quinta-feira, 22 de março de 2018

Trickster: PCDF apura se contrato com GDF serviu para lavar dinheiro




Responsável por serviços de transporte escolar pode ter usado licitação para “limpar” recursos desviados em fraude na bilhetagem eletrônica



Rafaela Felicciano/Metrópoles


Carlos Carone


A Polícia Civil (PCDF) apura se as cooperativas e companhias de ônibus ligadas ao empresário Ronaldo Oliveira foram usadas para lavar dinheiro da organização criminosa envolvida com a fraude no Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans). As irregularidades são investigadas na Operação Trickster: o esquema pode ter desviado R$ 1 bilhão do Sistema de Bilhetagem Automática (SBA).
Oliveira, um dos 34 presos na ação, comanda cooperativas e empresas que juntas possuem sete contratos com o Governo do Distrito Federal (GDF) para o transporte escolar em diferentes regiões administrativas da capital. Somados, apenas quatro deles alcançam a cifra de R$ 36.051.890,36. Todos estão sob suspeita.
Os investigadores da Coordenação de Repressão a Crimes contra o Consumidor, Propriedade Imaterial e Fraudes (Corf) trabalham para identificar o caminho percorrido pelo dinheiro desviado com a prática criminosa e a forma como ele era “lavado”.
As primeiras suspeitas recaem sobre as licitações das quais Oliveira participou. As concorrências foram vencidas graças à apresentação de valores bem abaixo dos praticados pelo mercado. Na avaliação de investigadores, os contratos podem ter sido uma forma “discreta” de lavar o dinheiro, já que o principal objetivo do grupo criminoso não seria obter lucro com a prestação de serviços, e sim “limpar” os valores obtidos com o esquema criminoso.
Indiciamento e suspensãoOliveira foi indiciado por peculato eletrônico – por causa da fraude na bilhetagem –, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Centenas de documentos, pen-drives e computadores apreendidos durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão estão sob análise da Corf. Alguns dos principais objetivos dos policiais são identificar novas modalidades de fraude e reforçar a materialidade das irregularidades já descobertas.


No sábado, o Metrópoles revelou que as pessoas jurídicas ligadas a Oliveira já tinham contratos em vigor totalizando R$ 36 milhões. Três dias depois, o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) suspendeu outro certame, vencido pela Cooperbrás, também de Oliveira, mas com valores ainda mais robustos: R$ 60 milhões. A empresa faria o transporte escolar em São Sebastião.
A reportagem tentou entrar em contato com os representantes da Cooperbrás, mas ninguém atendeu as ligações.
Fraude em várias frentesA ação das empresas de Ronaldo Oliveira é apenas um dos braços investigados na Operação Trickster, a qual culminou na prisão de 34 pessoas envolvidas na fraude bilionária que lesou os cofres do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans).
De acordo com as investigações da Polícia Civil e do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), um mesmo cartão de vale-transporte chegou a ser utilizado 60 vezes, em apenas uma linha, em oito segundos.


O sistema do DFTrans tinha algumas inconsistências que possibilitaram as fraudes, as quais incluíam também o passe livre. O grupo, supostamente chefiado pelo auditor da Secretaria de Mobilidade Pedro Jorge Brasil, preso pela segunda vez, teria desviado mais de R$ 1 bilhão do Sistema de Bilhetagem Automática. Boa parte do dinheiro, acreditam os investigadores, foi aplicada no mercado imobiliário.
O esquema funcionava desde 2014, destacou a PCDF, quando o servidor estava lotado no DFTrans. A quadrilha descarregava os créditos de cartões de vale-transporte nos validadores de ônibus, de forma sequencial e em linhas distintas. Tudo era feito com empresas de fachada e trabalhadores fantasmas.

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