No Mesmo Dia De Empréstimo Do Bradesco
- 25/10/2017
O filho de Gilmar Mendes comprou cotas da faculdade do pai por 12 milhões de reais.
Segundo o site Buzzfeed, o negócio foi fechado em 18 de agosto de 2017. No mesmo dia, o IDP, de Gilmar Mendes, recebeu um empréstimo de 26 milhões de reais do Bradesco.
O filho de Gilmar Mendes, prossegue a reportagem, é consultor legislativo do Senado e tem um salário de 30 mil reais.
Os documentos foram produzidos pelo IDP, registrados na Junta Comercial e obtidos pelo BuzzFeed News.
Até a véspera, o IDP tinha dois sócios. O mais ilustre era Gilmar Mendes. O outro era Paulo Gonet, atualmente secretário da cúpula da Procuradoria-Geral da República, na gestão de Raquel Dodge.
Os documentos mostram uma coincidência das datas. Aqui está o registro da Junta Comercial, com a assinatura dos três.
E aqui está o empréstimo revelado pelo BuzzFeed News.
Pelo acerto, Gonet vendeu suas cotas a Francisco Schertel Mendes por R$ 12 milhões. Gilmar Mendes tinha preferência de compra, mas renunciou a esse direito. O filho do ministro comprou então 43% do IDP.
Assim, é possível calcular que a faculdade fundada pelo ministro vale cerca de R$ 27,6 milhões, sendo R$ 12 milhões (43,44%) do filho Francisco e outros R$ 15,6 milhões (56,56%) em cotas de Gilmar Mendes.
No registro na Junta Comercial não há menção ao empréstimo do Bradesco ao IDP, que ocorreu no mesmo dia.
O EMPRÉSTIMO
A faculdade do ministro Gilmar Mendes, mesmo tendo que rolar prestações e hipotecar três vezes o mesmo imóvel, conseguiu do Bradesco uma taxa melhor do que 99,92% dos empréstimos que o banco negociou em agosto de 2017, na mesma modalidade.
Pelo acerto com o Bradesco, o IDP terá até 2032 para pagar o empréstimo, a uma taxa de juros anual de 11,35%. Essa operação aconteceu depois de, nos empréstimos anteriores, o IDP já ter dito que não conseguiria honrar parte das parcelas e conseguir reduções de juros. O mesmo imóvel do IDP foi oferecido e aceito pelo Bradesco para hipoteca três vezes.
Por meio da Lei de Acesso a Informação, o BuzzFeed News obteve no Banco Central (BC) a lista dos empréstimos do Bradesco enviada pela instituição naquele mesmo mês. O Banco Central retirou o nome dos contratantes e os valores, de forma a preservar o sigilo e as estratégias comerciais do Bradesco. Não discriminou, também, quais operações incluíam hipotecas — disse apenas que houve em 0,1% dos casos.
O arquivo do Banco Central mostra que, em agosto de 2017, o Bradesco fez 9.917 empréstimos na modalidade capital de giro, superior a 365 dias, de acordo com os dados enviados naquele mês.
Apenas sete tiveram juros menor ou igual ao do IDP.
Os dados compilados pelo Banco Central mostram que a menor taxa foi de 8,2%. A maior foi uma incrível taxa de juros de 119% ao ano. Os dados podem variar ao longo do tempo porque os bancos podem informar posteriormente contratos que tenham ocorrido num determinado mês.
O BC publica ainda em seu site uma média dos juros, também informada pelos bancos. Em agosto, a média dos juros cobrada pelo Bradesco variou entre 24% e 29%, mais que o dobro do oferecido ao IDP de Gilmar Mendes.
Procurado, o IDP disse que é uma instituição privada e que já se manifestou sobre os empréstimos do Bradesco.
“O IDP – Instituto Brasiliense de Direito Público é uma instituição privada. As informações públicas sobre a sociedade são as disponíveis em Junta Comercial.A questão sobre o citado empréstimo já foi tema da nota enviada em 27/9. Não há nada a acrescentar”.
Na nota anterior, afirmou que “os ‘benefícios’ que o jornalista sugere são meras renegociações decorrentes da redução dos juros praticados pelo mercado financeiro”.
O Bradesco disse que “não tece comentários sobre sua política de crédito”. Paulo Gonet respondeu por meio de nota: “Trata-se de um negócio particular, sobre o qual o subprocurador-geral não irá se manifestar”.
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