- 09/10/2017
Para presidente do TSE, financiamento restrito pode abrir caminho para laranjal nas campanhas
RIO — Presidente do TSE, Gilmar Mendes, afirma em entrevista ao GLOBO que o crime já atua na política, e que o financiamento restrito às campanhas eleitorais pode abrir caminho para um laranjal.
Qual o maior risco de interferência do crime nas próximas eleições?
Qual o maior risco de interferência do crime nas próximas eleições?
Nós acabamos com o sistema de financiamento
(empresarial) descolado do sistema eleitoral. O ideal era que tivéssemos
feito ajustes no sistema eleitoral, porque aí poderíamos adequar melhor
o financiamento. Certamente, teremos um número elevado de candidatos,
porque as coligações estão mantidas, e aí entra a questão do
financiamento. Eu temo muito pelo financiamento das eleições por
organizações as mais diversas, inclusive as criminosas. Já temos casos
de países em que o crime financia as eleições, como o México. No Rio,
temos o problema do tráfico, das milícias, que é notório. Para
colocarmos urnas nas favelas precisamos de blindados da Marinha.
Portanto, a liberdade do voto está fortemente ameaçada. Em São Paulo, já
se fala que o PCC elegeu vereadores na Câmara da capital. No Amazonas, a
calha do (rio) Solimões vem sendo utilizada pelos traficantes e se diz
que algumas prefeituras foram tomadas por eles. No Maranhão, nós
acompanhamos a situação de agiotas financiando as eleições, com dinheiro
que viria do PCC. Tudo isso é preocupante e não podemos querer que o
quadro da política no Brasil, que já não é exemplar, se torne ainda
pior.
Nesse cenário, a aprovação do fundo eleitoral público é boa ou ruim?
Eu torci pela aprovação do fundo, porque pelo
menos temos um elemento institucional. O problema é que esse fundo é
insuficiente para financiar as eleições, e continuamos dependendo das
doações privadas. E é nesse caso de pessoas físicas que temos quadro de
instabilidade. Das 730 mil doações feitas em 2016, em 300 mil pelo
menos, indicou a Receita, havia problemas, sobretudo de capacidade
financeira. É o que eu chamo de caça ao CPF, e isso pode alimentar o
laranjal. É aí que entra o crime organizado.
Hoje o crime já está mesmo na política?
Acho que sim. Eu diria que não podemos ser
ingênuos. A situação praticamente de domínio de certos territórios, como
ocorre no Rio de Janeiro, não permite um voto livre, uma campanha
livre, e, certamente, já há representantes de facções nos parlamentos
municipais e quiçá até alguma identidade no plano federal. Temos que
monitorar esse quadro, porque esse é o pior dos mundos. Temos que ter
cuidado com o desenvolvimento disso e, por este motivo, dei atenção aos
desdobramentos que tivemos no Rio e passei para as altas autoridades de
segurança. É óbvio que a liberdade do eleitor está comprometida.
Fonte:O Globo
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