sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Após acusações de ex-braço direito, candidatura de Lula pode virar apenas ‘estratégia de defesa’



As acusações de corrupção contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT ganharam um novo capítulo na quarta-feira com o endosso de um nome forte do partido, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci.
Em depoimento ao juiz Sergio Moro, em que foi ouvido como réu em um processo criminal da Operação Lava Jato enquanto tenta fechar um acordo de delação premiada, Palocci mencionou presentes da Odebrecht a Lula, entre eles o sítio de Atibaia, além de R$ 300 milhões da empreiteira para o partido – acusações negadas pela legenda e seu líder.
Apesar do peso de Palocci nos governos petistas, os analistas políticos divergem sobre o impacto que seu depoimento terá sobre a disputa eleitoral de 2018.

Para alguns, acusações vindas de uma figura tão importante no partido dificultam ainda mais as condições de disputa de Lula e do PT. Já outros consideram que, devido ao acúmulo já grande de denúncias contra o ex-presidente e a legenda, os efeitos de novas acusações já não são relevantes.
Em uma coisa, porém, eles concordam: enquanto o Tribunal Regional Federal da 4ª Região não decide se confirma ou não a condenação de Lula por Sérgio Moro no caso do tríplex do Guarujá – o que poderia impedi-lo de concorrer à Presidência devido à lei da Ficha Limpa-, sua candidatura deve ser mantida, até porque interessa como estratégia de defesa sua e do partido, notam os analistas.


“Um bom motivo para manter a candidatura é a defesa da vida pública do ex-presidente contra uma narrativa de que existe um longo movimento entre as elites contra ele e o PT, que começa com o impeachment da presidente Dilma, segue com um governo que estaria desenvolvendo um desmanche do estado do bem estar social construído pelo partido e se encerra com a perseguição judicial”, observa Rafael Cortez, cientista político da consultoria Tendências.
“Em boa medida essa narrativa fica mais forte enquanto Lula sinaliza a condição de candidato, pois o capítulo final dessa perseguição é a proibição da candidatura do ex-presidente por meio da condenação judicial”, reforça.
Para Cortez, no entanto, Lula só teria condições de ganhar se disputar o segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSC-RJ), um candidato de rejeição ainda maior do que a do petista hoje.
O cientista político Ricardo Ismael, da PUC-RJ, tem leitura semelhante: “Acho que o PT não tem saída, porque o PT fez uma aposta em relação ao Lula. Ele vai manter a narrativa de que não há provas, é uma perseguição política e que isso acontece porque Lula melhorou a vida das pessoas. Mas é um discurso que provavelmente será insuficiente pra levá-lo à Presidência”, pontua Ismael.
“A campanha presidencial serve como blindagem ao próprio presidente Lula. Se ele abandonasse agora a candidatura, o que não vai fazer, porque Lula controla o PT, isso acabaria com a defesa do Lula. Ele (PT) vai perder a eleição se mantiver o Lula, mas sem Lula provavelmente também. Tirar o Lula agora geraria mais problemas”, acrescenta.
Efeitos minimizados
A análise dos cientistas políticos encontra eco na fala dos petistas. À BBC Brasil, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) minimizou o impacto do depoimento de Palocci e reforçou a candidatura de Lula.
“Não temos plano B. Não aceitaremos de maneira alguma a legitimidade de uma eleição que o Lula não participe”, afirmou, repetindo um discurso recorrente dentro do partido hoje.
Para desqualificar o depoimento de Palocci, Pimenta ressaltou que ele falou na condição de réu, o que o desobriga a dizer a verdade. Além disso, disse que a alongada prisão preventiva imposta ao ex-ministro é como “uma tortura” para “forçar” uma delação.
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Para Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, esse discurso não deve ser suficiente para convencer a opinião pública e o depoimento de Palocci deve complicar as situações política e jurídica de Lula e de seu partido.
“Lula e o PT vão tentar desqualificar a fala do ex-ministro, mas a relação entre eles era muito estreita. Palocci foi ministro de Lula, coordenador da campanha da Dilma e depois chefe da Casa Civil. Palocci fazia caminhada matinal com Lula”, diz.
“Como Lula vai responder na TV quando citarem esse depoimento? É difícil a resposta.”

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