativos supervalorizados e custos relacionados à corrupção é apenas o início de uma reforma ampla e necessária para reavivar a conturbada estatal de petróleo brasileira.
Enquanto muitos estão focando nos 6,2 bilhões de reais, ou 12 por cento da baixa contábil, relacionados com valores desviados em um esquema de fixação de preços, suborno e propina --o maior de escândalo de corrupção da história do Brasil--, são os 44 bilhões de reais restantes que merecem maior atenção.
Essas baixas refletem decisões ruins de investimento, execução imperfeita, interferência política e a queda dos preços do petróleo, conforme a petroleira reconheceu em seus resultados auditados de 2014, publicados na quarta-feira.
"As baixas contábeis mostram que a Petrobras sofre mais com a incompetência do que com a corrupção", disse John Forman, ex-membro da diretoria da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A gestão controlada por políticos e as leis de petróleo nacionalistas, que deixam a Petrobras sobrecarregada, com uma dívida líquida que já soma 282,1 bilhões de reais, e não a corrupção, continuam a ser as maiores ameaças para a empresa e para a economia do Brasil, que depende muito da gigante estatal para investimentos.
Depois de anos de aumento dos gastos e atrasos de projetos, a Petrobras é a petroleira mais endividada do mundo, um fardo que limita a sua capacidade de realizar investimentos necessários para aumentar a produção de petróleo e gás.
A presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira que a petroleira mostrou que "superou todos seus problemas de gestão" ao divulgar nesta semana seu balanço anual que apontou prejuízo de 21,6 bilhões de reais em 2014.

"A empresa está muito alavancada", disse Frederico Mesnik, sócio da gestora de ativos Humaitá, em São Paulo. "Precisamos de grandes mudanças, começando com a substituição da equipe de gestão em favor de nomes não nomeados politicamente."

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